O estádio pode ter nome de medicamento ou de chocolate, a casa de show pode ganhar o acréscimo de uma petroleira ou de um plano de saúde. Consolidado no exterior, o chamado naming rights — quando uma empresa adquire o direito de usar sua marca no nome de uma arena ou teatro, por exemplo — vem ganhando fôlego no Brasil.
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Estimativas do setor indicam que esse mercado já movimenta R$ 200 milhões por ano, com contratos que podem chegar a duas décadas e passar de R$ 1 bilhão no período.
Em dezembro, o estádio do Morumbi, que pertence ao São Paulo Futebol Clube, ganhou patrocínio da marca de chocolate Bis, da Mondelez, e foi rebatizado de MorumBIS em contrato estimado em R$ 75 milhões por três anos, segundo fontes. Na Bahia, a Arena Fonte Nova selou acordo de R$ 52 milhões para se chamar Casa de Apostas em um projeto de quatro anos.
Estádio Nilton Santos
No Estádio Nilton Santos, também chamado de Engenhão, o Botafogo afirma ter conversas em andamento com potenciais patrocinadores de naming rights. Somente em 2023, o espaço recebeu 1,3 milhão de pessoas para assistir a jogos do Botafogo e shows de artistas como Taylor Swift, Coldplay, Roger Walters e The Weeknd, gerando R$ 20 milhões apenas com apresentações musicais. Para 2024, a meta é receber mais eventos.
![Estádio Nilton Santos. Somente em 2023, o espaço recebeu 1,3 milhão de pessoas para assistir a jogos do Botafogo e shows de artistas — Foto: Reprodução](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/u7ENlpcfGez2s5VMlF2cp70pm00=/0x0:680x510/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/m/F/QImS6yQAq50olA7sjd1w/nilton-santos.jpg)
— O naming rights é uma ferramenta adicional de marketing das marcas. O objetivo é aumentar a exposição com experiências positivas entre consumidores e fazer relacionamento com os clientes. Somando futebol e entretenimento, já são R$ 200 milhões por ano — diz Pablo Torquato, advogado especializado na área contratual de propriedade intelectual, do escritório de advocacia Montaury Pimenta Machado & Vieira de Mello.
Para Alexandre Accioly, à frente da casa de shows Qualistage, na Barra da Tijuca, batizada com o nome da empresa que administra e comercializa planos de saúde, o naming rights é ferramenta de engajamento que ajuda a entrar no cotidiano das pessoas.
— Os contratos longos são os ideais. No Qualistage optei por um período de dez anos. É preciso essa estabilidade e construir relação duradoura, pois a casa precisa ter eventos variados de forma a atrair públicos distintos. Patrocínio é essencial para garantir ingressos mais baratos — diz, lembrando que a casa já teve diversos nomes, como Citibank Hall, Claro Hall e Km de Vantagens.
O empresário está à frente da reabertura do antigo cinema Roxy em Copacabana como casa de espetáculos, com aporte de R$ 65 milhões:
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— Recebi proposta para ter uma marca no nome do Roxy, mas é preciso cuidado e entender se faz parte da estratégia do empreendimento.
A GL Events, que administra o antigo Jeunesse Arena, provisoriamente chamado Rio Arena, negocia com dez marcas para selecionar o nome do espaço na Barra até junho. A companhia trabalha na implantação de naming rights no Centro de Convenções Salvador, onde a cantora Beyoncé fez aparição surpresa no fim do ano passado.
![O projeto do Vivo Rio, inaugurado em 2006, entrou em prática após o apoio da operadora. Empresa diz que objetivo é reforçar sua presença de diferentes formas com o público — Foto: Divulgação](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/ncYP_acqrjy0lFm0MOj5bNW44XA=/0x0:720x480/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/2/V/7c9pbgQzqHG054D1Vyjw/35691608-cl-rio-de-janeiro-rj-24-11-2010-pagina-dupla-do-clube-fachada.-foto-divulgacao.jpg)
— Isso permite receita incremental importante e é uma forma de a marca ter espaço para seus eventos corporativos, dar desconto aos clientes e oferecer experiência de serviços e produtos. Hoje, temos percebido movimento grande das marcas, porque elas não querem ser apenas um patrocinador. Depois da pandemia, todos querem experiências — diz Silvia Albuquerque, diretora da empresa, lembrando que, dentro da arena, o caminho para os camarotes tem naming rights da Prevent Senior, da área de saúde.
Francisco Clemente, sócio de Mídia e Esportes da KPMG no Brasil, lembra que o avanço do mercado ganhou tração após a construção de estádios para a Copa de 2014 e com a menção do nome dos patrocinadores durante as transmissões.
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— Vamos começar a ver o aparecimento dessa estratégia em locais menores, já que os maiores estão contratados — diz Clemente, citando o Allianz Parque, do Palmeiras, a Neo Química Arena, do Corinthians, e o Estádio Mané Garrincha, que se chama Arena BRB (sigla do Banco de Brasília).
Um estádio em São Paulo pode ter valor entre R$ 10 milhões e R$ 20 milhões por ano, em média. Já uma casa de espetáculos fica entre R$ 4 milhões e R$ 7 milhões, dependendo do período contratual e do porte, segundo fontes.
Em Minas Gerais, o valor pago pela MRV para associar o nome ao estádio do Atlético Mineiro é de R$ 70 milhões por dez anos. Mas a MRV Arena passou a buscar negócios com sector naming rights, com ArcelorMittal, Ambev e Inter patrocinando outras áreas do complexo. Os contratos somados garantem cerca de R$ 50 milhões por cinco anos.
![A arena do Atlético Mineiro tem a marca MRV. Local também conta com patrocínio de outras empresas, como ArcelorMittal, Ambev e Inter para áreas específicas — Foto: Pedro Souza / Atletico](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/5MT1FodjResghhqxjd7oAFWKZuM=/0x69:912x1136/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/w/v/xlfR9ZSh28HaOTYH0W1A/105591702-naming-rights-a-arena-do-atletico-mineiro-tem-a-marca-mrv-no-nome-divulgacao-pedro-souz.jpg)
— As marcas estão comprando audiência, por isso é preciso oferecer um número mínimo de eventos. A comunicação tem que ser inclusiva e democrática, sem fazer associação direta ao time, pois futebol lida com paixão. É um desafio — diz Rogério Dezembro, CEO da LivePark e um dos responsáveis por desenvolver o projeto do Allianz Parque e do Teatro Santander.
Produto à venda
Com a chegada ao Morumbi, a Mondelez faz o maior investimento da história da marca Bis, que completa 80 anos. Segundo Alvaro Garcia, vice-presidente da companhia, o projeto permite vender o produto no estádio e criar ambiente de experiências. Ele diz que os setores no MorumBIS serão renomeados:
—Vamos fazer uma comunicação para todos os consumidores, falar com clientes e torcedores usando mensagens diferentes. Os investimentos aumentaram 50% em relação ao ano anterior. Queremos dobrar o tamanho de BIS até 2030. Estamos investindo R$ 1 bilhão na ampliação fabril.
![O estádio do MorumBIS contará com o produto à venda no local, além de ambiente para experiências. A marca completa 80 anos este ano e está recebendo investimento de fôlego — Foto: Divulgação](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/_7e_PCjqys_snhiCh5UId-VSB9E=/0x304:670x785/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/6/i/5Y3ogBSHG5kRMCEBzzKg/1705705891145904.jpg)
No Rio, o Teatro Rival voltou a ter o nome Petrobras neste mês, e o contrato vai até dezembro de 2026.
— As artes e a cultura sempre precisaram de patrocinadores — diz a atriz Angela Leal, dona do espaço.
Alguns locais só saíram do papel com o apoio de marcas. É o caso do Vivo Rio, inaugurado em 2006, no complexo do MAM. O projeto foi concebido no início dos anos 50, pelo arquiteto Affonso Eduardo Reidy, um dos pioneiros da arquitetura moderna.
— Nossa ideia é conectar com a cultura e o estilo de vida dos cariocas, reforçando nossa presença de diferentes formas com o público — diz Marina Daineze, diretora de Marca e Comunicação da Vivo.
![A Petrobras voltou a batizar o Teatro Rival, no Centro do Rio. A casa de espetáculos administrada pela atriz Angela Leal já tinha tido acordo com a estatal no passado — Foto: Divulgação](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/QsvowDChdSQr8H5jYgbOx8YZ5eM=/0x0:716x480/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/9/l/qthL2QS2ykAqthxLZAAQ/105591725-naming-rights-teatro-rival-no-centro-do-rio-recuperou-o-patrocinio-da-petrobras-que-entrou.jpg)
Maria Clara Ramos, diretora executiva de Transformação, Estratégia e Marketing da Allianz Seguros, diz que a empresa investe em arenas em Alemanha, Austrália, EUA, França, Áustria e Itália:
— É uma oportunidade única para criar pontos de contato reais e fortes momentos de experiência entre a Allianz e seus públicos.