A incorporação da Soma pela Arezzo deverá estar concluída em 2025 e o objetivo é consolidar a maior plataforma de marcas, de calçados e vestuário, da América Latina, afirmou Alexandre Birman, escolhido CEO da nova empresa.
O nome da nova companhia será definido nos próximos quatro meses. Birman afirmou que há alinhamento entre as marcas, e todos os sócios foram consultados para o negócio.
- Fusão de Arezzo e Soma: O que esperar da nova gigante da moda brasileira?
- Desigualdade: Salários perdem espaço na economia e caem para menos de 40% do PIB, menor nível em 19 anos
— Queremos a consolidação da maior plataforma de marcas da América Latina, ganho de sinergia e agregação de valor no longo prazo. Não tem canibalização de portfólio — disse Birman durante apresentação a investidores.
Juntos, a família Birman e a Soma deterão 38% do capital da empresa: a família Birman terá 22% da nova empresa, e os controladores da Soma deterão 16%. O restante das ações está diluída entre outros acionistas e mercado.
A nova empresa nasce com valor de mercado de R$ 13 bilhões, atrás apenas da Renner, com o maior valor de mercado da B3, de R$ 15 bilhões, segundo dados levantados por Einar Rivero, da consultoria Elos Ayta.
Soma e Arezzo se juntam:
- Análise: entenda o movimento que impacta toda moda do Brasil
- Veja as grifes: fusão cria gigante da moda com 34 marcas
- Arezzo e Soma: O que esperar do novo conglomerado da moda brasileira?
Roberto Jatahy disse que o sonho é ser o maior da América latina, mas o 'sonho grande' é ser global. Ele afirmou que todos os sócios 'querem crescer'.
— O Brasil tem dificuldade de crescer. O sonho grande é ser global e aumentar o nosso mercado — afirmou Jatahy, que afirmou que sem as preocupações com as áreas de Relações com Investidores e Governança, que tinha na Soma, poderá potencializar a área de roupas femininas.
— Pensamos muito em América Latina para seguir na trajetória de crescimento — disse Jatahy, que não descartou a possibilidade de novas fusões e aquisições em vestuário feminino.
![Soma e Arezzo se unem — Foto: Editoria de Arte](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/YMMOWmkc3OV2ZG6YrBm9FkmJJpc=/0x0:648x734/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/l/s/fhmjTOQ5qA7YocJmAqQg/soma-arezzo.jpg)
Birman lembrou que que marcas como Farm, Alexandre Birman e Schutz já são internacionalizadas. Mas os planos são avançar. Ele afirmou que a Arezzo já comercializa produtos nos Estados Unidos, mas outras marcas devem avançar ao exterior.
O presidente Executivo do Conselho de Administração da XP, Guilherme Benchimol, que estava presente à apresentação, disse que será um dos membros independentes do Conselho de Administração da nova empresa. A XP assessorou as companhias na transação.
Birman disse que a nova companhia resultante entre Arezzo e o Grupo Soma será uma nova empresa, com um novo modelo de negócio. A Arezzo&Co terá 54% de participação e o Grupo Soma, 46%.
A nova empresa será formada por quatro áreas; calçados e acessórios, vestuário feminino (que será comandada por Roberto Jatahy, da Soma), vestuário masculino e pela Hering, que será transformada numa unidade independente e tocada por Thiago Hering, da família fundadora.
O segmento de calçados e acessórios, considerando as marcas de Arezzo e Soma, movimentaram até o terceiro trimestre de 2023 R$ 4,3 bilhões, com 817 lojas. Terá à frente a executiva Luciana Wodzik. Já vestuário feminino girou R$ 3,7 bilhões com 287 lojas.
Arezzo e Soma brigaram pela Hering no passado, mas a Soma acabou levando a melhor em 2021. Agora, a marca catarineses será um pilar independente da nova empresa. Jatahy disse que a marca Hering era um projeto de longo prazo, e que a modernização das instalações industriais atrasaram com a pandemia.
— A estrutura industrial pós-pandemia atrasou. O trabalho de tecelagem da Henrig é um diferencial competitivo. Temos muito o que aprender com uma empresa de 140 anos — disse Jatahy.
Birman afirmou que será desenvolvida uma linha de calçados com a marca Hering.
A Hering tornou-se uma unidade independente classificada como vestuário democrático, movimentando R$ 2,4 bilhões em 749 lojas.
E o segmento de vestuário masculino, que girou R$ 1,6 bilhão com 217 lojas no período, será dirigido por Rony Meisler.
Jatahy afirmou que foram mais de três anos de conversa até que o negócio de juntar as operações amadurecesse. Ele afirmou que as culturas de cada empresa serão preservadas. Os acionistas não poderão vender ou transferir suas ações nos próximos dez anos.
Este ano, disseram Birman e Jatahy, o objetivo será estruturar as operações, mas as sinergias, inclusive em receita, vão começar em 2025. Eles afirmaram que não há receio de que o negócio não seja aprovado pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) órgão que regula concorrência no Brasil. Trata-se de um mercado que movimenta cerca de R$ 200 bilhões ao ano.
- 'Se sentiam obrigados': Diretores e membros do conselho da Tesla usaram drogas ilegais com Musk, diz jornal
As receitas combinadas das duas empresas somam R$ 11,9 bilhões, com R$ 753 milhões lucro liquido. São 559 lojas próprias, 1.530 franquias e 21,5 mil funcionários. Nas principais redes sociais, as marcas das duas empresas somam 32 milhões de seguidores das 34 marcas combinadas das duas companhias. Terão presença em 21 mil lojas multimarcas em todo o país.
Os executivos não falaram de números, mas apontaram como principais sinergias a integração da cadeia de fornecimento, além da utilização da expertise da Arezzo para expandir a categoria de calçados. Também serão ampliadas as franquias e o parque industrial da Hering será otimizado, disseram os representantes das duas empresas.
Relatório de bancos apontaram que cálculos iniciais indicariam sinergias financeiras de R$ 4,5 bilhões, o que o mercado vem considerado um valor superstimado. Birman e Jatahy disseram apenas que são “altos valores” e que não teria como o mercado avaliar números como exagerados se não havia ocorrido um anúncio oficial do montante.
Birman disse que para o consumidor a experiência de comprar em diferentes lojas vai continuar. Ele afirmou que não existem planos de reduzir lojas em shoppings ou concentrar operações de diferentes marcas numa loja única. Também não há planos de desinvestimento em marcas, ao contrário: a nova empresa quer crescer ainda mais.
— A experiência de loja é individual, por marca. Não passa pela nossa reorganização fechar marcas. Elas são independentes. Vamos buscar sinergia em estocagem, por exemplo. Por trás das cenas, tem muito a buscar em sinergia — afirmou.
Há dois anos, uma consultoria internacional — a Bain Company, foi contratada para levantar as principais sinergias entre as marcas. O foco da consultoria foi no 'que era grande', mas há muito o que fazer. Uma redução de custos já está mapeada, afirmou.
De acordo com relatório do banco BTG, a fusão criará uma empresa com lucro de aproximadamente R$ 750 milhões (em 2023).Trata-se de um negócio complexo que cria um player gigante com múltiplas marcas (e diferentes culturas) nos segmentos de vestuário/calçados.
"Sem contar os riscos de execução no processo de integração, o negócio pode permitir a captura de sinergias em distribuição, desenvolvimento de produto, operações de franquia e produção", diz o relatório do BTG.