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GERADO EM: 29/06/2024 - 03:30

J. Borges: 60 anos de xilogravura no Museu do Pontal

J. Borges, renomado xilogravurista brasileiro, recebe retrospectiva no Museu do Pontal, no Rio de Janeiro, celebrando suas seis décadas de carreira. Sua obra é destacada por temas universais e memória, com destaque para a xilogravura presenteada ao Papa Francisco. Borges, aos 88 anos, continua ativo em seu ateliê em Bezerros, Pernambuco, e recebe o título de cidadão carioca.

Aos 88 anos, José Francisco Borges já foi lavrador, marceneiro, vendedor de colher de pau, criador de cordel, apontador de jogo do bicho. Mas foi como J. Borges que o pernambucano de Bezerros, a cerca de cem quilômetros do Recife, ganhou fama no Brasil e no mundo como uma das principais referências da xilogravura.

Suas seis décadas de trajetória artística serão celebradas na exposição “J. Borges — O sol do sertão”, maior retrospectiva dedicada à sua produção, que o Museu do Pontal, na Barra, Zona Oeste do Rio, inaugura neste sábado. Além da mostra com 200 obras selecionadas por Angela Mascelani e Lucas Van de Beuque, diretores da instituição, o fim de semana terá a tradicional Festa Junina do Pontal, com shows de Juliana Linhares e Trio Forrozão, entre outras atrações, tendo o pernambucano como tema.

Dividida por temas numa disposição que dialoga com a exposição de longa duração do museu, a retrospectiva terá xilogravuras produzidas por J. Borges dos anos 1970 até hoje, algumas acompanhadas de suas matrizes em madeira talhada, e um amplo conteúdo documental. A literatura de cordel, porta de entrada de J. Borges para a gravura, terá um espaço de destaque.

— Ele aprende a ler aos 12 anos com os cordéis e depois passa a vendê-los na feira, nos anos 1960. Logo ele começa a produzir seus livros e cria xilogravuras para ilustrá-los. Ele teve uma importância grande também como editor de cordéis, o que nem sempre é lembrado em sua trajetória — contextualiza Lucas. — Sua carreira foi construída a partir das muitas dificuldades que enfrentou. Até o nome artístico, J. Borges, foi definido a partir da necessidade de reduzir seu nome para assinar as artes no espaço limitado do cordel.

Nos anos 1970, o pernambucano começa a conquistar colecionadores no Rio, para onde vinha frequentemente, trazendo sua produção para a venda e passando temporadas em casas de amigos, sobretudo no bairro de Santa Teresa. Em seguida, passa a ilustrar obras de nomes como o paraibano Ariano Suassuna e o uruguaio Eduardo Galeano. Do acervo reunido na retrospectiva, estão cerca de 50 trabalhos do próprio Pontal, do Museu do Folclore, no Catete, Zona Sul do Rio, e de coleções particulares.

Lucas Van de Beuque e Angela Mascelani com obras de J. Borges, durante a montagem — Foto: Leo Martins
Lucas Van de Beuque e Angela Mascelani com obras de J. Borges, durante a montagem — Foto: Leo Martins

Se no passado J. Borges conheceu no Rio o fundador do museu, o designer francês Jacques Van de Beuque (1922-2000), na época já detentor de um dos acervos de referência da arte popular no Brasil, a ligação do pernambucano com a instituição ficou eternizada com o painel “Asa Branca”, de 24 metros quadrados, pintado esta semana por Pablo Borges, xilogravurista de 30 anos que segue o legado do pai na oficina da família em Bezerros.

— A “Asa Branca”, com sua referência do clássico de Luiz Gonzaga, é um dos temas que atravessam a obra de J. Borges. O museu adquiriu a sua na década de 1990, e a exibiu pela primeira vez já nos anos 2000. É uma das obras que estão atreladas à nossa identidade — comenta Angela. — O Pontal é reconhecido pelas esculturas, e exposições como esta nos dão a chance de mostrar uma parte menos explorada da coleção, como as gravuras e pinturas.

J. Borges risca matriz em seu ateliê em Bezerros (PE) — Foto: Divulgação/Lucas Van de Beuque
J. Borges risca matriz em seu ateliê em Bezerros (PE) — Foto: Divulgação/Lucas Van de Beuque

Por conta de limitações de movimentos, J. Borges não conseguiu vir ao Rio para acompanhar a abertura da mostra, mas acompanha com entusiasmo os relatos de Pablo sobre a feitura do painel e a montagem. A relação com a cidade será ainda mais aprofundada com o título de cidadão carioca, que Pablo receberá hoje, na abertura, em nome do pai.

— Agora vou me unir ao povo carioca. Sendo cidadão, vou gostar ainda mais do Rio. Hoje já não consigo ir, mas já pintei e bordei muito por aí — brinca J. Borges, por telefone, de seu ateliê em Bezerros, onde vai diariamente. — Acordo todo dia às 6h30, tomo um cafezinho e vou pro ateliê. Vem muita gente visitar, turista e ônibus de escola. Tem dia que só consigo almoçar depois de 14h, 15h. Já dei palestra e ensinei nos Estados Unidos, na França, na Suíça, em Cuba, na Alemanha. Hoje fico mais quietinho aqui em Bezerros mesmo.

Para todos os bolsos

Dos 24 filhos de J. Borges (sendo 18 biológicos e seis adotivos), Pablo é um dos que mantêm o legado do pai, na oficina de Bezerros (o irmão, Bacaro, montou ateliê próprio). Para além da homenagem ao patriarca, a retrospectiva colabora com pesquisas para o memorial mantido pela família no local.

— A preparação da exposição teve uma troca muito boa, com a gente trazendo muito material exclusivo e o Pontal cedendo pesquisas, compartilhando essa parte da organização da instituição — comenta Pablo, que passou dois dias no alto de uma plataforma articulada para recriar a “Asa Branca” na lateral do prédio. — A gente já tem a experiência com painéis, mas em locais privados. É importante ter uma intervenção num museu. Mesmo ele não podendo vir, uma parte dele está aqui.

Pablo Borges no alto de uma plataforma articulada durante a pintura do painel 'Asa Branca' no Pontal — Foto: Leo Martins
Pablo Borges no alto de uma plataforma articulada durante a pintura do painel 'Asa Branca' no Pontal — Foto: Leo Martins

Entre temas de destaque na produção do pernambucano, como “O discurso da onça” e “Emboscada de Lampião”, a mostra vai destacar a xilogravura “Jesus, Maria e José. A Sagrada Família”, como a que foi presenteada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Papa Francisco em junho de 2023, durante viagem ao Vaticano. Para Maria Alice Amorim, autora do livro “J. Borges: entre fábulas e astúcia” (2019, Editora Cepe) e consultora da retrospectiva, o sucesso do artista vem de abordar temas universais sem deixar de ser um cronista de sua aldeia:

— Ele trabalha com a tradição, mas está atento a tudo o que acontece, não é algo estático. J. Borges fala muito sobre a memória, é uma palavra que ele gosta, mas ao mesmo tempo ele sabe renová-la.

Outra razão do sucesso, segundo o próprio, é querer ver suas obras em todos os lugares:

— Nunca quis me prevalecer do meu nome para cobrar caro pelo meu trabalho. Meu preço é aquele que o doutor compra, o presidente compra e o ajudante de pedreiro também compra. Quero que todo mundo fique com uma gravurinha minha.

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