Teatro
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Por O GLOBO

Barbara Heliodora tinha prazer em assistir aos clássicos. Lamentava muito que textos de autores gregos, como "Medeia" e "Édipo Rei", fossem tão pouco montados por aqui. Por outro lado, reconhecia como proveitosa a profusão de encenações de cânones da dramaturgia ocidental, como Molière e Tchekov. Mas era tão severa com estes como com Shakespeare, implacável em criticar a falta de compreensão de diretores com o objeto de seu trabalho. Aqui, alguns exemplos de crítica em que os clássicos, na sua opinião, foram bem encenados – e outros em que a mão pesou. (Nani Rubin)

  • 1. Confusão entre o trágico e o grito
  • 2. Édipo a salvo da gritaria. Trilogia de Moacyr valoriza texto de Sófocles com leitura intimista
  • 3. Diversão certa e fiel a espírito de Molière. As artimanhas de Scapino: espetáculo que festeja os dez anos da companhia Atores de Laura é um ponto alto no atual panorama teatral
  • 4. Um belo espetáculo para Tchekov. Tio Vania: único problema da montagem é o grandioso espaço do Parque Lage, que prejudica o intimismo do texto
  • 5. As preciosas ridículas: diretor Cláudio Torres Gonzaga transforma comédia inteligente do autor francês em grotesca chanchada. Montagem é um desrespeito a Molière
  • 6. Crime lesa-Molière
  • 7. Tchekhov comovente e apaixonante. Tomo suas mãos nas minhas: montagem no Leblon tem a dedicação merecida pelo autor russo
  • 8. Mais que uma tragédia, um desastre. Oidipous, filho de Laios: 'Transcrição' feita por Antonio Quinet destrói o 'Édipo Rei' de Sófocles
  • 9. Diversão e alegria em Boccaccio. Decameron — A arte de fornicar: encenação tem muitas qualidades, mas precisa de acabamento
  • 10. Três horas e 20 minutos de caos. Obra de Molière é prejudicada por abordagem circense e elenco inexperiente

1. Confusão entre o trágico e o grito (publicado em 13/7/1991)

Por razões insondáveis, em um País onde os clássicos raramente são montados, pela segunda vez em cerca de cinco anos aparece em palcos cariocas uma montagem da "Fedra" de Racine, obra que praticamente nunca consegue ultrapassar as fronteiras da França. A atual montagem, apresentada a uma plateia situada no próprio palco e limitada a 36 espectadores por sessão, tem como seu aspecto mais positivo o uso da imponente plateia do Teatro Dulcina como cenário.

A austeridade do texto de Racine, mesmo que transformada em prosa, como acontece na tradução de Millôr Fernandes, não é instrumento flexível para maiores voos criativos de direção e Antônio Abujamra não consegue aqui o rendimento alcançado com o "Ambleto" de Testori: a introdução arbitrária de um coro de seis moças que, junto com as intérpretes de lsmênia (Maria Salvadora) e Panopéia (Taca Moraes), só finge que fala ou fica sentado nas poltronas da plateia lendo o texto — cujas páginas ora guarda com cuidado ora joga para o alto sem razão ou explicação — é tão gratuita quanto canhestra. Mas pior ainda é a invenção embaraçosa de uma figura de vestido prateado e máscara pseudo-grega que, além de servir de injustificado doppelgänger de Enone, corre pelo palco levando e trazendo banquinhos perfeitamente dispensáveis. Incluindo os smokings do coro, os figurinos de Rosa Magalhães são aceitavelmente discretos, enquanto a música de André Abujamra é frequentemente expressiva e sempre bela.

Desconhecemos os motivos que levam os diretores brasileiros a crer que a forma trágica seja indissociavelmente identificada com forte gritaria, mas nesta "Fedra" temos novo exemplo de tal convicção, cuja primeira consequência é a perda do sentido do texto na grande maioria das falas. No papel da protagonista, Vera Holtz entra em conflito frontal com a interiorizada Fedra criada por Racine, fazendo do grito a dominante de sua atuação, o que além de resultar em baixo rendimento interpretativo, incomoda muito por deixar evidente que sua voz está em frangalhos com o esforço feito em "Um certo Hamlet" e aqui nesta "Fedra".

Tania Loureiro também grita ao fazer Enone, com resultados ainda mais fracos do que os de Vera Holtz, como também Suzana Faini não consegue transmitir conteúdo quando grita o seu Teseu. Falando com maior comedimento, Rafaela Amado cria sua Aricia com melhor nível de sensibilidade do que qualquer outra pessoa em cena, seguida pelo Hipólito de Deborah Evelyn, mesmo que esta, em nível um tanto mais baixo. A Terâmeno de Maria Adélia não grita, mas em compensação, na descrição final da morte de Hipólito, é de total inexpressividade.

A tentativa de se transformar "Fedra" em um espetáculo de maior vida cênica fracassa e o abandono da austeridade e da contenção racinianas prejudica, ao invés de ajudar, a comunicação com a plateia; no fim das contas, não temos Racine e nem uma criação independente válida, que — ao que parece — o texto não foi capaz de motivar.

2. Édipo a salvo da gritaria. Trilogia de Moacyr valoriza texto de Sófocles com leitura intimista (publicado em 13/3/1995)

Mais do que a obra-prima de Sófocles, "Édipo rei" é o referencial básico do teatro ocidental; só os talentos extraordinários (aí compreendidos, por exemplo, Molière e Shakespeare) sabem usar material amplamente conhecido para criar uma obra sua e original, e há muito pouca coisa no teatro que se compare à inspirada segurança com que Sófocles constrói a trama do "Édipo", transformando em lancinante experiência viva e humana a narrativa do mito, provavelmente empalidecida pela repetição. Enquanto estamos em contato com a tragédia de Sófocles, torna-se irrelevante o conhecimento do mito, pois se afirma totalmente a ilusão de contemporaneidade, a impressão de que estamos acompanhando uma ação enquanto ela acontece; essa ilusão, no entanto, é uma experiência estética, e jamais conduz por si à omissão do pensamento crítico, consciente, por maior que seja a empatia, por mais íntimo que possa ser o diálogo imaginativo entre palco e plateia.

É tão rara a montagem dos clássicos entre nós, que, em primeiro lugar, temos de comemorar a presença do projeto da "Trilogia tebana" no panorama teatral do Rio. As montagens no Teatro Glória são o resultado de meses de pesquisa e preparo, e a encenação, o resultado de muito estudo e carinho. Visualmente, seria difícil pedir mais: o austero e neutro cenário de José Dias, com seus tons escuros em paredes e caixotes de madeira, grandes estandartes e longas varas, não só é belo em si como compõe o fundo perfeito para os lindos figurinos de Samuel Abrantes, em cores de terra, sugerindo, com seus trapos, redes e cordas um mundo forte e primitivo, adequado para a encenação de conflitos de valores últimos.

A direção de Moacyr Góes opta por um caminho intimista na interpretação do texto, que indica sua grande preocupação com o significado essencial de cada fala, em contraste com a tendência para uma leitura gritada e muito artificial que tem presidido várias incursões pelo domínio dos clássicos em montagens nacionais recentes. O tratamento do coro revela, igualmente, uma clara opção pelo toma lá dá cá humano: o coro em seu conjunto fica mudo, sugerindo suas emoções e reações apenas por alterações na composição do quadro do conjunto, com ótimas sugestões de maior ou menor intensidade pela criação de desenhos com as longas varas que todos seguram. Tanto os protagonistas quanto o corifeu (que diz todas as falas do coro) revelam uma consciência clara das intenções contidas no que dizem. Mas é impossível não reconhecer que, apesar da dedicação e concentração, o conjunto de jovens atores não chega a alcançar o nível de tragicidade que seria ideal para o texto de Sófocles.

A encenação de Moacyr Góes procura construir tensões e expressar conflitos, mas, a não ser por Adriana Maciel, que canta muito bem os temas que "sublinham o começo e o fim do espetáculo, por exemplo, praticamente todos os atores têm a voz presa na garganta, não sabem colori-la de modo a enriquecer e variar o tom mesmo que preservando a ideia de uma leitura intimista. O elenco todo está, por outro lado, de tal modo integrado na concepção dá encenação desde a abertura quanto todos armam os elementos da cenografia de José Dias para compor a cena que o espetáculo exibe efetivamente personalidade própria, e as deficiências vocais só nos fazem lamentar que ele não pudesse ser ainda melhor.

O única aspecto injustificável da montagem é a ideia de fazer Leon Góes, o protagonista, andar o tempo todo na ponta dos pés; o fato de Édipo significar "pés inchados" não encontra no texto de Sófocles nenhuma implicação de dificuldade no andar, e o esforço do ator para manter postura tão falsa e incômoda o prejudica tremendamente. Édipo, o rei, perde em autoridade se não consegue ficar em pé, senão apoiado e sempre balançando. E, sem esse elemento estranho, talvez conseguisse melhor resultado com sua voz, que sempre foi limitada. Floriano Peixoto faz razoavelmente Creonte, e Flávia Guimarães está bem no Corifeu. Com uma figura impressionante, o Tirésias de Murilo Elbas precisa de muito mais voz, e a Jocasta de Virginia Cavendish não tem a força necessária para o papel.

As restrições não diminuem o mérito do espetáculo, que as supera e emociona.

3. Diversão certa e fiel a espírito de Molière. As artimanhas de Scapino: espetáculo que festeja os dez anos da companhia Atores de Laura é um ponto alto no atual panorama teatral (publicado em 15/03/2002)

Do vasto e fascinante repertório de Molière, "As Artimanhas de Scapino" parece ser a obra que maior número de montagens tem merecido entre nós — o que não é de espantar, pois além de ser uma ótima comédia, tem a fluente e gostosa tradução de Carlos Drummond de Andrade. E foi esse o texto que a Companhia de Teatro Atores de Laura escolheu para comemorar dez anos de atividades, em cartaz no Teatro Miguel Falabella, a ótima sala que fica no Norteshopping (para quem sai da Zona Sul, não muito diferente, em tempo, do que ir à Barra). A encenação é muito simpática, com o mérito de o grupo querer fazer Molière com recursos um tanto calcados na mesma commedia dell'arte que influenciou o autor.

No vasto palco a seu dispor, Ronald Teixeira criou uma cenografia imaginativa e funcional. A simples evocação de uma boca de cena de desenho clássico, com panejamentos claros e muito uso de cordas, serve a um tempo para situar a época e o porto exigidos pelo texto. Os figurinos de Heloisa Frederico se ressentem um pouco mais da economia, mas são alegres e fiéis à linha da época. A iluminação de Aurélio de Simone apoia bem a ação e a trilha musical de Carlos Cardoso também contribui para o clima, sem interferir indevidamente no espetáculo.

Crítica de Barbara Heliodora para montagem de 'As artimanhas de Scapino', de Molière, pela Companhia Atores de Laura — Foto: Acervo OGLOBO
Crítica de Barbara Heliodora para montagem de 'As artimanhas de Scapino', de Molière, pela Companhia Atores de Laura — Foto: Acervo OGLOBO

A direção de Daniel Herz conta com a dupla vantagem de ele conhecer bem o potencial de cada um de seus atores e de estes atuarem juntos; isso faz o jogo mais integrado e alegre. O diretor mantém no palco os atores que não estão atuando no momento, mas de modo discreto, sem correr o risco de que roubem a cena... distantes da cena, é interessante, por exemplo, ver que eles seguem a ação como plateia e riem da comicidade dos colegas, sem exageros ou exibições.

Aquilo que deveria ser rotina, mas não é, merece um comentário especial: todos os atores dizem o texto com clareza, projetando a voz sem gritar e, por isso mesmo, sendo compreendidos por um público que fica em condições de apreciar o que está acontecendo.

É óbvio que o espetáculo foi muito trabalhado: o elenco tem um rendimento geral gratificante. Charles Fricks é um Scapino esperto e malicioso, enquanto Paulo Hamilton (Gerôncio) e Marcio Fonseca (Silvestre) demonstram talento cômico surpreendente. Maira Graber (Zerbinelta) e Vanessa Dantas (Ja- cinta), mais a primeira, defendem bem os dois papéis femininos principais, enquanto Anderson Mello (Argante), Leandro Castilho (Leandro) e João Marcelo Pallottino (Otávio) dependem um pouco mais de composição; Raphaela Cotrim e Val Elias são corretos em suas pequenas participações.

Esta nova montagem de "As artimanhas de Scapino" é um ponto alto no panorama da atual temporada, divertida e fiel ao espírito de Molière. Uma ótima comemoração de dez anos dos Atores de Laura.

4. Um belo espetáculo para Tchekov. Tio Vania: único problema da montagem é o grandioso espaço do Parque Lage, que prejudica o intimismo do texto (publicado em 13/06/2003)

Sendo médico, Anton Tchekov foi insuperável em sua capacidade para diagnosticar as doenças de seu tempo, suas vítimas inconscientes e em sentir horror às primeiras e compaixão pelas segundas; como bom médico, a compaixão jamais se tornava sentimental e tampouco eram oferecidas aos doentes falsas esperanças. "Tio Vania" (1896), a segunda das quatro obras-primas do fim da vida de Tchekov, expressa exemplarmente suas mais profundas convicções a respeito dos males da Rússia naquele fim de século: a bela Helena e Serebriakov, o "professor", são a denúncia da inércia dos privilegiados e da inutilidade dos produtos de pequenos círculos de admiração mútua que emprestavam fortuita fama a uma pseudo-intelligentsia, tão prolífera quanto compiladora, incapaz de um pensamento original ou proveitoso, aplaudida por senhoras como a mãe de Vânia, que cultua até o fim o genro presunçoso.

O médico Astrov, inteligente e consciente, vai clinicar no interior, porém representa um exemplo raro, que por raro não consegue realizar o trabalho que o país precisa, e aos poucos vai sendo corroído pela corrupção da inércia, da indigência econômica e intelectual de sua clientela normal. Vânia e Sonia são as vítimas perfeitas da dolorosa decadência da Rússia imperial; são tão sacrificados quanto os servos da terra e, mesmo quando esclarecidos, são forçados a aceitar seu destino porque assim tiveram feitas suas cabeças. Como tudo em Tchekov, não são grandes acontecimentos mas os desgastes do dia a dia que fazem a tragédia daquelas vidas; como tudo nessa última fase de Tchekov, o texto é magistral, do melhor que existe na dramaturgia universal. A tradução de Millôr Fernandes tem a fluência que o intimismo da ação exige.

É justamente esse intimismo que não é bem servido pelo belo espaço criado na área do pátio central da antiga mansão Lage: a beleza da arquitetura do pátio foi obviamente tentadora, mas as dimensões são grandes demais para a claustrofobia que tanto agrava os conflitos que se passam em um ambiente fechado, sufocante, do dia a dia na casa da qual dependem as vidas de Vânia e Sonia. As distâncias ficam exageradas, a necessidade de fazer ora uma ora outra extremidade ouvir bem o que se passa superam as vantagens visuais que o local pudesse ter e alongam sem necessidade cenas onde deveria prevalecer o meio-tom, a intimidade. O espaço criado por Daniela Thomas, enfim, é visualmente atraente, mas infelizmente não é adequado para a peça.

Os figurinos claros de Marcelo Pies (e da Maria Bonita) são de modo geral bons, com o único erro grave no de Astrov, que fica parecendo um segundo Vânia, e não o elemento mais sofisticado e citadino que ele é. A iluminação de Maneco Quinderé procura ajudar a concentrar a ação, mas é difícil compreender a razão de certas subidas e descidas da luz, enquanto a direção musical de Tato Taborda não chega a entrar em verdadeira sintonia com os climas da ação.

A direção de Aderbal Freire-Filho é em geral simples, sempre prejudicada pelas exigências da vasta arena, cuja dimensão esgarça o ambiente da ação, mas em geral buscando ser fiel à intenção de Tchekov; só na figura de Astrov parece haver um sério engano, pois em lugar de contrastar com Vânia, sendo mais cuidado, elegante e bonito (e motivo da atração que sentem por ele Sonia e Helena), é desleixado e um tanto bêbado desde o início, o que não condiz com o personagem tal como foi escrito. Conflita também com Tchekov, tanto quanto com o personagem, a marca final de Vânia, de choro aos prantos, gritos e soluços, pois não há nada na obra do autor que apele assim para o melodramático. O tom não condiz com a personalidade de Vânia e, além do mais, perturba a última fala de Sonia, uma das mais memoráveis de toda a sua obra.

No elenco, em grande parte satisfatório, o Teleguin de Alby Ramos, perdido e sem marcar a melancolia do personagem, e Astrov, com a linha errada, exagerada e um pouco resmungada e cheia de tiques demais por Daniel Dantas, são os pontos realmente fracos. Rogério Froes (Serebriakov), com implicâncias e pose, e Suzana Faini (Maria Vassilievana, a "Maman") saem-se adequadamente em seus papéis e melhor ainda está Ida Gomes na Ba, discreta e sensata crítica dos acontecimentos, embora mais conservadora ainda do que a própria família... Bel Kutner está bem como Sonia, mas poderia deixar transparecer mais dor controlada e precisaria ter circunstâncias mais favoráveis para sua última fala.

Débora Bloch está adequadamente bonita e elegante na inquieta e entediada Helena, deixa transparecer o desapontamento da personagem, e também poderia ter um pouco mais de emoção reprimida; mas dá a impressão de saber o que está fazendo, o que não é pouco. Diogo Vilela é o protagonista Vânia, fracassado e infeliz, e dosa bem sua crescente revolta contra o mundo dos Serebriakovs; só fica exagerado na cena final, quando poderia fazer mais do que bem o choro contido e profundo de aceitação da fala de Sonia, mesmo que sem a esperança dela de felicidade em uma vida futura. É um texto maravilhoso e um espetáculo bonito, que, na carreira, deve adquirir melhor domínio do excessivo espaço do novo teatro do Parque Lage.

5. As preciosas ridículas: diretor Cláudio Torres Gonzaga transforma comédia inteligente do autor francês em grotesca chanchada. Montagem é um desrespeito a Molière (publicado em 2/2/2006)

O espetáculo que, no Teatro Sesi, em horário alternativo, apresenta-se com o título de "As preciosas ridículas" é um desrespeito e uma ofensa a um dos maiores nomes de todos os tempos nas artes cênicas, Molière. Sua primeira obra a alcançar sucesso espetacular em Paris, em 1659, essa memorável comédia em um ato já provava o que o autor sempre disse a respeito do conteúdo crítico de suas obras: "Eu condeno os vícios, não as pessoas". O "preciosismo" e suas cultoras, às quais era efetivamente aconselhado que "uma preciosa deve falar de modo a não ser compreendida pela gente comum", eram uma praga em Paris, e Molière, com sua costumeira genialidade, escreve a respeito das imitadoras provincianas, para poder salientar o ridículo dessa grande moda. Molière, para alcançar seu objetivo, escreveu uma comédia inteligente, e não a grotesca chanchada que infelizmente chega aos palcos cariocas.

Aproveitando as cortinas brancas e rendadas que Colmar Diniz criou para o Molière que ocupa (com méritos) o horário principal, o diretor Cláudio Torres Gonzaga só acrescentou umas molduras, que são até simpáticas, mas redundantes. E ao diretor tem de ser atribuída a péssima qualidade do espetáculo, pois nem Molière e nem a tradução de João Bethencourt mereceram um mínimo de respeito, pois não há em cena nem sequer o mais vago vestígio de qualquer intenção de buscar o que Molière escreveu. Em lugar de seres humanos, temos péssimas caricaturas, cacos e exageros, que impedem totalmente que o conteúdo da comédia seja compreendido. A única coisa conseguida é que um público desinformado se ria de palhaçadas constrangedoras.

Se o diretor diz "mata", a maior parte do elenco diz "esfola": o memorável papel de Mascarille é transformado por Marcos Oliveira em palhaçada circense, que impediria até mesmo a mais idiota das provincianas de acreditar que ele fosse um marquês frequentador das mais altas rodas sociais e intelectuais; das duas "preciosas ridículas", a mais assustadora é Helena Ranaldi, que por razões inatingíveis adotou um andar que só sugere que esteja usando sapatos insuportavelmente apertados, e uma posição incompreensível para os braços, e exagera a caricatura barata ao extremo, enquanto Gláucia Rodrigues, que já trabalhou em outras obras de Molière com mais discernimento, executa aqueles desmandos sem grande entusiasmo.

O Jodelet de Gustavo Ottoni faz o possível para alcançar a má qualidade do trabalho de Marcos Oliveira, enquanto Mouhamed Harfouch não sabe dizer uma frase sem emitir detestáveis agudos, tendo tão pouca noção da elegância que deveriam ter La Grange e Du Croisy quanto André Frazzi, ligeiramente menos exagerado. Jaqueline Brandão fica ridícula na linha caricata dada a Marotte, Marcelo Araújo e Walter Gaspar são fraquíssimos. Honra lhe seja feita, Lafayette Galvão, no papel do pai, é o único integrante do elenco a comportar-se como um ser humano plausível.

Deformações de um texto do tipo das que dominam essa lamentável encenação, além de ofenderem Molière e qualquer forma de bom teatro, são uma infeliz contribuição para a deseducação do público e para a desmoralização das artes cênicas.

6. Crime lesa-Molière (publicado em 8/5/2013)

No Teatro Maria Clara Machado está em cartaz "Apesar do amor", que se apresenta como adaptação de "Le Dépit Amoureux", a segunda das duas peças que Molière escreveu quando ainda mambembava pela província, e chegou a montar em Paris. Calcada em roteiro da commedia dell'arte, é a primeira peça em que Molière já começa a se libertar do estilo de representação dos italianos, e cria, principalmente seus namorados, já com uma autenticidade humana considerável. O grupo que está no Maria Clara Machado, no desmando que chama de adaptação, faz, na melhor das hipóteses, um mau estilo circense pensando que está usando a comédia italiana. A não ser pelo cenário, que poderia servir de campo neutro para a trama, não há nada no espetáculo que não seja péssimo. A adaptação, que parece querer se passar no tempo do autor (segunda metade no século XVII), de repente fala em Napoleão Bonaparte (transição do XVIII para o XIX), mas esse é o menor dos erros; a linguagem muitas vezes grosseira, é de modo geral pobre, uma triste e degradante adaptação em prosa da harmonia elegante do verso original. São acrescidas umas musiquinhas sem graça, e a jovem Lucilia de repente aparece, sem a saia, com uma espécie de calção, fazendo (muito mal) suposta dança erótica agarrada a um poste metálico, o que deve ter deixado Molière um tanto surpreendido.

Crítica de Barbara Heliodora para "Apesar do amor", adaptação d peça de Molière — Foto: Acervo O GLOBO
Crítica de Barbara Heliodora para "Apesar do amor", adaptação d peça de Molière — Foto: Acervo O GLOBO

Os figurinos são tão díspares que parece terem nascido do "cada um traz o seu", sendo todos péssimos. Na comédia italiana, os cômicos é que usam máscaras, e aqui fica uma interrogação sobre o que pode levar um grupo a fazer justamente os namorados ter a cara pintada de branco. Até se ver que, como coroação de todos os erros, o papel da moça que anda vestida de homem por uma necessidade do enredo, alguém aqui teve a diabólica ideia de escalar um rapaz para fazer a personagem.

O elenco de Molière é muito complicado, mas em "Apesar do amor" a cena final deu a impressão de estarmos vendo as "Bodas de Figaro", tal a comicidade e confusão, tal a falta de noção do que pede o texto do autor.

Não há palavras que possam expressar a que níveis de desastre chegam as interpretações. Como não temos nem programa e nem ficha técnica, não é possível identificar os participantes, mas é preciso dizer que "Apesar do amor" é um crime lesa-Molière; se houve direção, ela é um desastre, mas parece não ter existido, pois assim como os figurinos, cada ator tem uma linha (se o termo pudesse ser aplicado) pessoal, cada um erra de modo diferente do outro, ao que tudo indica crente que está exibindo seu talento. É uma catástrofe.

A não ser pelo cenário, que poderia servir de campo neutro para a trama, não há nada no espetáculo que não seja péssimo.

7. Tchekhov comovente e apaixonante. Tomo suas mãos nas minhas: montagem no Leblon tem a dedicação merecida pelo autor russo (publicado em 27/1/2010)

A vasta correspondência trocada entre Anton Tchekhov e Olga Knipper — como eles dizem, primeiro amigos, depois amantes e finalmente marido e mulher, é em si, belíssima e comovente. Pelas cartas podemos ter uma ideia do que passou, em seus últimos anos de vida, um gênio literário que era médico e, por isso mesmo, sabia que sua tuberculose não tinha cura, e que lhe restava cada vez menos tempo para criar sua obra dramática e viver o imenso amor que lhe chegou tarde.

Com a preciosa correspondência em mãos, a americana Carol Rocamara tinha excepcional material para elaborar sua peça, cujo título "Tomo suas mãos nas minhas" era a conclusão permanente usada por Tchekhov. O material é muito bem organizado, no sentido de dar vida ao processo paralelo da concretização do amor e da morte anunciada. Tchekhov conheceu Olga quando o Teatro de Arte de Moscou estava montando "A gaivota", ocasião em que o escritor já estava se mudando para Yalta, no sul, por ordens médicas. Boa parte da emoção do texto vem da cobertura feita pelas cartas do apaixonado e doloroso processo das três grandes últimas peças, "Tio Vânia", "As três irmãs" e "O cerejal", cada uma produto de esforço maior, dado o agravamento da doença, mas mesmo assim cada uma delas superando a anterior em riqueza de observação do comportamento humano, cada uma retratando com mais acuidade a decadência e a corrupção da amada Rússia.

A encenação no Teatro do Leblon é primorosa. Fernando Mello da Costa e Rostand Albuquerque criam a magia do teatro não pelo palco, mas pelos misteriosos recantos das coxias, do mundo que permite que a magia se mostre. Os figurinos de Kika Lopes são simples mas precisos, com a bonita luz de Maneco Quinderé e a boa trilha de Alexandre Pereira. Não são os holofotes, mas o frio, a doença, a distância que formam o cenário da vida real.

A direção de Leila Hipólito (que também assina a boa tradução) investiga a fundo a riqueza de pensamento e emoção que o texto contém, leva em conta a época, seus hábitos, seus preconceitos, as circunstâncias em que foram passados esses gloriosos seis anos que os dois tiveram para si.

Miriam Freeland, dividida entre o teatro e o amor, fica mais autêntica quando é Olga, mas busca suas personagens com clareza, enquanto Roberto Bomtempo tem um trabalho excepcionalmente bem dosado para englobar o amor, a doença, a família e sua gigantesca obra teatral.

"Tomo suas mãos nas minhas" é um espetáculo comovente e apaixonante, realizado com toda a dedicação que Tchekhov merece.

8. Mais que uma tragédia, um desastre. Oidipous, filho de Laios: 'Transcrição' feita por Antonio Quinet destrói o 'Édipo Rei' de Sófocles (publicado em 21/3/2009)

A beleza e a perfeição dramatúrgica do "Édipo Rei" de Sófocles são tamanhas que raríssimos têm sido os autores que depois dele se arriscaram a tratar do mesmo tema. Isso não impediu, no entanto, o professor e psicanalista Antonio Quinet de encenar (no Espaço Multimídia do Sesc de Copacabana) o que ele chama, não compreendemos exatamente por que, de sua "transcrição" do texto. Nenhum esforço é poupado, nesse "Oidipous, filho de Laios", para destruir e fazer mal o que Sófocles fez bem: e o resultado é uma espécie de péssimo esclarecimento (?) do mito, por meio de uma linguagem rasteira, para um público preferencialmente de mentalidade e compreensão infantis.

Começando com um desfile tipo "pátio dos milagres", que deve representar a peste na cidade, os mesmos atores ficam logo curados e não se fala mais nisso. O autor afirma que veremos a história de Édipo Rei "pelo avesso", porém o que se vê é apenas um grande anseio pela originalidade, e nos deixa informados de que Édipo só solucionou o enigma da esfinge por sorte, e não acabou com ela, que virou a peste que assola Tebas. A história de Laios e sua transgressão como origem dos sofrimentos de Oidipous é contada como sendo grande novidade, omitindo o fato de, na Grécia, todos acreditarem em predestinação. O comportamento de Jocasta (desculpem, Iokaste) é barateado, e ela quase mata Oidipous quando descobre a verdade, em lugar de só buscar salvá-lo do sofrimento, como em Sófocles. E nunca passam disso as supostas originalidades da "transcrição" de Quinet.

A encenação é estranha: um banco-trono e algumas varas formam a cenografia, e os figurinos e adereços ficam todos com aspecto de tribos africanas ou brasileiras, que pouco ou nada têm a ver com o que acontece: Oidipous, por exemplo, em várias ocasiões tira a coroa, o colar e o manto, com o único objetivo de os repor após algumas falas. Ele, como todos os outros, usa uma saia comprida (vermelha para alguns, negra para outros), e tanto Oidipous quanto Iokaste não só caminham sobre altos coturnos como também os retiram e tornam a calçar sem que se possa saber exatamente por quê.

A direção, do autor, e o movimento, de Regina Miranda, insistem em grandes evoluções e contorções, que não levam a nada. O elenco (Marcelo Mello, Alexandre Braga, Aline de Luna, André Roman Infante, Carla Stank, Edson Barbosa, Gui Silveira, Lílian Chaloub, Priscila Paraíso, Simone Guimarães, Tarik Vasques e Vinicius Couto) é todo muito fraco e nada convincente, principalmente o intérprete não identificado de Oidipous.

"Oidipous, filho de Laios", na verdade, é mais um desastre do que uma tragédia, e certamente não traz qualquer enriquecimento à formulação do mito por Sófocles, que sabia o que estava fazendo.

9. Diversão e alegria em Boccaccio. Decameron — A arte de fornicar: encenação tem muitas qualidades, mas precisa de acabamento (publicado em 30/5/2009)

A fórmula de Boccaccio é mais ou menos infalível: para contar histórias diferentes, cria-se um ambiente no qual estão presentes todos os diferentes núcleos, e fica estabelecida a unidade do todo. No caso de "Decameron", em cartaz no Teatro das Artes, um grupo de nobres se isola em um palácio a fim de escapar da peste. A adaptação de Elísio Lopes deixa as coisas um pouco menos rígidas, pois, se no original existe uma alegre freira, nesta versão (ao que parece) são trazidas várias freiras com liberdade de ir e vir maior do que seria a norma. O diálogo, aliás, unifica muito mais o conjunto, com um vocabulário que segue o clima de Boccaccio apostando mais numa espécie de desbocado popular do que na pornografia ou no chulo. O resultado é divertido e alegre, embora merecesse um pouco mais de acabamento para estabelecer com mais clareza as várias tramas.

A encenação combina em tudo com o texto, ou seja, tem muitas qualidades, mas precisaria de uma limpeza de acabamento, que elevaria bastante o nível do todo. O cenário de Vera Oliveira, com vários planos interligados, é muito bom e permite que o uso da cor de tudo o que é vendido na feira apare��a com efeito encantador. Os figurinos de Cássio Brasil são quase tão bons quanto o cenário, com um certo ar de improviso que contribui para a determinação do tom geral da peça. Márcia Rubin faz boa contribuição no movimento e poderia ajudar ainda mais se conseguisse mais precisão na execução. A trilha de Caíque Botkay e as músicas de Zéu Britto têm o único defeito de serem executadas em vários decibéis acima do confortável, às vezes cobrindo as vozes dos atores; mas sem dúvida totalmente adequadas ao texto e à encenação. A luz de Paulo Denizot funciona muito bem no todo.

A direção de Otávio Müller estabelece bem o tom e o ritmo pedidos pelo texto, mas sem dúvida ganharia tornando a cena um pouco mais limpa e definida. Isso não significa que o espetáculo não renda bem; só que ele poderia ser ainda melhor do que é.

A atuação do elenco prima pela alegria, que por vezes se torna um pouco caótica demais, porém sem jamais perder o rumo. Sem dúvida alguns elementos são melhores do que outros, porém, a conivência do conjunto é o que dá o tom do espetáculo, e é preferível dizer que Fabiana Karla, Marcos Oliveira, Bel Kutner, George Sauma, Zéu Britto, Jô Santana, Claudia Borioni, Isabel Lobo e Hossen Minussi compõem um elenco de entusiasmo e rendimento de bom nível, e tornam este "Decameron" um espetáculo alegre e divertido.

10. Três horas e 20 minutos de caos. Obra de Molière é prejudicada por abordagem circense e elenco inexperiente (publicado em 15/9/2010)

O programa anuncia que "Escola de Molières" é "uma revisão do conceito tradicional de atuação teatral" e "um espetáculo de texto, músicas, improvisos e discussão animada e bem-humorada a respeito da função do teatro e do ator a partir da obra de um mestre do teatro de todos os tempos". Mas o que é na realidade apresentado no espaço cênico do Espaço Tom Jobim é um lastimável caos de três horas e 20 minutos (sem contar os 15 minutos iniciais de atraso), em que parte da obra de Molière é vitimada por alguma espécie de falsa alegria, recursos circenses e uma interpretação que, já nos avisou o diretor, é executada por quem tem apenas dois meses de formação, ao lado de outros cuja história atinge até 40 anos.

Aos primeiros 20 minutos de desordenada apresentação do elenco, segue-se mais confusão sobre o trabalho a ser realizado. Finalmente, começa uma fraca apresentação do início do "Improviso de Versalhes", que não tem qualquer chance de alcançar o público, já que este nunca teve qualquer oportunidade de ver "Escola de mulheres", menos ainda de ver "A crítica da Escola de mulheres" — e, portanto, não pode ter a menor ideia do que trata o dito "Improviso...", cujos texto e elenco dependem deste conhecimento.

Tudo isso, assim como os episódios que se seguem, é misturado com músicas e cantos de vários países e épocas, sem qualquer ligação com Molière ou com o que está sendo apresentado, em tom ou conteúdo. A amplidão do Espaço Tom Jobim é usada para muita correria, marcas exageradas e falas quase sempre gritadas, com uma vasta coleção de figurinos (atribuídos ao próprio elenco) feitos de roupas aproveitadas ou criadas para parecerem antes carnavalescas ou circenses do que evocativas da requintada e exigente época de Molière.

A seguir, temos a apresentação de pequenos trechos de várias obras de Molière, fora de qualquer contexto e, por isso mesmo, gratuitos e incompreensíveis, comprometidos pelo que deve ser a revisão do conceito tradicional da atuação teatral, sem que se possa constatar quaisquer vantagens no processo. A gratuidade das músicas e pseudo-danças só serve para prolongar a apresentação, que vai se tornando longa ao ponto de uma parte do público ir, aos poucos, abandonando a sala, bem antes que terminem as dolorosas mais de três horas.

O elenco é formado por 29 alunos dos vários cursos oferecidos por Amir Haddad, que anunciou que alguns tinham apenas dois meses de preparo, enquanto outros vêm de anos de experiências cênicas. O resultado é confuso e não sugere que a nova visão teatral tenha obtido melhor rendimento do que aquela em que modestamente se pretende apresentar o que o autor criou. E é uma pena que, em seu conjunto, o elenco não tenha tido a oportunidade de conhecer melhor o maravilhoso universo de Molière.

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