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Por — Rio

Espremedor de creme dental, spray para acoplar num limão, sabonete fracionado para uma única lavagem das mãos. Estes não são objetos indispensáveis à rotina, mas são recorrentes em vídeos que virraram uma febre nas redes sociais, mostrando ou testando itens achados em lojas virtuais de origem asiática a preços acessíveis.

Desde que começaram a operar no Brasil, marketplaces como Daiso, Shein, Shopee e AliExpress têm sido uma fonte do crescente consumo de utilidades domésticas, com inovações percebidas pelos consumidores e que muitas vezes dão a sensação imediata no consumidor de que ele precisa ter aquilo.

— São, basicamente, as novas lojas de R$ 1,99 — avalia Caio Ferrari, professor do Departamento de Análise Econômica da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

No entanto, ele ressalta que a variedade de produtos é maior e há itens bem mais caros nas asiáticas.

— Existe um traço cultural nesse tipo de produto inovador para casa. Grande parte da expansão inicial das indústrias no Japão e na China foi atrelada a produtos simples e de custo baixo, com cara de ‘bugiganga’. E continua sendo fonte importante da produção asiática, mesmo hoje em dia a Ásia concorrendo nos setores de maior intensidade tecnológica, como celular, carro e computador.

No Brasil desde 2012, a Daiso propõe ao mercado "uma nova forma de enxergar o dia a dia". Com 62 lojas e 130 "stores in stores" — como um setor dentro de um mercado, por exemplo —, a rede está ainda distante de ter por aqui a mesma relevância consolidada no Japão, onde tem mais de 4 mil pontos de venda.

Mas a pretensão é de ser encontrada em todo lugar, como as lojas de R$ 1,99, e isso já é possível com a venda on-line.

Como o negócio funciona por aqui? Os empresários brasileiros escolhem, entre a gama de itens produzidos no Japão, o que importar. Segundo Aline Reis, supervisora de Marketing da rede, a demanda dos públicos dos dois países muitas vezes converge, devido à globalização mundial. Mas também há sempre uma preocupação de trazer o que os brasileiros ainda nem sabem que existe.

Spray para limão (Shein). A proposta é facilitar a temperagem de saladas, com um borrifador fixado diretamente na fruta. — Foto: Reprodução
Spray para limão (Shein). A proposta é facilitar a temperagem de saladas, com um borrifador fixado diretamente na fruta. — Foto: Reprodução

Além das lojas físicas, a Daiso conta com seu e-commerce, com atendimento nacional, para dar conta da demanda que aumentou, junto aos vídeos virais de utilidades para a casa que começaram a ganhar popularidade na pandemia.

— Através de tecnologia japonesa em produtos divertidos, a gente consegue transformar o dia a dia do cliente, que tem afazeres domésticos, em algo mais leve — conta Aline Reis.

Ela continua:

— A partir de 2020, com as pessoas em casa, vimos um crescimento de vídeos com essas dicas. E o engraçado é que alguns produtos mostrados a gente nem sabia que dava para usar de tal forma. Ou os clientes reinventavam nossos produtos. Como o rolinho de tirar pelo que foi usado para pintar parede. A criatividade do cliente brasileiro vai além do comum.

Impacto das redes nas vendas

De acordo com ela, a demanda por produtos que aparecem nesses vídeos aumenta em até uma semana. E as lojas precisam reforçar estoques para aproveitar a onda.

Miniliquidificador portátil (Shopee). Com entrada para cabo USB, a proposta do produto é facilitar a preparação de uma dose de bebida em qualquer lugar. Um dos usos mais comum é para fazer shakes proteicos em academias ou no trabalho. — Foto: Reprodução
Miniliquidificador portátil (Shopee). Com entrada para cabo USB, a proposta do produto é facilitar a preparação de uma dose de bebida em qualquer lugar. Um dos usos mais comum é para fazer shakes proteicos em academias ou no trabalho. — Foto: Reprodução

A corrente parece ter vindo pra ficar. Na Shopee, o crescimento de vendas na categoria “Casa e Construção” foi de 72% apenas em 2023, e categoria ficou no top 5 entre 30 do marketplace.

A subcategoria “Utensílios de cozinha” registrou aumento de 180%. Apesar de ter muitos vendedores brasileiros, para os especialistas em varejo, o DNA asiático da empresa atrai quem está interessado em anunciar ou comprar novidades.

— O consumidor conecta a Shopee com o lugar das novidades. A exemplo disso, a nossa hashtag #acheinashopee tem mais de 1 bilhão de visualizações no TikTok — relaciona Felipe Lima, responsável por Desenvolvimento de Negócios da Shopee.

Mas ele reforça que os vendedores brasileiros são um ponto positivo para o negócio:

— Das transações feitas, 90% são de vendedores brasileiros. Aumenta sua confiança e disposição em comprar esses itens conosco.

Vídeos criam novas necessidades

Os conteúdos sobre “achadinhos” são incentivados pelas empresas. A Roda Da Shô, no Twitter, por exemplo, é um grupo restrito, com as pessoas mais engajadas, no qual a Shopee dá cupons exclusivos.

— Os usuários têm orgulho em achar produtos muito únicos e compartilhar com os demais. Essa rede troca desconto, dica, ajuda. Como marca, nós participamos desses assuntos e estimulamos que os usuários se conectem — diz Lima.

Além disso, a corrente é alimentada por afiliados e por influenciadores digitais profissionais, que ganham comissões e buscam engajamento com o sucesso do formato de vídeo.

O papel de mediação que eles desempenham é importante, aponta Carla Barros, professora de Antropologia do Consumo da Universidade Federal Fluminense (UFF). Em meio à vida corrida, eles fazem a curadoria para seus seguidores do que vale a pena adquirir.

E como resposta às divulgações, é comum achar a frase: “Eu não sabia que precisava disso até ver este vídeo”. Barros explica o fenômeno:

— Quase qualquer coisa além de alimentos, a gente não precisa. São necessidades que a sociedade do consumo cria. Cada coisa que você faz é dividida em milhares e, para cada uma, há um equipamento auxiliar. Quantas coisas ainda vão ser criadas que a gente não sabe que precisa? — provoca.

Cuidado com o impulso

Esses itens, segundo ela, também colaboram para uma estetização da vida cotidiana. Roberto Kanter, professor de MBAs da Fundação Getúlio Vargas (FGV), acrescenta que, com produtos que têm algo de engraçado, um design inovador ou diferente, essas lojas dão vazão a uma necessidade de autoindulgência:

— Atende o consumo iminente que tem um que de ‘eu mereço’. Sem dúvida, as pessoas jogam uma certa carência delas nos produtos. A gente não explica consumo por uma razão só.

Ele chama atenção para a necessidade de avaliar bem antes de comprar um desses itens. Muitas vezes os utensílios baratinhos são de plástico, quase descartáveis, ou quebram facilmente, aponta.

Alguns vídeos postados na internet mostram ainda que eles podem nem facilitar a vida de quem usa. Isso porque exigem mais tempo para a realização de uma tarefa simples, exigem uma limpeza trabalhosa após o uso ou não cumprem bem sua proposta.

Por isso, pesquisar matérias responsáveis sobre os utensílios, que mostrem como eles são usados, é fundamental para não jogar dinheiro fora em compras por impulso. Vale lembrar ainda que comprar o que não é necessário nunca é economizar.

— Mesmo que os produtos sejam baratos, muitas compras com frequência podem colocar o orçamento em dificuldade — lembra Ferrari, da Uerj.

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