Tecnologia
PUBLICIDADE
Por — São Paulo

A lei que poderá banir o TikTok dos Estados Unidos, sancionada na quarta-feira pelo presidente Joe Biden, não retira imediatamente a rede social chinesa dos celulares de 170 milhões de americanos. Mas abre um novo capítulo no escrutínio do país contra a plataforma, além de aprofundar a guerra tecnológica com a China. Para especialistas, o próximo passo da disputa dos EUA contra o TikTok deve acontecer nos tribunais.

A nova legislação dá 270 dias, prorrogáveis por mais 90, para que a chinesa ByteDance, controladora do TikTok, venda sua fatia da plataforma a uma empresa americana. A preocupação dos legisladores seria a de que a valiosa base de dados do TikTok, com informações de cidadãos americanos, estivesse sendo acessada pelo governo chinês.

O round seguinte da batalha entre o governo americano e a rede social caminha para a Justiça. Em um vídeo publicado ontem, Shou Chew, CEO do TikTok, afirma que a Constituição americana “está do nosso lado” e que a empresa vai continuar a lutar para continuar nos EUA “nas Cortes”.

— Fiquem tranquilos, não vamos a lugar algum — afirmou Chew no vídeo.

Negócio complicado

Para Luca Belli, professor da FGV Direito Rio e coordenador do Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV, o banimento completo do TikTok dos Estados Unidos parece “altamente improvável”, assim como a chance de uma companhia americana comprar uma fatia da rede chinesa. Para o pesquisador, não “há uma opção fácil na mesa”:

— Na melhor das hipóteses, vamos ver uma batalha jurídica se desenrolar pelos próximos anos, passando por diferentes graus jurídicos. E se o TikTok estiver interessado em vender a fatia da ByteDance, o que não é o caso, pouquíssimas empresas teriam os recursos financeiros e as condições de manter a rede, o que é uma outra questão.

Além da resistência da própria ByteDance em vender sua parcela na rede social, a exigência americana terá de passar pela resistência do governo chinês, que precisaria aprovar o plano de desinvestimento. Pequim, em comunicado, já havia anunciado que tomaria “todas as medidas necessárias para salvaguardar de maneira resoluta seus direitos e interesses legítimos.”

Belli destaca que a decisão do Congresso aprofunda a disputa comercial entre EUA e China, que já acontece com medidas protecionistas em outras frentes da indústria de tecnologia, como no caso dos chips e semicondutores. Ele também lembra que ela acontece em um ano eleitoral e reforça um discurso anti-China que tem apelo para o eleitorado, tanto democrata como republicano.

Para passar a lei que pode proibir o TikTok, os parlamentares americanos incluíram o tema em um pacote amplo de ajuda a parceiros geopolíticos dos Estados Unidos, que inclui auxílio de US$ 95 bilhões para Ucrânia, Taiwan e Israel.

A legislação cita especificamente um aspecto do TikTok que é apontado como um de seus principais trunfos: um algoritmo altamente eficiente, alimentado por inteligência artificial (IA). Caso o governo americano consiga, de fato, superar a resistência da China e encontrar um comprador para o TikTok, ainda restará a dúvida de como será a rede social fora das mãos da ByteDance, lembra Christian Perrone, pesquisador do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS):

— Essa é a grande questão, porque o que está por trás do que torna o TikTok relevante é o algoritmo criado pela ByteDance. Uma possibilidade é a de que o dono do TikTok nos EUA não necessariamente seja o dono desse algoritmo. E aí existem as dúvidas de como ficaria a própria rede social com essa mudança.

Perrone concorda que o mais provável, daqui para a frente, seja uma disputa judicial em torno do caso. Do lado do TikTok, está o argumento de que o veto fere direitos fundamentais da democracia americana, como a liberdade de expressão e a liberdade econômica.

Do outro lado, pesa o argumento da defesa da segurança nacional, diante das várias controvérsias que envolvem a forma como a China lida com dados pessoais. Os parlamentares americanos citam ainda o poder de influência de Pequim nas empresas chinesas.

Proteção aos americanos

Para proibir o TikTok, os EUA aplicam justamente esse argumento de proteção dos americanos. Diferentemente de outras decisões de países com governos controversos que já baniram o TikTok — caso de Índia, Irã e Afeganistão — a abordagem americana é a de impor barreiras que, no limite, impeçam a operação da empresa com um controlador estrangeiro.

Forçar a venda do TikTok com a ameaça de bani-lo é uma estratégia que tem precedentes nos EUA. Em 2020, a chinesa Kunlun teve de vender o controle do Grindr, rede de relacionamentos voltada para o público LGBTQIAP+, depois de acusações de autoridades americanas de que dados sensíveis de cidadãos do país eram acessados da China.

A ByteDance, como faz desde o início das batalhas dos EUA contra o TikTok, ainda durante o governo Donald Trump, nega veementemente que compartilhe informações com Pequim ou que os dados de seus usuários estejam em risco.

Como fez em outras ocasiões, o CEO Shou Chew convocou o exército de tiktokkers a reagir à aprovação da lei, pedindo que os usuários compartilhassem histórias de como a plataforma tem impactos positivos sobre suas vidas. Segundo o executivo, além dos 170 milhões de usuários, a rede opera com sete milhões de pequenos negócios.

Grandes marcas

Para João Finamor, professor de marketing digital da ESPM, as incertezas em relação ao futuro da rede social já devem afetar o planejamento de grandes marcas que investem em anúncios e em influenciadores da plataforma:

— As marcas ficam em alerta para a estratégia com o TikTok, principalmente no mais longo prazo. Fica uma desconfiança em relação a ter essa ferramenta disponível e em qual é a certeza sobre as entregas (de publicidade) que serão feitas.

Em pesquisa divulgada no início do mês, quando os congressistas americanos já discutiam o banimento da rede, o TikTok divulgou um estudo sobre impacto econômico da plataforma, no qual estimava em US$ 14,7 bilhões os ganhos gerados pela rede para pequenas e médias empresas no ano passado.

Renato Opice Blum, especialista em direito digital e sócio do escritório Opice Blum e Bruno Advogados Associados, pondera que a decisão sobre banimento do TikTok pelos EUA deveria balancear o anseio pela segurança de dados com o impacto econômico:

— Existe uma economia criada com essas plataformas. É um risco que precisa ser pesado.

Mais recente Próxima Meta dobra lucro, mas ações despencam 11% no after market após divulgação de balanços
Mais do Globo

Lucinha é denunciada por fazer parte da milícia de Zinho, na Zona Oeste do Rio

Junior da Lucinha, filho de deputada acusada de integrar grupo criminoso, participa de evento com Lula em área de milícia

Os dois ex-executivos, Anna Saicali e Miguel Gutierrez, estão no exterior. Anna entregará passaporte à PF, enquanto Miguel terá que se apresentar a cada 15 dias às autoridades policiais da Espanha

Americanas: Veja os próximos passos para os principais suspeitos da fraude

Miriam Todd contou seus segredos em um programa de TV: manter-se ativa é um deles

Com 100 anos, mulher que trabalha seis dias por semana revela seu segredo de longevidade: a alimentação

Piloto britânico deu a vitória para a Mercedes depois de 19 meses; Oscar Piastri e Carlos Sainz completaram o pódio.

Fórmula 1: George Russell vence GP da Áustria após batida de Verstappen no fim

Agora, Faustino Oro quer se tornar o grande mestre mais novo; ele tem um ano e meio para bater recorde

Argentino de dez anos se torna o mestre internacional mais jovem da história do xadrez

Aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para o tratamento de diabetes tipo 2, o medicamento é comumente utilizado para a perda de peso

Queda de tufos de cabelo e diarreia que duram dias: usuários relatam novos efeitos colaterais do Ozempic

Filha de Silvio Santos provoca burburinho ao dar 'like' em publicação envolvendo nome da mais nova apresentadora contratada pela TV Globo

Patrícia Abravanel curte post e reforça rumores sobre 'rixa' entre Eliana e Virgínia Fonseca; entenda

População vê responsabilidade do poder público em mortes e destruição causadas pelas cheias, indica pesquisa Datafolha

Para 75% dos gaúchos, tragédia das enchentes poderia ter sido evitada

Hungria assumirá a presidência semestral da União Europeia esta semana

Orbán anuncia que pretende formar novo grupo parlamentar europeu com partido austríaco de extrema-direita