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Economia

Mulher mais rica da África, Isabel dos Santos está vendo sua fortuna ruir

Ela é acusada pelos promotores angolanos de causar mais de US$ 5 bilhões em prejuízos à economia do país africano
Isabel dos Santos está em Dubai, onde responde a processos por lavagem de dinheiro Foto: Christopher Pike / Bloomberg
Isabel dos Santos está em Dubai, onde responde a processos por lavagem de dinheiro Foto: Christopher Pike / Bloomberg

DUBAI — Um ano depois que as autoridades angolanas reprimiram seu império de negócios multibilionário, a mulher mais rica da África vê tudo desmoronar. Do exílio autoimposto em Dubai, Isabel dos Santos tem travado uma batalha judicial contra o governo de Angola, à medida que ordens judiciais afetam suas empresas.

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Em Luanda, as prateleiras dos supermercados Candando estão mais da metade vazias. Uma fábrica de cerveja ao sul da capital está operando com 30% de sua capacidade de produção. As operações da maior fabricante de cimento do país também desaceleraram.

Todos os negócios são controlados por Isabel. Ela é acusada pelos promotores angolanos de causar mais de US$ 5 bilhões em prejuízos à economia durante os 38 anos em que seu pai, José Eduardo dos Santos, governou o país africano.

Dos Santos deixou o cargo em 2017, dando lugar ao antigo aliado João Lourenço. Em poucos meses, Lourenço se voltou contra a família e demitiu Isabel do cargo de presidente da petroleira estatal Sonangol. Dois anos depois, as autoridades congelaram seus bens.

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— A quantidade de destruição de valor que está acontecendo agora é da ordem de centenas e centenas de milhões de dólares — disse Isabel, de 48 anos, em uma entrevista concedida em Dubai, onde ela vive agora. — Estas empresas são fortemente impactadas por estes congelamentos, bem como pela péssima economia angolana.

O ex-presidente de Angola José Eduardo dos Santos deixou o cargo em 2017. Ele governou o país africano por 38 anos Foto: Alain Jocard/AFP
O ex-presidente de Angola José Eduardo dos Santos deixou o cargo em 2017. Ele governou o país africano por 38 anos Foto: Alain Jocard/AFP

Congelamento de bens

Antes do pedido de congelamento, os bens de Isabel valiam cerca de US$ 2,4 bilhões, o que a tornava a mulher mais rica da África, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

Ela possuía um quarto da Unitel, a maior empresa de telefonia móvel de Angola, controlada pela Portugal Telecom (PT), que se juntou à carioca Oi.  Isabel tentou atrapalhar a união das duas empresas.

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Ela também fez investimentos significativos em Portugal. No país ibérico, Isabel tem participação no credor local EuroBic, uma participação indireta de 26% na empresa de cabo e telecomunicações "Nos" e uma participação indireta de 6% na Galp Energia, avaliada em cerca de 486 milhões de euros . Esses ativos também foram congelados.

O governo de Angola aponta Isabel como suspeita em uma investigação sobre uma alegada má gestão durante sua passagem de 18 meses na Sonangol e a acusa de transações ilícitas com empresas estatais.

O relatório Luanda Leaks, publicado pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos, apresenta o que diz ser evidências de que Isabel alegadamente fez fortuna através de acordos questionáveis com o estado angolano.

Isabel nega irregularidades

Isabel nega qualquer irregularidade e disse que uma equipe de investigadores contratada por ela considerou que os documentos eram falsos.

— Por ser filha de um presidente, estou sempre sujeita a um grande escrutínio. Eu sempre disse que, se meu pai quisesse privilegiar seus filhos e torná-los tremendamente ricos, a opção mais fácil seria conceder direitos ou concessões de petróleo ou contratos comerciais no setor de petróleo. Eu não construí nada em óleo — disse ela.

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O governo de Angola estima que mais de US$ 24 bilhões foram saqueados durante o governo de José Eduardo dos Santos, período em que o Fundo Monetário Internacional (FMI) afirma que o estado não registrou adequadamente suas receitas do petróleo.

O meio-irmão de Isabel, José Filomeno dos Santos, foi condenado a cinco anos de prisão em agosto passado depois de ser considerado culpado de peculato e fraude. Antes de morrer em outubro, o marido de Isabel, Sindika Dokolo, estava sob investigação em Angola por suas práticas comerciais. Isabel ainda não foi julgada.

Em resposta por escrito, o governo de Angola disse que vai usar os meios judiciais, diplomáticos e outros a seu dispor para garantir o efetivo repatriamento dos bens retirados do país

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Em um relatório de janeiro, o Fundo Monetário Internacional (FMI), que tem um programa de US$ 4,5 bilhões com Angola, que termina este ano, elogiou os esforços do governo para combater a corrupção e recuperar ativos.

Isabel afirma que ela precisa obter permissão judicial para cada transferência de dinheiro para pagar dívidas de suas empresas e algumas de suas contas congeladas não podem ser acessadas.

Como resultado, uma empresa controlada por Isabel que detém uma participação indireta na NOS recentemente perdeu o pagamento de uma dívida, potencialmente permitindo que um banco estatal proceda a execução de suas ações, afirma.

Isabel disse que não tem planos imediatos de vender as suas participações na Galp ou na Nos.

— Esses investimentos foram feitos há quase 10 anos. Os mercados agora estão um pouco voláteis. Para desinvestir desses ativos terá que ser no momento certo. Não sinto que o mercado esteja maduro agora.