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Por — Rio de Janeiro

O escritor e roteirista Ron Leshem, criador de séries israelenses como “Euphoria” (que depois foi adaptada para os EUA por Sam Levinson e virou um sucesso global pela HBO) sabe que o filme “Cidade de Deus” é citado pela maioria dos estrangeiros para elogiar o audiovisual brasileiro. Então, ele vai além. Lista “Sob pressão”, da TV Globo (“melhor que todos os seriados médicos que vi nos últimos dez anos”) e “Dom”, do Prime Video (“nos EUA, as pessoas amaram”) como séries recentes que adora. Chega a apostar que as produções“Cidade dos homens”, seriado exibido de 2002 a 2005, e “A força do querer”, novela de 2017, cuja autora, Gloria Perez, ele cita pelo nome, fariam sucesso hoje em dia nos EUA pelo ritmo das narrativas.

— Os americanos só assistiam a histórias americanas, com personagens americanos no solo americano — diz Leshem, por chamada de vídeo direto de Boston, onde mora. — Agora, as novas gerações estão explorando programas estrangeiros. É uma grande mudança.

As transformações e tendências mundo afora, assim como a experiência que adquiriu em TV e cinema, tanto em Israel como nos EUA, serão alguns dos temas que Leshem vai abordar no dia 5 de junho, durante sua passagem pelo Rio2C, que acontece na Cidade das Artes, na Zona Oeste carioca, entre os dias 4 e 9 de junho (veja mais na página 2). Leshem é uma das estrelas de um painel no palco Global Stage e de uma masterclass no Business Hall, esta somente para quem tem credenci al Industry.

Zendaya e Hunter Schafer, na segunda temporada de 'Euphoria' — Foto: HBO
Zendaya e Hunter Schafer, na segunda temporada de 'Euphoria' — Foto: HBO

‘Não é um programa teen!’

Nos dois espaços, um tema não vai poder faltar: como uma série israelense protagonizada por adolescentes, que estreou em novembro de 2012 num canal a cabo e durou apenas uma temporada, tornou-se um dos maiores sucessos recentes da HBO no mundo?

Ron Leshem, criador da série 'Euphoria' original — Foto: Divulgação/Rachel Tine
Ron Leshem, criador da série 'Euphoria' original — Foto: Divulgação/Rachel Tine

Estrelada por Zendaya, a versão americana (que tem Leshem como um dos produtores executivos) já ganhou nove Emmys em suas duas temporadas desde a estreia, em 2019, ao mostrar os altos e baixos de Rue, uma jovem viciada em drogas. A terceira parte está a caminho, prevista para 2025, e deve manter o ritmo que a consagrou: cenas de sexo e nudez entre os personagens, que, muitas vezes, questionam os estereótipos de gênero; exibição de drogas e álcool; e uma estética de roupas e maquiagens que viralizaram nas redes.

— Quis escrever sobre a sensação de viver num mundo que não tranca ideias como amor, romance e gênero numa caixinha. E sobre como cada trauma molda toda a sua trajetória de vida. Desde o início, sabia que queria fazer “Euphoria” com criadores em outros lugares. Tentei nos EUA por sete anos e todo mundo disse “não”. Diziam que tinha que ser mais divertida, mais didática. Falavam: “é uma série teen, porque os personagens são adolescentes. Então temos que obedecer algumas regras de narrativa para esse público”. E eu respondia: “não é um programa teen!”.

O israelense conseguiu levantar o projeto com Sam Levinson, filho do cineasta Barry Levinson, de “Rain Man” (1988). O americano colocou na versão dele todo o drama que viveu anos antes.

— Sam é um gênio, e queríamos que tivesse a liberdade para criar a narrativa que quisesse. Ele trouxe a história de si mesmo, do vício quando adolescente. Ajudamos com a ideia da linguagem, do tom, do DNA.

Baixo orçamento

“Euphoria” est á longe de ser um caso isolado de série israelense transformada em produto americano que ganha o mundo. O próprio Ron Leshem, quando era executivo de conteúdo de uma rede de TV, trabalhou na negociação de “Prisoners of war” (“Prisioneiros de guerra”, em tradução livre) para a TV americana, que o transformou no sucesso “Homeland”, com Claire Danes. “BeTipul” foi sucesso na América como “In treatment”, mas não só. Ganhou versão no Brasil como “Sessão de terapia”, com Selton Mello, no GNT e Globoplay.

— Quando falamos sobre a venda de formatos, Israel é, todo ano, número um ou dois do ranking —diz Ron, que pretende também abordar, na palestra do Rio2C, o sucesso do país. — A primeira razão disso é que o nosso público fica entediado com facilidade. Portanto, precisamos ser ousados e, ao mesmo tempo, ser mainstream, o que é contraditório. Israel é muito pequeno. Não dá para fazer programas de nicho. E outro ponto é o baixo orçamento. Constantemente reinventamos as coisas.

Nascido em Tel Aviv em 1976, Ron Leshem começou sua carreira como jornalista e, inclusive, trabalhou como repórter na Faixa de Gaza, onde desde 7 de outubro do ano passado ocorre um violento conflito com ataques empreendidos por Israel após atentado terrorista do Hamas em território israelense. O assunto, inclusive, ficou fora desta entrevista por um pedido do próprio roteirista, que enviou como justificativa, por escrito, uma história pessoal:

“Apesar de ter deixado Israel há muitos anos, estes meses estão sendo extremamente dolorosos. Minha tia, uma ativista pela paz durante toda a vida, foi assassinada da forma mais horrível que se possa imaginar. O filho dela também foi raptado e, após 99 dias cruéis, foi morto. O Hamas filmou a execução e enviou para minha família”, escreveu. “Lamento o sofrimento de cada pessoa inocente nesta horrível tragédia. Espero que seja possível salvar vidas e trazer a paz por meio da arte. Sinto que ainda não posso falar sobre a guerra, e a situação é muito complexa para ser resumida em duas frases.”

Indicado ao Oscar

No entanto, Leshem contou, durante a conversa, que migrou para o audiovisual e — também para a literatura — por estar cansado da cobertura dos conflitos locais.

— Eu era editor num tempo de guerra no Oriente Médio. Para ser honesto, fiquei tão deprimido que se tornou impossível emocionalmente digerir aquilo. Toda noite, eram centenas de fotos de corpos.

Da decisão, saíram também três livros, que o trouxeram algumas vezes ao Brasil para participar de feiras literárias. O mais famoso é “Beaufort”, sobre a saída de uma tropa do exército de Israel da área do castelo de Beaufort, no Líbano. A obra ganhou o Sapir, um dos principais prêmios para a literatura em hebraico e foi transformada num longa homônimo, indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2007. Leshem foi um dos roteiristas.

— A experiência no jornalismo me ajudou demais no processo de escrita e de contar história — ele diz. —O mundo não é um lugar bom neste momento, em qualquer lugar. Na ficção dramática, isso vem como um grande consolo. Todo desastre tem uma função, acontece por um motivo, ajuda o herói numa trajetória emocional. Eu me apaixonei por isso.

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