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Por Yasmin Setubal — Rio de Janeiro

Figurinos pendurados na arara, maquiagem e perucas sobre a mesa, luz e cenário ajustados. Está tudo pronto para começar o ensaio fotográfico que acompanha esta reportagem. Já no camarim do estúdio, no Rio, Juliette Freire, vestida com um roupão branco estampado com seu nome nas costas, prende o cabelo num coque alto e inicia a gravação de um story para avisar aos 32 milhões de seguidores do Instagram que ficaria off-line por algumas horas. “Vou dar uma sumidinha aqui, bem rápido. Estou fazendo um trabalho muito legal, um negócio artístico. Depois "eu volto, combinado? Beijo na cara.”

O tom cômico ao embalar a fala nesse tal “negócio artístico” descortina a dicotomia entre a simplicidade de uma mulher humilde da periferia de Campina Grande, na Paraíba, e os excessos de uma estrela que chega de motorista particular no shooting, escoltada por um segurança pessoal e acompanhada por um produtor, um assessor e uma amiga dos tempos da faculdade de Direito.

Juliette — Foto: Marcus Sabah
Juliette — Foto: Marcus Sabah

Em uma hora e meia de entrevista, Juliette faz um balanço de sua vida dois anos após embolsar o cheque de R$ 1,5 milhão como campeã do “Big Brother Brasil 21” com 90,15% dos votos, mobilizando as redes sociais a seu favor como nunca visto antes no reality. Agora, dedica-se a conquistar reconhecimento e espaço na cena musical como cantora. Seu próximo single, “Sai da frente”, será lançado em todas as plataformas no dia 25 de maio, marcando o início de uma nova fase da carreira. “É um projeto de vida. Vou aparecer muito menos vulnerável "e mais firme do que no programa”, afirma.

É com espontaneidade também que a paraibana trata de assuntos mais sensíveis, como sexualidade, solidão, culpa católica e aborto. “Não tenho medo de falar o que penso, porque meu carisma vem disso, mas fico muito chateada quando me interpretam mal. Sei bem que nessa entrevista devo ter falado umas 50 merdas, mas tenho certeza de que saíram outras coisas que importam muito mais”, disse a cantora, ao fim do “expediente”.

A seguir, os melhores trechos.

O que muda com este novo projeto em comparação ao primeiro EP, produzido ainda durante sua participação no “BBB”?

O primeiro trabalho dizia muito sobre o meu período de vulnerabilidade, e até de certa infantilidade, depois do programa. Precisava de colo. Depois de tantas vivências, consegui retomar faces minhas que estavam perdidas. “Sai da frente” e as outras faixas do meu primeiro álbum, que vai ser lançado no segundo semestre, vão me representar como uma mulher mais forte, empoderada, sexy e dona de si. E ainda terão três ou quatro feats.

Tulipa Ruiz, capa da ELA recentemente, disse que o “algoritmo é o novo jabá”, no sentido de que o mercado não fala mais sobre música, mas sobre os seguidores. Você concorda?

Em parte. Existe um mercado que foca, sim, no engajamento nas redes, e outro que valoriza o posicionamento, a qualidade do artista. Vejo que números não são determinantes, mas podem mostrar algo que é bom. Infelizmente, tem uma galera que não é tão boa assim, não preza por qualidade, mas é ótimo que existam gravadoras e artistas que zelem por isso e são reconhecidos. Podem não pegar o primeiro lugar numa playlist, mas garantem seu espaço.

Juliette — Foto: Marcus Sabah
Juliette — Foto: Marcus Sabah

E o que você acha que faz mais barulho: sua música ou seu engajamento nas redes?

Hoje, sem dúvida, o meu engajamento. Mas espero que seja a música depois, ou os dois. Sei que vai demorar para as pessoas me entenderem como cantora, porque elas me conhecem como influenciadora. É uma parte da minha carreira que ainda está sendo construída. Quero que escutem minhas canções porque sou boa, não somente por eu ser querida.

Tem medo de sempre ser associada ao “BBB” ou de cair no esquecimento como outros vencedores?

Digo que não sou “ex-BBB”, sou “para sempre BBB”. Se eu tiver vergonha de ter participado de um reality, é porque tenho vergonha do que fui e do que sou, e não tenho. Também acho que não serei esquecida, porque a história que vivi dentro "da casa foi muito forte e real. Fiquei marcada.

Juliette — Foto: Marcus Sabah
Juliette — Foto: Marcus Sabah

Depois que ficou famosa, percebeu certa conveniência na aproximação de alguém?

Sim. Acho que qualquer relação tem base de interesse. Mas tenho uma sensibilidade muito aguçada para perceber quando alguém quer trocar conhecimento comigo, energia boa, e quando é oportunismo. Já me distanciei de pessoas famosas e anônimas por causa disso.

Houve momentos em que se sentiu sozinha?

Meus amigos vão ficar até com raiva de mim depois dessa, mas sim. A questão é que, por mais cercada de apoio que eu possa estar, no fim das contas seremos apenas eu e a minha consciência. Isso me bateu muito forte quando tive o diagnóstico do aneurisma (em agosto de 2021), porque ninguém podia estar no meu lugar e me ajudar a passar por aquilo.

Você descobriu que não era um aneurisma, mas uma formação atípica numa artéria cerebral. o quanto isso mudou a sua relação com a finitude?

Confesso que ainda está sendo estranho, porque me obrigou a refletir. Quando minha irmã morreu (Julienne tinha 17 anos e foi vítima de um AVC, em 2009), o efeito foi o contrário, tentei superar vivendo tudo intensamente porque tinha medo de morrer a qualquer momento. Sinto falta desse estado mais elétrico, aproveitava mais, mas estou retomando aos poucos com a ajuda da terapia, depois de trabalhar muito a minha culpa católica, que me causa timidez.

Falando em culpa, saiu uma matéria dizendo que você se penitencia por ter dinheiro. É verdade?

Não tenho um pingo de culpa por isso, gente. Acho que sou merecedora de chegar onde cheguei. O que quis dizer na matéria é que sentiria culpa em desperdiçar e banalizar meu dinheiro com algo muito caro, tipo uma bolsa de R$ 100 mil, enquanto um tio meu não tem uma casa para morar. Isso é consciência.

Juliette — Foto: Marcus Sabah
Juliette — Foto: Marcus Sabah

Você mora no rio com quem? Ajuda as pessoas de sua família financeiramente?

Moro com meus pais, meu irmão e meu produtor. E o dinheiro é revertido para ajudar todo mundo. Banco a educação dos meus sobrinhos, saúde, moradia dos meus irmãos e amigos. Ninguém “luxa”, mas todo mundo tem uma vida extremamente digna.

Você tem 33 anos. já Sente essa pressão da sociedade para ser mãe?

Mais da minha mãe do que da sociedade, mas não me incomoda. Vou adotar uma criança e tenho um plano: até os 35 anos, vou congelar meus óvulos, e até os 40, gerar. Se nada der certo com um cara, pego um amigo que acharia bem foda como pai e pronto. E eu lá tenho cara de quem vai ficar morrendo por homem?

Você teve um affair com um ex da Anitta? Costuma ficar com ex de amigas?

Quem não é ex da Anitta? Já devo ter ficado com vários, porque ela me apresentou a um monte depois que saí do reality e ainda apontou as habilidades de cada um. Se a amiga permitir e não tiver sentimento envolvido, fico sem problema.

Juliette — Foto: Marcus Sabah
Juliette — Foto: Marcus Sabah

Você nunca assumiu um namoro publicamente depois de ficar famosa. Por quê?

Porque não teve. Claro, nesse meio tempo já me apaixonei, me lasquei, fiquei sério... Mas só vou assumir algo quando eu estiver certa daquilo. E o povo inventa demais. Ando com o (surfista Gabriel) Medina para cima e para baixo e nunca peguei. L7NNON e Neymar, também não. É desgastante ter que ficar desmentindo o tempo todo. Então, quando o cara pelo menos é bonito, deixo falarem.

Sua casa era um ambiente acolhedor para falar sobre sexualidade?

Não. E não é até hoje. Meu pai não gosta do assunto e minha mãe tem vergonha. Se eu fico com mais de uma pessoa, ela reclama. Perdi minha virgindade aos 19 anos, muito depois da maioria das minhas amigas. Acho que foi por causa dessa culpa católica, o Cristianismo sempre foi meu freio em tudo. Ficava pedindo perdão a Deus porque não era casada... Desbloquear minha mente sobre isso foi um processo.

Você se diz uma mulher feminista. É a favor do aborto?

Não sou a favor da prática do aborto, mas da descriminalização. Acho que é uma decisão individual e de saúde pública. Não faria por questões religiosas, espirituais e emocionais. Uma amiga, durante a adolescência, abortou, e acompanhei a dor dela. Desde então, prometi que nunca passaria por isso.

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