Teatro
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Por O GLOBO — Rio de Janeiro


Aderbal Freire-Filho e Marieta Severo — Foto: Hermes de Paula / Agencia O globo
Aderbal Freire-Filho e Marieta Severo — Foto: Hermes de Paula / Agencia O globo

Em 2004, a atriz Marieta Severo e o diretor Aderbal Freire-Filho, que morreu nesta quarta-feira (9) em decorrência de sequelas de um AVC, aos 82 anos, iniciaram um relacionamento mantido por quase duas décadas. Os dois vinham de dois longos casamentos — ela havia terminado uma união de 33 anos com o cantor e compositor Chico Buarque, ele também havia ficado casado por quase três décadas.

O amor maduro foi consolidado a partir de regras contemporâneas: os dois mantiveram casas separadas até o acidente vascular do diretor, em junho de 2020, quando a atriz montou um esquema hospitalar em casa para recebê-lo, com fisioterapia e fonoterapia, após um período de mais de seis meses internado.

Além da troca amorosa, os dois construíram uma longa parceria profissional. Desde a inauguração do Teatro Poeira, em 2005, criado por Marieta e a amiga Andréa Beltrão em um sobrado de Botafogo, Aderbal atuava como um terceiro diretor artístico do espaço. Ele também dirigiu a mulher em espetáculos de grande sucesso, como "As centenárias" (com texto de Newton Moreno, na qual Marieta contracenou com Andréa Beltrão) e "Incêndios" (adaptação do texto do dramaturgo libanês-canadense Wajdi Mouawad, que deu origem ao longa de mesmo nome, que concorreu ao Oscar de filme estrangeiro em 2011).

Os dois inclusive chegaram a ficar internados no mesmo hospital, o Copa Star, em Copacabana, Zona Sul do Rio, em dezembro de 2020, quando a atriz contraiu Covid. Os cabelos brancos, que a atriz adotou desde então, surgiram em decorrência da enfermidade do marido, já que ela temia se infectar quando fosse ao cabeleireiro. A mudança a agradou, após passar quase 30 de seus 74 anos retocando os fios com tinta escura, como contou ao GLOBO sobre como a pandemia libertou "a mim e a um monte de mulheres" das imposições estéticas.

Relembre a carreira de Aderbal Freire-Filho

Nascido em Fortaleza, Aderbal começou a carreira artística já aos 13 anos, atuando em grupos amadores e semi-profissionais de teatro. Formou-se em Direito na capital cearense, mas não chegou a exercer a profissão. Em 1970, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde fez sua estreia como ator em “Diário de um louco”, de Nikolai Gogol, encenando a obra dentro de um ônibus que percorria as ruas da cidade.

Como diretor teatral, ficou conhecido por sua ousadia experimental e suas montagens pouco tradicionais. Sua estreia nesta função foi em 1972 com a peça “O cordão umbilical”, de Mário Prata, e seu primeiro grande sucesso veio um ano depois, na direção do monólogo de Roberto Athayde, “Apareceu a Margarida”, estrelado por Marília Pêra.

Em 1973, fundou o Grêmio Dramático Brasileiro, experiência em que montava simultaneamente, com o mesmo elenco num cenário único, peças nacionais, entre elas “Um visitante do alto", "Manual de sobrevivência na selva”, também de Roberto Athayde, “Pequeno dicionário da língua feminina” e “Réveillon”, de Flávio Márcio.

Aderbal foi um defensor da integração do teatro brasileiro com os de países da América do Sul e passou os últimos anos encenando peças entre o Brasil e o Uruguai. Em 2018, recebeu, inclusive, o título de visitante ilustre pela Câmara Municipal de Montevidéu. Desde a década de 1980, montava espetáculos na Argentina, Colômbia, entre outros. A peça "Mão na luva”, de Oduvaldo Vianna Filho, foi vencedora, no Uruguai, do Prêmio Florencio de melhor espetáculo estrangeiro em 1985.

Shakespeare e prêmio Shell

Na virada da década 1980, Aderbal se estabeleceu no Teatro Glaucio Gill, até então desativado, com uma companhia de teatro. Estreou em 1990 com “A mulher carioca aos 22 anos”. No local, também encenou peças de grandes figuras nacionais, como “O tiro que mudou a História”, sobre Getúlio Vargas, e “Tiradentes, inconfidência no Rio”, sobre o conspirador mineiro. Em 1994, o governo do Estado do Rio expulsou a companhia do teatro.

Desde então, Freire encenou suas obras em diversos outros teatros pela cidade, em adaptações de Vinicius de Moraes e clássicos de Shakespeare, como "Macbeth" e “Hamlet”, este último estrelado pelo ator Wagner Moura.

Após mais de uma década fora dos palcos, em 2011, voltou a atuar no espetáculo “Depois do filme”, que também dirigiu e escreveu. Em 2013, recebeu o Prêmio Shell de Teatro na categoria Melhor Diretor pela montagem da peça "Incêndios", que tinha Marieta Severo como protagonista.

Em 2017, como conselheiro, lutou pela sobrevivência da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais, a Sbat, que passava por crise financeira, classificando a associação de autores como "pioneira nas Américas”.

Além de ator e diretor, Aderbal foi apresentador, de 2012 a 2016, do programa “Arte do Artista”, na TV Brasil. Também seguiu com sua vida acadêmica: foi professor na Casa das Artes de Laranjeiras, na Escola de Teatro Martins Pena e na Faculdade de Letras da UFRJ, além de coordenar um curso de pós-graduação lato sensu na Escola de Comunicação da UFRJ.

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