Bruno Astuto
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Bruno Astuto
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Bruno Astuto


Hoje ela só queria um presente, só um.

Uma pessoa que esteja disponível para ouvir suas angústias e inseguranças, demonstrando uma grande emoção por você ainda confiar tanto nela.

Alguém que se esforce para encontrar um motivo para lhe dar razão, por mais que todas as evidências corram para a direção oposta. E, ao mesmo tempo, tenha toda a autoridade do mundo para lhe dizer no final: “Mas eu te avisei, não avisei?”

Uma pessoa que, pela diferença de gerações, não compreenda exatamente os seus problemas, mas, por causa da experiência, tenha a tranquilidade de dizer que eles vão passar, porque afinal todos se parecem e acabam se resolvendo.

Alguém que tenha toda a intimidade para, numa mesma conversa, julgar, consolar, estapear e abraçar você. Mas, faça chuva ou sol, jamais soltará sua mão e, em público, dirá que a culpa é sempre dos outros.

Uma pessoa que conheça o que você passou, nos mínimos detalhes, até quando não estava presente, porque seu coração sabe absolutamente tu-do. Você pode até tentar mentir para si, mas nunca conseguirá enganá-la.

Alguém que você chame de chata quando ela telefonar doze vezes por dia, por qualquer coisa, e que um dia também retribuirá a ofensa quando o jogo virar, e você passar a telefonar — só para ver se ela está respirando.

Uma pessoa que você tantas vezes considerou errada e que, pela exaustão da repetição, lhe plantou o senso do dever, da autoproteção, do certo e do engano —a tal da consciência, aquela voz interna que tantas vezes salvou você da roubada.

Essas qualidades são tão difíceis de se reunirem numa só criatura, que esse presente parece simplesmente impossível. Pois ele esteve ali, à sua mão, e às vezes você não deu valor — aquela culpa que carrega todo filho, por mais maravilhoso que tenha sido.

Todo Dia das Mães traz artigos sobre os desafios da maternidade, sobre como é difícil educar as crianças na vida moderna, sobre as culpas e os grilos que o posto traz. Nem todo mundo sabe o que é ser mãe, mas todo mundo sabe o que é ser filho e, em muitos casos, a dor saudosa de um dia ter sido um. Com o passar do tempo, a vida vai nos apresentando tantos outros papéis, que a gente acaba esquecendo como era essa sensação.

No entanto, você pode se tornar pai, mãe, avó, presidente da República, atriz com seis Oscars, que é batata: invariavelmente, um dia a conta se apresenta. É aquele em que ninguém será tão capaz de dizer aquilo que — e como —você precisa ouvir. Você vai tentar imaginar o que ela diria, e vai acabar se desesperando, sem conseguir lembrar nitidamente seu jeito de dizer e de mexer, afinal faz tanto tempo.

Mas, quando você menos esperar, ela vai arrumar um jeito de mandar a resposta, porque nenhum presente de filho conseguirá superar o maior presente de uma mãe.

A voz que fala lá dentro.

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