Cultura
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Por — Rio de Janeiro

O cinema não foi mais o mesmo desde que, há 56 anos, Charlton Heston cavalgou pela praia e se deparou com uma imagem que ninguém esperava: uma Estátua da Liberdade em ruínas. A cena está presente em “O Planeta dos Macacos” (1968), clássico da ficção científica dirigido por Franklin J. Schaffner, e representa um dos finais mais impactantes da história da sétima arte. De lá para cá, a saga inspirada em romance francês escrito por Pierre Boulle se transformou em fenômeno da cultura pop, que já rendeu continuações e revivals e inspirou música e diferentes adaptações.

“Planeta dos Macacos: o reinado” chega aos cinemas amanhã como uma continuação da trilogia realizada entre 2011 e 2017, mas também como uma tentativa de reiniciar a saga. A trama se passa anos após a morte do chimpanzé César, com os macacos divididos em grupos e com os humanos cada vez mais perseguidos. É neste cenário que conhecemos Noa, um jovem macaco que luta para superar as expectativas do pai. Quando seu clã é ameaçado pelo violento Proximus César, ele acaba embarcando numa jornada, na companhia da humana Mae (Freya Allan), para salvar aqueles que ama.

— É o “Planeta dos Macacos” dos nossos tempos — diz Owen Teague, que ajuda a dar vida a Noa, por meio da chamada roupa de captura de movimento (traje com sensores que fazem a performance do ator ser registrada e depois transformada em dados — no caso do longa, nos macacos que serão vistos na tela). — Vivemos um momento em que falamos muito em autocracias e ditaduras ao redor do mundo. Este filme é sobre um líder que pega as palavras de uma figura histórica (César) e as deturpa para benefício próprio.

Owen Teague como Noa em "Planeta dos Macacos: O reinado" — Foto: Divulgação
Owen Teague como Noa em "Planeta dos Macacos: O reinado" — Foto: Divulgação

Conhecida pelo trabalho na série “The Witcher”, Freya também valoriza o lado político e humanitário por trás da história.

— Nos damos mal na realidade quando as pessoas se prendem a uma ideia e deixam a humanidade de lado a ponto de sermos cruéis uns com os outros, e o filme fala disso — conta a atriz.

O uso da ficção científica para falar de temas sérios não é novo. Faz parte da essência do gênero.

— A ficção científica cresce muito no cinema no período pós-Segunda Guerra Mundial, muito inspirada no cenário da Guerra Fria e na bomba nuclear. Cresce muito a ideia do apocalipse e como as guerras vão trazer a destruição para a Terra — diz Carlos Primati, pesquisador de cinema fantástico. — “O Planeta dos Macacos” é uma síntese das ideias da ficção científica e de como ela lida com um mundo transformado, que retrata um passado que na verdade é o futuro.

Primati destaca o gênero também pela busca por novas tecnologias. Não por acaso, filmes como “O Planeta dos Macacos” e “Matrix” acabam influenciando a própria forma de fazer cinema. Ainda que homens vestidos como macacos já existissem no cinema bem antes do lançamento do longa original, foi a partir da produção de 1968 que o trabalho de caracterização e maquiagem passou a ganhar destaque em Hollywood. Em 1969, o maquiador John Chambers recebeu um Oscar especial pelo trabalho de caracterização dos macacos, anos antes de a premiação instituir o prêmio de melhor maquiagem, em 1981.

Já os mais recentes longas da saga, começando em “Planeta dos Macacos: a origem” (2011), promovem outra técnica: a captura de movimento. Nascida em “O senhor dos anéis”, a atuação com trajes de captura de movimento atinge um novo nível na nova quadrilogia dos macacos.

— Não esperava ter tanta liberdade. Achei que ficaria travado nessa prisão da tecnologia, mas foi bem longe disso — conta Kevin Durand, intérprete do vilão Proximus César. — Foi libertador não precisar ficar me preocupando em como a minha cara ficaria parecendo em cada ângulo. Me libertei dessa vaidade humana.

O ator comemora também a oportunidade das seis semanas de preparação.

— Fomos para a “escola de macacos” e viramos um grupo. Tivemos a sorte de contar com a ajuda de Alain Gauthier, um artista incrível que foi diretor do Cirque du Soleil por 25 anos. Ele nos ensinou como trabalhar nossos movimentos e ainda tinha uma abordagem científica, explicando as diferenças de cada espécie de macacos.

Frutos nacionais

Como fenômeno da cultura pop, “O Planeta dos Macacos” teve impacto em todo mundo, inclusive no Brasil. Em 1976, foi lançado “O trapalhão no Planalto dos Macacos”, de J.B. Tanko. Visto por 4,5 milhões de pessoas nos cinemas, o longa é uma paródia do clássico de 1968 estrelada por Renato Aragão, Dedé Santana e Mussum — Zacarias faria seu primeiro filme dos Trapalhões apenas dois anos depois.

Já no final dos anos 1990, antes mesmo da tentativa de Tim Burton de resgatar a franquia, com “Planeta dos Macacos” (2001), um fracasso de público e crítica, a franquia foi homenageada pela banda mineira Jota Quest em seu segundo álbum, “De volta ao planeta”. A primeira música de trabalho trazia referências diretas aos filmes não apenas na letra — que também diz: “está faltando emprego no planeta dos macacos” —, mas também no clipe oficial, que teve concepção visual de Gringo Cardia.

— Sempre fui muito fã da saga clássica, sempre achei muito impactante essa coisa do homem que volta do espaço e encontra a Terra destruída com os macacos tomando conta da bagunça — diz Rogério Flausino, vocalista da banda e um dos compositores da música. — A cada ano que passa essa franquia fica mais atual.

Capa do disco "De volta ao planeta", do Jota Quest — Foto: Reprodução
Capa do disco "De volta ao planeta", do Jota Quest — Foto: Reprodução
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