Economia

Após provocar euforia na Bolsa, ações da Hering terminam a segunda-feira com alta de 26% em um só dia

Varejista disparou após anúncio de venda para o Grupo Soma, que perdeu valor por ter feito aposta alta de R$ 5,1 bi para superar oferta da Arezzo. Dólar cai 0,92%, cotado a R$ 5,44
Após anúncio de compra pelo grupo Soma, ações da Hering disparam no pregão desta segunda-feira Foto: Camilla Muniz / Infoglobo
Após anúncio de compra pelo grupo Soma, ações da Hering disparam no pregão desta segunda-feira Foto: Camilla Muniz / Infoglobo

RIO — As ações da Hering dispararam nesta segunda-feira e foram o destaque do dia na Bolsa de São Paulo, a B3, após o anúncio de compra da marca pelo grupo Soma , numa transação que avalia a companhia em R$ 5,1 bilhões, bem acima do valor de mercado dos últimos dias.

Os papéis ordinários (com voto) da Hering (HGTX3) chegaram a subir 35,67% pela manhã, negociados acima de R$ 30, com os ânimos dos investidores inflados pela notícia da compra.

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Após a euforia, o mercado se acalmou, e as ações da companhia encerraram a segunda-feira com alta ainda bastante significativa de 26,19%, negociadas a R$ 28,62.

Já as ações do Grupo Soma fecharam o dia com queda de mais de 10%, indicando que pode ter apostado alto demais para levar a Hering, na visão do mercado.

Ibovespa fecha com leve alta

Apesar da agitação provocada pela Hering, o Ibovespa, principal índice da Bolsa, encerrou esta segunda-feira em estabilidade, com leve alta de 0,05%, a 120.594 pontos.

O dólar comercial fechou o dia em queda de 0,92%, cotado a R$ 5,44.

Soma pode ter pago alto demais para superar ofensiva da Arezzo

De acordo com cálculos do J.P. Morgan, o valor total pago para a aquisição da Hering seria de R$ 5,2 bilhões, o que implica um prêmio de 43% para o valor de mercado da empresa (até a última sexta-feira) e um prêmio de 56% em relação à oferta feita anteriormente pela Arezzo em sua proposta de combinação.

A Hering já tinha sido assediada pela Arezzo há duas semanas, mas recusou a oferta de R$ 3,1 bilhões. O Grupo Soma é dono de outras marcas do setor, como Farm e Animale.

Apesar de ter se saído melhor na disputa com a Arezzo, as ações do grupo (SOMA3) caíram 10,14%. As ordinárias da Arezzo (ARZZ3) também cederam 3,26%.

"Esse movimento é justificado pelo alto valor pago e pela visão do mercado de que o Grupo Soma deve auxiliar no turnaround da Hering através da digitalização e na capacidade multicanal. As ações de Grupo Soma vão apresentando a maior baixa do dia com uma visão do mercado que o valor pago pela aquisição pode ter sido muito alto e pelo fato de o Grupo Soma não possuir grande expertise no segmento de franquias – e a Hering possuir alta exposição a esse modelo", escreveram analistas da Ativa Investimentos, em relatório.

No geral, Bolsa segue 'de lado'

A disparada da Hering também não foi suficiente para impulsionar o Ibovespa, que segue andando de lado desde a semana passada.

Para Flávio Málaga, sócio e professor de Finanças da Finted Tech School, a tendência é que com a falta de notícias positivas do ponto de vista político e econômico no país, as maiores movimentações no mercado nas próximas semanas fiquem por conta das próprias empresas, especialmente do segmento do varejo.

Tanto a Renner quanto a Arezzo, por exemplo, têm demonstrado a intenção de adquirir outras empresas do setor.

Para que o Ibovespa volte a subir ao nível de 125 mil pontos registrado em janeiro, Málaga acredita que será necessário avançar com as reformas no Congresso Nacional.

— As pautas das reformas ainda não estão precificadas. Então qualquer movimento que se faça nesse sentido vai ser absorvido pelo mercado como uma notícia boa e ajudar a melhorar o desempenho da economia, que está andando de lado no patamar dos 120 mil pontos — afirma o professor de Finanças, acrescentando que uma melhora mais concreta só será observada com a queda na contaminação por Covid-19 no país e o avanço da vacinação.

Vale e Tesla: Lucros saltam mais de 2.000%

Após o fechamento dos mercados, dois balanços divulgados chamaram a atenção pelo salto de quatro dígitos no lucro líquido relativo ao primeiro trimestre de 2021, na comparação com o mesmo período do ano passado.

No Brasil, a Vale informou um salto de 2.220% no seu lucro líquido, que alcançou US$ 5,5 bilhões nos três priemeiros meses do ano. A cifra é equivalente a quase R$ 30 bilhões e está ligada à alta no preço internacional do minério de ferro.

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Nos EUA, a Tesla, do bilionário Elon Musk, reportou um lucro de R$ 438 milhões no primeiro trimestre de 2021. O resultado representa um salto de 2.638% em relação aos US$ 16 milhões informados no mesmo período do ano passado.

No comparativo trimestral, a montadora de carros elétricos viu suas vendas aumentar nada menos que 74%, faturando US$ 10,4 bilhões.

Siderúrgicas seguem em alta

Entre as maiores altas do dia na Bolsa estão também as ações da CVC (CVCB3), com valorização de 5,14%, da Companhia Siderúrgica Nacional CSNA3), com alta de 5,08%, da Embraer (EMBR3), com 3,74%, e da Usiminas (USIM5), com 3,57%.

As ações ordinárias da Petrobras (PETR3, com direito a voto) subiram 0,09% , enquanto as preferenciais (PETR4, sem direito a voto), a 0,08% .

Já as ordinárias da Vale (VALE3) avançaram 0,52%. Os investidores aguardam a divulgação dos resultados da mineradora para o primeiro trimestre, que ocorre após o fechamento do mercado.

— As perspectivas para o balanço são positivas. A cotação do minério de ferro está bem forte e se manteve assim no primeiro trimestre.Veremos um efeito sobre os custos da companhia, como os fretes envolvidos para a China, as manutenções realizadas no sistema Norte, mas as projeções são positivas.  Nossa expectativa é que eles repitam os R$ 8,4 bi vistos no quarto trimestre de 2020 — disse o analista de Research da Ativa Investimentos, Ilan Arbetman.

Dólar em queda

O dólar comercial fechou esta segunda-feira em queda de 0,92%, cotado a R$ 5,44, no seu terceiro recuo consecutivo.

Após o fim do impasse do Orçamento de 2021, sancionado na quinta-feira passada, os investidores voltam a atenção para o início dos trabalhos da CPI instalada no Senado para investigar o combate à pandemia de Covid-19 pelo governo, que devem ocorrer nesta terça-feira.

Ainda no contexto doméstico, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) afirmou, em uma rede social, que vai apresentar no dia 3 de maio o texto da Reforma Tributária.

A matéria já é discutida no Congresso desde 2020 sem grandes avanços e após a pandemia da Covid-19, foi deixada de lado. A sinalização é bem recebida pelo mercado, principalmente, após episódios, considerados como intervenções, do presidente Jair Bolsonaro em companhias estatais, como a Petrobras e a Eletrobras.

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No cenário externo, o destaque da semana vai para a reunião de política monetária do Federal Reserve, banco central americano, que ocorre na quarta-feira.

— A semana promete ser uma das mais agitadas do ano, pela agenda de balanços de grandes empresas, como as gigantes americanas de tecnologia. Teremos falas do presidente Joe Biden com detalhes sobre o seu plano de infraestrutura, além de decisão sobre os juros nos EUA — disse Lucas Carvalho, analista da Toro Investimentos

Boletim Focus: aperto monetário

O Boletim Focus, relatório semanal divulgado pelo Banco Central (BC) com as expectativas de agentes de mercado, mostrou que os investidores esperam um maior aperto monetário já ao fim deste ano.

As expectativas para a taxa básica de juros, Selic, subiram para 5,5% ante os 5,25% da semana anterior para o final de 2021 e para 6,13% ao término de 2022.

O Comitê de Política Monetária (Copom) volta a se reunir na semana que vem para debater o tema. A projeção do Focus é de um aumento para 3,5% neste encontro. Hoje, a Selic está fixada em 2,75%.

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As expectativas de inflação subiram para 5,01% ao fim de 2021, se aproximando cada vez mais do teto da meta estabelecida pelo governo, mas se mantiveram em 3,60% para o término de 2022.

No caso do Produto Interno Bruto (PIB), houve pequena melhora na percepção. As projeções saltaram para 3,09% ao fim de 2020 ante os 3,04%, da semana anterior. Para 2022, a previsão ainda é de 2,34%.

Bolsas no exterior

Nos Estados Unidos, o índice Dow Jones começou o dia em estabilidade, mas encerrou o pregão em queda de 0,18%. Já o S&P 500 e o Nasdaq avançaram 0,18% e 0,87% respectivamente.

Na Europa, as bolsas fecharam no positivo. A Bolsa de Londres avançou 0,35%. Em Frankfurt, a alta foi de 0,11% e, em Paris, de 0,28%.

As bolsas asiáticas fecharam sem direção única nesta segunda-feira. No continente, ainda persistem os temores pela pandemia da Covid-19, apesar dos balanços de primeiro trimestre positivos, divulgados nas últimas semanas.

O índice Nikkei, da Bolsa de Tóquio, terminou em alta de 0,36%. Já em Hong Kong, a queda foi de 0,43% e na China, de 0,95%.

*Com Valor Pro