Economia

Presidente do BID pode ser investigado por relação 'íntima' com funcionária e uso indevido de recursos, diz agência

Mauricio Claver-Carone foi indicado para o cargo por Donald Trump. Reunião nesta semana deve decidir se será pedido seu afastamento
Diretores do BID se reúnem nesta quinta para decudir sobre investigação Foto: Reuters
Diretores do BID se reúnem nesta quinta para decudir sobre investigação Foto: Reuters

CIDADE DO MÉXICO E WASHINGTON — O presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Mauricio Claver-Carone, pode ser investigado por ter relações íntimas com uma funcionária da instituição e por desvio de recursos, informou a Reuters nesta quinta-feira. Segundo a agência, as acusações foram feitas a partir de um e-mail anônimo.

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A Reuters confrmou a existência do e-mail com três fontes a par da situação. Uma delas disse que os diretores debateram a possibilidade de contratar uma empresa independente para investigá-lo e de pedir a ele que se afastasse temporariamente do BID.

Outras duas fontes confirmaram que os 14 diretores do banco, seu conselheiro geral e seu vice-secretário discutiram a questão em uma reunião virtual de duas horas e meia na terça-feira.

Os diretores devem voltar a se reunir nesta quinta-feira para pedir ao conselho de governadores, a maioria dos quais são ministros das Finanças dos países membros, que lhes permita iniciar uma investigação.

Cargo no governo Trump

Claver-Carone é um ex-funcionário da Casa Branca e foi indicado para o cargo pelo ex-presidente Donald Trump. Na época, houve forte oposição de parlamentares do Partido Democrata à sua indicação.

O e-mail com as acusações contra ele foi enviado ao Conselho de Administração e ao diretor de Ética do banco há uma semana. De acordo com a denúncia, Claver-Carone manteria um relacionamento com uma estrategista sênior do BID que se reporta diretamente a ele.

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O código de ética do BID em seu site afirma que funcionários "não podem participar de qualquer decisão relacionada ao emprego de alguém com quem tenha um relacionamento íntimo".

As acusações surgiram poucas semanas após a reunião anual do banco e no momento em que Claver-Carone está tentando promover um aumento de capital para o BID Invest, braço do setor privado do banco.

O BID é um banco de fomento. Embora muito menor que o Fundo Monetário Internacional ou o Banco Mundial, é um ator importante na América Latina. Foi responsável por US$ 23,4 bilhões em financiamentos e outros compromissos financeiros para a região em 2021, segundo dados do banco.

Levantar capital para a instituição exigiria o apoio dos Estados Unidos, o maior acionista do banco, e de seus outros membros em um momento em que os recursos estão apertados devido à pandemia, à guerra na Ucrânia e aos crescentes choques climáticos.

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Claver-Carone, um cubano linha-dura, enfrentou uma forte reação antes de sua eleição à presidência do BID em 2020 por alguns estados membros, incluindo Argentina e México, que se irritaram por sua candidatura ter quebrado a tradição do banco, desde 1959, de ter um presidente procedente de um país latino-americano.

Na época, Claver-Carone reagiu dizendo que tinha um apoio "esmagador", citando 15 países.  Antes de ir para o BID, em 2020, ele serviu como diretor sênior de assuntos do Hemisfério Ocidental no Conselho de Segurança Nacional no governo Trump.

A eleição de Claver-Carone encerrou 60 anos de um acordo tácito que preservava o cargo para um latino-americano e trouxe duas consequências importantes para o Brasil : a consolidação de seu alinhamento automático com os Estados Unidos de Donald Trump e, em contrapartida, a renúncia a qualquer tipo de liderança em espaços de governança regional.

Em relação ao ocorrido, Claver-Carone, procurado,  não respondeu a repetidos e-mails e ligações. O BID também não fez comentários. O Departamento do Tesouro dos EUA também se recusou a comentar a situação.