Rogério Furquim Werneck
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Rogério Furquim Werneck
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Rogério Furquim Werneck


Sobram boas razões para o país comemorar os 30 anos do Plano Real, o programa de estabilização macroeconômica que, em 1994, logrou pôr fim a um regime de alta inflação que durara nada menos que 15 anos.

É bem sabido que as ideias inovadoras que embasaram o Plano Real foram desenvolvidas, em grande medida, no Departamento de Economia da PUC-Rio, nos anos 1980.

O desenvolvimento dessas ideias, fadado a ter impacto econômico e social de magnitude jamais igualada por qualquer outra linha de pesquisa universitária no país, será agora rememorado por seus principais protagonistas, em evento na PUC-Rio, no dia 18 de abril. Da mesa redonda, participarão André Lara Resende, Edmar Bacha, Francisco Lopes, Gustavo Franco, Persio Arida, Pedro Malan e Winston Fritsch.

Há muito a rememorar. Agora, com o benefício do olhar mais sereno e perceptivo propiciado pela visão retrospectiva, com distanciamento histórico adequado. O Real foi implementado há 30 anos. Mas a efervescência de ideias que viriam a embasar o Plano, na PUC-Rio, teve início há mais de 40 anos.

Como um Departamento que mal começara a se reestruturar, em 1977, para se tornar o reputado centro de pós-graduação e pesquisa que viria a ser, conseguiu compor, em tão pouco tempo, a massa crítica de pesquisadores talentosos e bem formados que, em fértil e intensa colaboração, viria a possibilitar tamanho avanço no entendimento do que precisava ser feito no combate à alta inflação?

Os integrantes do grupo eram egressos especialmente destacados das levas iniciais de alunos de pós-graduação em Economia brasileiros que conseguiram ter acesso a programas de doutorado de primeira linha no exterior. André e Persio, no MIT. Edmar, em Yale. Francisco e Gustavo, em Harvard. Pedro, em Berkeley. E Winston, em Cambridge.

Estavam bem equipados para o desafio com que viriam a lidar. Tinham plena convicção de que, para enfrentar a complexidade da estabilização macroeconômica naquelas condições tão adversas, teriam de deixar de lado enfoques convencionais e pensar “fora da caixa”.

Foi surpreendente a rapidez com que, nesse esforço coletivo de repensar o combate à alta inflação, ganharam corpo ideias inovadoras fundamentais para a concepção do Plano Real. Como exatamente isso se deu é uma questão central a ser devidamente rememorada na mesa redonda do dia 18.

Merece atenção especial o delicado equilíbrio que se estabeleceu dentro desse grupo. Sem deixar de preservar saudável competição interna, inerente a um clima de efervescência intelectual, o grupo mostrou-se capaz de manter um jogo estritamente cooperativo, fundado em respeito mútuo, que se revelou crucial para o sucesso do esforço de desenvolver uma proposta de combate efetivo à alta inflação.

Esse jogo cooperativo viria a ter enorme importância mais tarde, a partir de meados de maio de 1993, quando Fernando Henrique Cardoso foi nomeado ministro da Fazenda pelo presidente Itamar Franco, e o grupo começou a se transferir para Brasília para constituir o dream team que, em poucos meses viria a implementar o Plano Real.

Ainda não havia um plano consensual acabado, pronto para ser implementado. Muitas pontas soltas ainda teriam de ser equacionadas. No complexo e urgente esforço de aprimoramento da concepção do plano, FHC soube perceber a importância de evitar intervenções indevidas nas discussões que ainda se faziam necessárias. Na depuração desimpedida de ideias, já com o grupo instalado no governo, preservou-se, por meses, um ambiente de discussão não hierarquizado, mais típico do mundo acadêmico do que dos corredores do poder de Brasília.

Em seu livro A arte da política, FHC pondera, com a verve de sempre, que o esforço de estabilização macroeconômica que lhe coube liderar com tanto sucesso foi “uma aventura levada adiante por um pequeno grupo de crentes”. Em larga medida, o que guiava essa gente eram convicções forjadas na PUC-Rio, em intenso esforço de reflexão e pesquisa sobre a melhor forma de dar combate ao flagelo da alta inflação.

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