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Por Talita Duvanel

Fazia tempo que o Brasil não se reunia de forma tão apaixonada na frente da TV — e não foi só para ver debate político. Num meio de concorrência aguerrida com o streaming, que também mobilizou a audiência com crimes inesquecíveis e histórias fantásticas, a boa e velha novela foi o maior destaque.

Brasileiros divididos pela polarização aplacaram as diferenças com a sabedoria do Velho do Rio e se reanimaram com a força de Juma de segunda a sábado, por uma hora, durante “Pantanal”, versão da TV Globo para a saga dos Leôncio criada por Benedito Ruy Barbosa em 1990 para a TV Manchete. O remake foi obra de Bruno Luperi, neto de Benedito.

— Há muito tempo não tínhamos uma telenovela que mobilizava tanto — analisa Tcharly Briglia, pesquisador em teledramaturgia na Universidade Federal da Bahia. —“Pantanal” virava meme, estava nas rodas de conversas. É um marco em como resgatar grandes histórias e falar com o público de hoje. Trouxe de volta a narrativa clássica e o Brasil profundo, mas houve uma atualização no roteiro, com temáticas contemporâneas. Foi a novela certa, na hora certa.

Os velhos e novos noveleiros não ficaram órfãos quando “Pantanal” acabou. Ainda em outubro, começou a elogiada “Todas as flores”, folhetim de João Emanuel Carneiro exclusivo para o Globoplay. A história gira em torno de Maíra (Sophie Charlotte), uma perfumista cega alvo das maldades da mãe, Zoé (Regina Casé), e da irmã, Vanessa (Letícia Colin), e toda quarta-feira entraram no ar cinco capítulos. A primeira parte terminou, e a segunda volta em 5 de abril para mais 40 episódios.

A ideia é não concorrer com as festas de fim de ano, nem com o “Big Brother Brasil”, canhão de audiência da plataforma. Mas o produto disputou atenção com eventos de peso e se mostrou relevante, pelo menos nas redes sociais, um fator hoje determinante para a medição do sucesso de um programa.

— “Todas as flores” estreou perto do segundo turno da eleição, disputou atenção com a Copa do Mundo, é exibida para um público seleto e mesmo assim tem uma recepção bem linear — diz Tcharly, sobre a novela que será exibida na TV aberta no segundo semestre, na faixa das 23h. — Tem mal-entendido, romance, vilã, ou seja, é um novelão clássico, mas adaptado às novas mídias. O lançamento de cinco capítulos por semana foi acertado, o burburinho não se perdeu, mantendo o perfil de conversa da TV aberta. Conseguiram levar para o streaming uma paixão nacional sem desvirtuar o gênero.

Sangue em alta

Evan Peters em "Dahmer: um canibal americano" — Foto: Netflix
Evan Peters em "Dahmer: um canibal americano" — Foto: Netflix

O ano de 2022 foi forte também para o true crime, outro gênero consagrado, que inspira paixões, discussões e horas dispendidas diante da tela numa tacada só, nas chamadas maratonas. Lá fora, o canibal americano Jeffrey Dahmer, cuja história já foi explorada diversas vezes no cinema, na literatura e em outras séries, ganhou um novo olhar, desta vez dramatizado pelos olhos de Ryan Murphy, em setembro.

O roteirista criou a minissérie “Dahmer: um canibal americano” para a Netflix, protagonizada por Evan Peters, que reacendeu o interesse em torno do serial killer que matou 17 homens jovens e foi preso em 1991. A produção foi um estouro e se tornou a terceira série em inglês mais vista da plataforma, atrás apenas de “Stranger things 4” e “Wandinha” (outros dois enormes sucessos globais lançados neste ano).

A própria Netflix lançou um documentário inédito com áudios originais do assassino, e a HBO Max também surfou na onda depois da obsessão com Dahmer, que levou a uma discussão sobre a revitimização das famílias. Parentes de assassinados alegaram estarem cansados de virarem espetáculos públicos.

Na esteira de crimes inesquecíveis no Brasil, o que mais se destacou foi “Pacto brutal: o assassinato de Daniella Perez”, série documental que estreou em julho na HBO Max. Com depoimentos de Gloria Perez e pessoas próximas à atriz, morta por Guilherme de Pádua, seu par na novela “De corpo e alma”, e pela mulher dele, Paula Thomaz, a série foi um fenômeno de discussão nas redes sociais. Guilherme, que se tornou pastor de uma igreja evangélica em Belo Horizonte, morreu de infarto em novembro.

A história da ex-deputada e pastora Flordelis, condenada como mandante do assassinato do marido, o pastor Anderson do Carmo, também rendeu interesse. “Flordelis: questiona ou adora”, do Globoplay, foi lançada em novembro, e “Flordelis: em nome da mãe”, da HBO Max, entrou no ar em dezembro. Ambas são séries documentais que tentam explicar as intrincadas relações de poder dentro da gigantesca família de filhos biológicos, adotados e afetivos da pastora.

Segundo a empresa de análise de dados Statista, 559 produções adultas inéditas foram exibidas na TV aberta, a cabo e no streaming nos EUA no ano passado. Como se destacar num cenário de concorrência extrema? Uma estratégia segura, que pôde ser vista em 2022, foi recorrer a universos com bases de fãs já bem estabelecidas — e colocar fatias generosas do orçamento nisso. O Prime Video, da Amazon, foi atrás da turma fã de “O senhor dos anéis” e fez a série “Os anéis de poder”, que estreou em agosto. Foi a mais cara já produzida na história — US$ 462 milhões gastos só na primeira temporada.

A HBO Max investiu no hit “Game of thrones” com o spin-off “A casa do dragão”, também de agosto. No entanto, quem mais bombou no país— em termos de buscas — foi “Sandman”, da Netflix. A adaptação audiovisual da HQ de Neil Gaiman, outra da leva de agosto, foi a série mais procurada no Google Brasil no ano.

Outros destaques

Férias frustradas para deleite do público

Cena da segunda temporada de "The White Lotus" — Foto: HBO
Cena da segunda temporada de "The White Lotus" — Foto: HBO

A elogiada “The White Lotus” (HBO Max) ganhou continuação na paradisíaca Sicília com novos personagens. Os novos episódios da série sobre ricos problemáticos reunidos num hotel foram sucesso de público e de crítica. Só ao Globo de Ouro são quatro indicações, incluindo melhor minissérie.

Muito estranhos

Vecna — Foto: Reprodução/Netflix
Vecna — Foto: Reprodução/Netflix

Desde 2019, os fãs de “Stranger things” esperavam pela quarta temporada da série mais popular da Netflix, cujas gravações foram afetadas pela pandemia. Em termos de efeitos especiais e sustos, a espera valeu a pena: foi a mais assustadora e trouxe esclarecimentos sobre o passado de Eleven e o surgimento do Mundo Invertido.

Na firma, a casa não entra

Adam Scott em cena de 'Ruptura' — Foto: Apple TV+
Adam Scott em cena de 'Ruptura' — Foto: Apple TV+

E se fosse possível separar, dentro do cérebro, as memórias da vida pessoal das do trabalho? Em “Ruptura” (Apple TV+), Mark (Adam Scott) passou por esse experimento a fim de resolver seus traumas. Mas quais os efeitos a longo prazo? E os objetivos da empresa Lumon com isso? A produção é uma das melhores do ano.

'Desatola bandida' para ver e ouvir

Alice Wegmann como Raíssa, de 'Rensga Hits': 'Queria uma coisa mais solar', diz ela, acostumada a interpretar papéis densos — Foto: Reprodução
Alice Wegmann como Raíssa, de 'Rensga Hits': 'Queria uma coisa mais solar', diz ela, acostumada a interpretar papéis densos — Foto: Reprodução

O feminejo foi retratado na bem-sucedida “Rensga hits” (Globoplay) pela história de Raíssa, jovem que sonha em virar cantora. “A série uniu a paixão do brasileiro pelo sertanejo com a narrativa sobre mulheres. Elas não brigam por homem , querem realizar sonhos”, diz o pesquisador Tcharly Briglia.

Jornalismo na tela

Humberto Carrão e Caco Barcellos nos bastidores da série ‘Rota 66 – A Polícia Que Mata’, do Globoplay — Foto: Divulgação
Humberto Carrão e Caco Barcellos nos bastidores da série ‘Rota 66 – A Polícia Que Mata’, do Globoplay — Foto: Divulgação

Trabalhos jornalísticos deram origem a ótimas produções do Globoplay. Escrito por Caco Barcellos, “Rota 66”, sobre a violência da polícia de São Paulo, virou série dramatizada com Humberto Carrão. Já os erros de Valmir Salaro no caso da Escola Base foram tema de reflexão no doc “Escola Base —Um repórter enfrenta o passado”.

Um mestre de chinelos

Gilberto Gil em torno da fogueira na casa em Araras onde foi filmado o misto de documentário e reality show com cinco episódios: continuação está acompanhando a turnê de shows pela Europa — Foto: Divulgação
Gilberto Gil em torno da fogueira na casa em Araras onde foi filmado o misto de documentário e reality show com cinco episódios: continuação está acompanhando a turnê de shows pela Europa — Foto: Divulgação

Gilberto Gil abriu as portas de sua intimidade —e de sua casa em Araras (RJ) — para Andrucha Waddington filmar “Em casa com os Gil”, reality do Prime Video. Em cinco episódios, é possível ver um dos maiores gênios da música brasileira com filhos e netos preparando a turnê na Europa “Nós, a gente”, que começou no dia em que ele completou 80 anos.

Avisa lá: ele estava em todas

Paulo Vieira no BBB TV Globo — Foto: TV Globo
Paulo Vieira no BBB TV Globo — Foto: TV Globo

No “Big Brother Brasil”, no “Fantástico”, no “Avisa lá que eu vou” e no “Rolling kitchen Brasil”, os dois últimos no GNT. Paulo Vieira esteve em todas. E pouca gente se cansou. O humorista também escreveu um best-seller infantil e ainda vai apresentar a cerimônia de posse de Luiz Inácio Lula da Silva, em Brasília.

O momento dos picaretas

Amanda Seyfried em 'The dropout' — Foto: Divulgação/Star+
Amanda Seyfried em 'The dropout' — Foto: Divulgação/Star+

Uma pseudosocialite (“Inventando Anna”, da Netflix), a jovem empreendedora que enganou os maiores figurões dos EUA (“The Dropout”, do Star+, na foto), um falso milionário no app de namoro (”O golpista do Tinder”, da Netflix). Estas foram algumas histórias que colocaram os chamados 171 no centro da narrativa.

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