Finanças
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Por e — Rio de Janeiro

No final do pregão desta segunda-feira, o dólar deu uma guinada para fechar com alta de 1,15%, a R$ 5,6527 — o maior valor de fechamento desde o dia 11 de janeiro de 2022. Foram quase dez centavos a mais em relação à última sessão, quando a divisa terminou a R$ 5,58. No dia, outras moedas de países emergentes também se desvalorizaram.

É bem verdade que o real vinha se desvalorizando recentemente, com maiores incertezas fiscais em um embate público — e cada vez mais frequente — entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Enquanto Lula insiste que é necessário baixar a taxa de juros e que o presidente do BC tem lado político, Campos Neto insiste que a manutenção da Selic a 10,5% é uma decisão técnica e necessária para conter a inflação. Porém, a perda de valor da nossa moeda também teve como influência um fato internacional.

O mundo aguarda com ansiedade qual vai ser o desfecho de mais uma eleição na maior economia do mundo: os Estados Unidos. A disputa entre Joe Biden e Donald Trump, marcada para novembro, vem ganhando cada vez mais cara de revanche, após o atual presidente americano não ter bom desempenho no primeiro debate e, segundo pesquisas, ter sua capacidade de comandar o país mais e mais desacreditada por causa da avançada idade.

Do outro lado, a campanha de Trump ganha mais força. No fim desta segunda, a Suprema Corte dos EUA reconheceu um tipo de imunidade presidencial numa decisão histórica. Em uma votação dividida entre linhas partidárias, a Corte avaliou que ex-chefes de Estado têm imunidade absoluta contra processos por ações tomadas oficialmente enquanto atuavam como presidente.

Bruno Komura, da Potenza Capital, aponta que, com a decisão, Trump ganha mais força porque boa parte do eleitorado não via os processos com bons olhos. Agora, ele pode ganhar mais votos. O mercado, porém, não gosta desse quadro pelo temor de que o republicano traga um viés protecionista e de mais gastos públicos.

— O receio é que, numa vitória de Trump, ele queira fechar o mercado americano, adotando novas tarifas no comércio com a China. Por isso, os treasuries subiram no dia de hoje, e o dólar também em relação a moedas emergentes. E o Brasil, que tem fundamentos fracos, acaba sendo sacrificado — opina.

Nos Estados Unidos, os rendimentos dos títulos do Tesouro americano com vencimento em dez anos subiram oito pontos-base, para 4,48%, o que reflete a busca por investimentos seguros diante do aumento das incertezas. Mesmo assim, o índice DXY, que mede a força do dólar ante a outras moedas fortes, ficou estável, em 105,81 pontos por volta das 17h40.

Komura explica que o fortalecimento da moeda japonesa (o iene), que estava descontado há vários dias, e a maior força do euro ajudaram a "maquiar o índice", não deixando claro a força do dólar. Quando se compara a divisa com moedas emergentes, porém, é possível entender que investidores retiraram investimentos de economias mais fracas para buscar um porto-seguro.

—A valorização das treasuries para o maior patamar desde o início do mês de junho se relaciona um pouco com a ideia do Trump ganhando espaço nas eleições e que ele tende a impor tarifas para produtos importados. Isso é inflacionário. Mas grande parte da alta do dólar vem também de falas do Lula — analisa William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue.

E acrescenta:

— Lula falou que quem quer um Banco Central autônomo é o mercado, e que o próximo presidente do BC tem que olhar o Brasil como um todo e não defender só o mercado financeiro. Parece que ele quer controlar o Banco Central.

Jefferson Laatus, chefe-estrategista do grupo Laatus, ainda aponta que o mercado reagiu a um comentário do ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha:

— O ministro disse que quem apostar contra o real, ou seja quem estiver comprando dólar para especular, vai quebrar a cara, dizendo que o Lula vai fazer um pente fino, que acabou a gastança irresponsável feita pelo governo anterior. Então as preocupações fiscais e com os ataques diretos ao Banco Central preocupam, assim como o novo nome que vai ser indicado à presidência do BC, que pode ser leniente com a inflação para poder cumprir os anseios do governo de cortar juros de uma forma mais acelerada.

Padilha afirmou após se reunir com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, nesta segunda-feira, que o governo vai cumprir as regras definidas no novo arcabouço fiscal: "Há compromisso do presidente Lula com o arcabouço vigente".

Guilherme Morais, analista da VG research, reforça que as preocupações com as questões fiscais no Brasil podem levar o dólar a subir ainda mais:

— Esta visão mais intervencionista e de menos liberdade ao Banco Central deixa o mercado em dúvidas, pensando a partir do ano que vem, quando o governo escolhe o quem irá substituir Campos Neto.

É hora para intervenção do Banco Central?

Com uma alta de mais de R$ 0,40 nos últimos 30 dias, o mercado avalia que pode ser o momento para o Banco Central intervir no câmbio. Em abril deste ano, a autoridade monetária anunciou um leilão adicional de até 20 mil contratos de swap cambial, o equivalente a US$ 1 bilhão. Essa é uma operação que corresponde a uma venda de dólares no mercado futuro, um instrumento usado para aumentar a oferta da moeda americana no mercado e evitar uma disfunção no mercado do câmbio. Na época, a incerteza no cenário fiscal e os juros altos por mais tempo nos Estados Unidos já eram citados pelos analistas como um fator de risco para o dólar, mas o BC informou que a medida seria tomada para atender a um grande vencimento de títulos NTN-A3, atrelados ao câmbio.

Ao mesmo tempo, analistas dizem que, sem uma direção mais clara do governo sobre o equilíbrio das contas públicas, um dos principais riscos no radar do mercado, que tem contribuído para a escalada dólar, uma intervenção do BC no câmbio seria como "enxugar gelo".

— Se a perspectiva fiscal não melhorar, o real tende a continuar se desvalorizando. Porém, intervenções pontuais em momentos em que a moeda apresenta disfuncionalidade ajudariam a diminuir a volatilidade do dólar e até mesmo ajudaria o real a encontrar um ponto de equilíbrio. Não acho que o BC deva intervir para segurar o nível da moeda, mas para dar funcionalidade ao mercado — afirma Gustavo Okuyama, gerente de portfólio da Porto Asset Management.

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