Cultura
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Por — Rio de Janeiro

Em “Vou te receitar um gato”, best-seller japonês que chega às livrarias em julho pela Intrínseca, a adoção de felinos revoluciona a vida de personagens em crise. Em uma das histórias, um gato destrói os documentos de um corretor mal-humorado, fazendo ele perder o seu emprego tóxico e redescobrir a felicidade. Em outra, uma gatinha ajuda um pai a se reconectar com a esposa e a filha.

Traduzida em 22 países, a obra de Syou Ishida é apenas mais um exemplo da volta por cima dos gatos na cultura global. Após anos sofrendo com os rótulos de traiçoeiro, indiferente e interesseiro, o animal passa por um verdadeiro rebranding, estrelando livros, games e documentários que atualizam a sua imagem.

Nas chamadas “ficções de cura”, fenômeno editorial do qual faz parte “Vou te receitar um gato”, ele é símbolo de reconforto e transformação. No universo infanto-juvenil, cria uma conexão instantânea com os jovens leitores por sua fofura. Já nas redes sociais, segue mais do que nunca uma presença fortíssima, seja em vídeos, memes e até como influencer.

— Gatos viraram estrelas de rock — diz Shawn Harris, coautor (com Mac Barnett) de “O primeiro gato no espaço e a pizza (quase) impossível” (Todavia), ficção juvenil em que um gato astronauta simplesmente salva a humanidade. — Eles atraem nossa atenção, se aproveitam dela, e, de repente, sem aviso, se retiram. São grandes enigmas.

Autora do romance “Sete bruxas e um gato temporário” (Galera Júnior), sobre um felino que vende seus serviços em um aplicativo de feitiços para bruxas, Índigo Ayer acredita que o gato tem tudo a ver com o nosso tempo.

— Ele não gosta de relacionamento forçado e precisa sentir que tem escolha — justifica. — Acho que por isso tem inspirado tantas narrativas.

Em 2022, Índigo lançou “Contos da toca” (Globo Livros), que traz a perspectiva de bichos como girafas, pinguins e flamingos durante a pandemia de covid. Entrar na cabeça de um gato, porém, é sempre especial para ela:

— Como personagem, ele é muito mais rico e multidimensional.

Grazi Massafera, Taylor Swift e Carolina Dieckman: paixão por gatos — Foto: Reprodução/Instagram
Grazi Massafera, Taylor Swift e Carolina Dieckman: paixão por gatos — Foto: Reprodução/Instagram

O lado místico

“Sete bruxas e um gato temporário” brinca com o lado místico dos gatos, que há séculos são associados à magia negra por seu ar misterioso e habilidades físicas que parecem sobrenaturais. Ainda que continue gerando medo e preconceito, o enigmático comportamento felino passou a ser percebido com outros olhos nos últimos anos.

É o que mostra o documentário “Dentro da mente de um gato” (2022), da Netflix. Segundo especialistas ouvidos no longa, os gatos foram até agora mal compreendidos porque os cientistas não tinham tanto interesse em estudá-los. “Maior amigo do homem”, o cachorro concentrava toda a atenção. Com o aumento de gatos nos lares e sua popularidade, porém, surgiram novos “gatólogos” decididos a decifrar seus segredos e desfazer velhos mitos e mal-entendidos. O que antes era rotulado como esquisitice agora é tratado como uma capacidade única em se conectar com os humanos e “ler” os sentimentos de seus tutores.

Esse sexto sentido dos gatos é tema dos recentes romances “O gato que amava livros” (Planeta) e “A biblioteca dos sonhos secretos” (Sextante). Ambas as publicações exibem capas quase idênticas. Retratam um ambiente aconchegante, onde se vê uma janela aberta em primeiro plano, uma pilha de livros e, claro, um gato com ar meditativo. Nas duas histórias, o animal é um agente de autorreflexão. Ao cruzar com eles, os personagens passam a entender melhor os seus próprios desejos e identidades.

Cena de "Dentro da Mente de um Gato", documentário na Netflix   — Foto: Divulgação/Netflix
Cena de "Dentro da Mente de um Gato", documentário na Netflix — Foto: Divulgação/Netflix

O rebranding felino já mostra impactos na economia como um todo. Segundo o The Economic Times, só uma das gatas de Taylor Swift, Olivia, já possui um patrimônio de R$ 500 milhões — valor superior ao do seu namorado, o jogador Travis Kelce.

No Japão, que sempre tratou o gato como sagrado, o fenômeno já tem até apelido — catnomics — e deve movimentar cerca de R$ 853 bilhões em 2024. Segundo o jornal nipônico Mainichi, só os gastos de consumidores com a indústria cultural (livros e outros produtos relacionados a gatos) passaria dos R$ 50 milhões.

A publicação cita ainda outro negócio que floresce no Japão e em outros países: os cafés de gato, em que os clientes podem tanto consumir quanto brincar com os bichanos da casa. No Brasil, um dos pioneiros no segmento é o carioca Gato Café, criado pela catlover Giovanna Molinaro. O empreendimento, que acolhe animais resgatados por ONGs, faturou R$ 2,5 milhões no ano passado, batendo também a marca de 500 gatos adotados.

— Quando os clientes entram na área reservada para os gatos, já sentem uma vibe diferente — diz Giovanna. — A ideia é mostrar essa personalidade incrível do gato. Como é um animal que sai pouco de casa, só os tutores o conhecem de fato. Maravilhosos os gatos já são, agora só falta alguns humanos perderem alguns preconceitos infundados e darem uma chance de conviver com eles. Se deixarem, vão dominar o mundo!

Terapeuta digital

A ascensão dos gatos no mundo contemporâneo começou a acontecer em uma área que ele domina como poucos: a internet. Professor da Universidade Católica de Pernambuco, o pesquisador Fernando Fontanella estudou o impacto dos felinos na construção de uma cultura digital, especialmente a partir dos lolcats (fenômeno que combina uma fotografia de gato com uma legenda humorística) nos fóruns de imagens dos meados dos anos 2000. Lá atrás, o bichano teria ajudado a moldar a maneira como nos comunicamos na web hoje — e agora está colhendo os frutos.

— Essa fascinação atual pelos memes de gato está muito atrelada a um momento em que a internet era uma coisa de um grupo pequeno, específico e pioneiro — diz Fontanella. — Lá pela metade dos anos 1990 e início dos anos 2000, ainda era aquele espaço que a sua tia e a sua avó não conseguiam entender. A hipótese da minha pesquisa é que o gato virou um repertório-símbolo dessa subcultura justamente por não ser ainda tão popular. Ele era aquele animal esquisito, o “lado B” dos pets, assim como podia ser definida a própria internet em seus primórdios.

Gato Café, em Botafogo, no Rio de Janeiro — Foto: Leo Martins
Gato Café, em Botafogo, no Rio de Janeiro — Foto: Leo Martins

De mascote da linguagem underground no auge dos fóruns online, o gato já pode ser considerado uma figura mainstream na era das redes sociais. Absurdamente fotogênico e imprevisível na frente das câmeras, ele é garantia de likes e engajamento. Pesquisas mostram que gatos movimentam cerca de 15% do tráfego na internet, o que se deve também a sua incrível capacidade de gerar conteúdo.

— Nas redes sociais, o gato está dentro de uma lógica bem inclusiva e democratizada de produção de conteúdo — diz Fontanella. — Não precisa ser um creator profissional: basta apontar a câmera do celular para o seu gato dormindo na sua cama que já vai render um meme. É bem mais difícil de conseguir esse tipo de conteúdo automático com o cachorro. O gato traz esse exercício de adivinhar o que pensa um animal que nunca revela o que está pensando.

Parafraseando Andy Warhol, todo felino deverá ter seus 15 minutos de fama na internet — e alguns já tiveram muito mais do que isso. Com sua carinha mal-humorada, o Grumpy Cat se tornou um dos primeiros gatos influencers ainda em 2012. Ao falecer, em maio de 2019, continuava um ícone. Outros influencers surgiram desde então, cada um alcançando a fama por uma razão específica. Há gatos que angariam seguidores apenas por conta de seu estilo de miado. Outros conquistaram a internet com uma trajetória de superação, seja lidando com alguma deficiência física ou superando uma situação de abandono.

O gatinho ucraniano Stepan (@loveyoustepan no Instagram) viralizou com um vídeo em que observa com expressão desencantada uma taça de vinho em um ambiente festivo. Hoje refugiado por conta da guerra em seu país, acumula 1,5 milhão de seguidores.

Já a americana Winky (@winkythedwarfcat), que sofre de um raro tipo de nanismo, alcançou meio milhão de seguidores após a internet descobrir a semelhança de seus olhos esbugalhados com os da atriz Emma Stone.

Sem perda de tempo

Quando os gatos aparecem fazendo coisas inacreditáveis na nossa timeline, fica mesmo difícil não parar para ver. Ao perceber o interesse do usuário, o algoritmo indica outro vídeo, e depois outro — e assim se criam novos iniciados.

Ao contrário do que muitos pensam, consumir esse tipo de conteúdo não é, necessariamente, uma perda de tempo. Um estudo publicado na revista Computers in Human Behavior em 2014 descobriu que conteúdos de gatos na internet são uma espécie de “terapia digital”. Pode aliviar o estresse e inspirar sentimentos agradáveis. Contudo, nem todos os vídeos que aparecem na sua timeline fazem bem à saúde dos bichanos.

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— Essa grande visibilidade na internet ajudou a espalhar a mensagem de como é bom ter um gato em nossas vidas — diz a veterinária Lavínia Fernandes, especialista em comportamento felino e autora do livro “Pensando dentro da caixa (de areia)”. — Mas também temos muitos memes e vídeos que, ainda que não pareçam, são resultados de situações de maus-tratos e desrespeito aos animais. Nesses casos essa facilidade de propagação pode ser negativa, pois acaba incentivando outras pessoas a reproduzirem algo que pode fazer mal aos seus gatos.

O pulo do gato

A seguir, exemplos de como os gatos andam roubando a cena por aí:

  • Influencer: Alguns gatos brilham nas redes, como o explorador Suki, o raro Venus (com uma cor em cada lado do rosto) ou o mal-humorado Grumpy. E Nala consta no “Guiness Book” como o gato com mais seguidores no Instagram: 4,5 milhões.

  • Cinegrafista: Mr. Kittens revela seu dia a dia usando uma câmera GoPro acoplada no pescoço. Pelo seu ponto de vis- ta, os seguidores acompanham rusgas com outros gatos, aventuras por te- lhados, escaladas em altu- ras vertiginosas e outras façanhas de um blockbuster hollywoodiano.
  • Gamer: O game “Stray” permite ao jogador controlar um gato de rua em meio a uma cidade distópica repleta de robôs.
  • Coach: O estilo de vida e a filosofia felina podem inspirar leitores. Pelo menos é o que indica o sucesso de livros de autoajuda como “Agir e pensar como um gato” (Valentina) e “Miados de sabedoria” (Belas-Letras).
  • Curandeiro: A figura do gato está cada vez mais presente na chamada “ficção de cura”. Ele costuma aparecer como um agente que ajuda os personagens a mudarem os rumos de suas vidas.
  • Companhia: Quem ama seus gatos quer estar sempre perto deles. Que o diga a cantora Lana Del Rey, que sempre gosta de aparecer com seu bichano.

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