O governo federal decidiu adiar as provas do Concurso Nacional Unificado (CNU), marcadas inicialmente para o próximo domingo. A decisão foi tomada por causa das fortes chuvas no Rio Grande do Sul. O anúncio foi feito nesta sexta-feira pela ministra da Gestão e Inovação em Serviços Púbicos, Esther Dweck, e pelo ministro da Comunicação Social, Paulo Pimenta. Dweck é a responsável pela organização do CNU. O concurso deverá acontecer no segundo semestre, provavelmente em agosto.
O adiamento foi antecipado pela colunista do GLOBO Vera Magalhães. A decisão foi tomada em reunião mais cedo entre ministros do governo. Participaram dessa reunião a ministra Esther Dweck, e o ministro Jorge Messias, da Advocacia-Geral da União.
Na quinta-feira, o governo havia mantido as provas, inclusive para o Rio Grande do Sul.
— Nas próximas semanas vamos dar um nova data, assim que resolvermos todas as questões logísticas — disse Esther Dweck.
Será publicada uma nova versão do edital com a data da realização das provas. O governo renegociar os mesmos espaços. São 3,6 mil pontos de provas, com 65 mil salas. Não haverá novas inscrições. O concurso custou R$ 100 milhões, incluindo toda a logística, transporte e armazenamento de provas, locais de aplicação e fiscais.
Por que o governo adiou a data das provas do CNU?
O adiamento foi decidido depois da repercussão negativa da decisão de manter a realização do concurso unificado no domingo.
A ministra da pasta, Esther Dweck, vinha se posicionando a favor do adiamento em todo o país, sob alegação de que a medida seria a melhor alternativa do ponto de vista político e jurídico.
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Já o ministro da Secretaria de Comunicações, Paulo Pimenta, vinha defendendo que o concurso fosse adiado, pelo menos, para os candidatos do RS. Contudo, essa solução poderia gerar uma enxurrada de ações judiciais dos demais candidatos.
O diagnóstico ontem é que não dava para tomar decisão sobre adiamento sem antes ter respaldo jurídico porque havia um risco de judicialização. Por isso, o governo correu para fechar um acordo com a Defensoria Pública da União (DPU) para blindar o governo. Com o acordo homologado hoje pela Justiça, o anúncio foi feito.
Diferenças com Enem
Essa é a primeira vez em que o concurso é realizado, diferentemente do Enem, apesar das semelhanças.
O raciocínio é que os candidatos gaúchos poderiam se beneficiar ao tomar conhecimento da dinâmica do concurso, do teor da provas. Além disso, eles teriam mais tempo para estudar e sairiam em vantagem.
Outro problema é que uma prova extra exclusiva para os candidatos do RS poderia gerar comparações sobre a complexidade das questões, o que também teria potencial para ações judiciais.
Também pesou a favor do adiamento em todo o país, o fato de que o concurso só poderá ser finalizado, após a realização das provas por todos os candidatos.
O governo avaliou três cenários: suspender o concurso em todo o país, suspender só para os inscritos do RS e realizar as provas, mesmo com os problemas no Sul do país.
Adiamento do CNU terá custo de cerca de R$ 50 milhões
O Ministério da Gestão e Inovação (MGI) disse que o adiamento terá um custo adicional de cerca de R$ 50 milhões para a elaboração de novas provas.
Enchentes no Rio Grande do Sul:
- O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), declarou estado de calamidade pública devido aos municípios impactados pelo temporal no estado.
- Após estabilidade nos últimos boletins, número de mortos por enchentes no Rio Grande do Sul volta a subir na manhã desta quinta-feira, chegando a 151, de acordo com o último balanço divulgado pela Defesa Civil do estado.
- O registro de desaparecidos, por outro lado, recuou para 104 nesta manhã, números que não sofreram alterações no balanço seguinte, divulgado às 12h.
- Moradores de Caxias do Sul, na serra gaúcha, sentiram tremores de terra na madrugada desta segunda-feira (13).
Como serão as provas que serão aplicadas na nova data?
O governo pretende aplicar as mesmas provas que já estão impressas e começaram a ser distribuídas, na nova data do Concurso Nacional Unificado.
Segundo a ministra Esther Dweck, as provas já haviam chegado a 65% das cidades. Agora, elas serão recolhidas e vão para um local seguro, monitorado pela Abin.
Editais do CNU não preveem remarcação em locais específicos
Os editais do Concurso Nacional Unificado (CNU) não preveem a reaplicação das provas, mesmo em casos de desastres naturais, como as chuvas que atingem o Rio Grande do Sul.
Os editais (são vários, um para cada bloco), dizem apenas que candidatos que tenham a participação afetada por problemas logísticos (que incluem desastres naturais) podem somente pedir o dinheiro de inscrição de volta. Assim, apesar das chuvas no Rio Grande do Sul , o governo manteve a data das provas do concurso em todo o país.
É uma situação diferente do Enem, principal porta de entrada para universidades públicas e que é usado como inspiração para o Concurso Unificado. O Enem, em todos os anos, há reaplicação de provas por diversos motivos.
O Concurso Unificado, recebeu 2,1 milhões de inscrições. No Rio Grande do Sul, são 80.348 inscritos, em dez cidades: Bagé, Caxias do Sul, Farroupilha, Passo Fundo, Pelotas, Porto Alegre (RS), Santa Cruz do Sul, Santa Maria, Santo Ângelo e Uruguaiana.
Há uma diferença importante entre o CNU e o Enem. Nas provas para acesso ao ensino superior, há compatibilidade garantida entre diferentes provas por conta de um banco de questões e do modelo matemático da Teoria de Resposta ao Item (TRI). É um cálculo que considera a dificuldade de uma questão e o nível de acerto dela para dar uma nota.
No CNU, não haveria como garantir a mesma dificuldade em diferentes provas.