Cultura
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Por — Rio de Janeiro

Foram momentos que o carioca Arthur Verocai, de 78 anos, jamais esquecerá. Em agosto do ano passado, em sua primeira turnê americana, ele se apresentou para mais de 3 mil pessoas (1.500 ficaram do lado de fora), com orquestra, num show em Nova York, no lendário Lincoln Center, numa homenagem ao hip-hop — gênero que no alvorecer dos anos 2000 começou a samplear seu LP de 1972, um disco que, na época do lançamento, quase ninguém ouviu. Lá, encontrou um amigo das antigas, o pianista Dom Salvador, que vivia na cidade já havia 50 anos. E disse a ele: “Você me falou que eu era maluco por causa daquele disco! E olha agora: 3 mil pessoas aqui gritando ‘Verocai’!”

E mais: o prestigiado rapper Tyler, The Creator foi ao camarim de um dos shows da turnê em Los Angeles e, mais tarde, com Verocai, criou toda uma trilha para um desfile da Louis Vuiton. Autor de arranjos para discos recentes de Marisa Monte, Seu Jorge, Criolo, Rubel, Xênia França, Glue Trip e o grupo australiano Hiatus Kaiyote, o músico simplesmente não tem parado de trabalhar.

No momento, ele está envolvido com a criação de sua primeira trilha no gênero terror (para um filme do Monstro do Pântano, personagem da DC Comics) e prepara arranjos para não só para um próximo trabalho de Lulu Santos como para um projeto conjunto com o grupo americano de jazz alternativo BadBadNotGood (com o qual se apresentou no festival Mita de 2023).

O arranjador Arthur Verocai, com o grupo americano BadBadNotGood, no festival MIta, em 2023, no Jockey Club do Rio de Janeiro — Foto: Lucas Tavares
O arranjador Arthur Verocai, com o grupo americano BadBadNotGood, no festival MIta, em 2023, no Jockey Club do Rio de Janeiro — Foto: Lucas Tavares

Apresentada pelo projeto Jazz is Dead, do produtor e DJ americano Adrian Younge, a primeira turnê do carioca pelos Estados Unidos (que passou também por Chicago e Berkeley) contou com as participações do cantor Rogê (Verocai fez os arranjos para seu novo disco, que está sendo gravado, e o anterior) e atriz e cantora Samantha Schmütz, ambos radicados nos Estados Unidos. Foi a realização de um velho sonho do arranjador, que já vinha fazendo apresentações pontuais no país desde 2009.

— Em 2019, eu fiz dois shows lá no mesmo dia, num lugar que dava umas 700 pessoas. Naquela ocasião eu falei: “Pô, cara, você tem que arranjar uma turnê, porque eu viajei horas para chegar até aqui aos Estados Unidos e já tenho que voltar!”— diverte-se Verocai. — Aí veio a pandemia e, no ano retrasado, começaram a preparar a turnê. Foi legal, porque aí fiz dois shows dois shows lotados, em Los Angeles, no Teatro Mayan, para umas 1.300 pessoas cada noite, com orquestra e tudo. E o pessoal vibrando, cantando até as músicas em português. Só foi um pouco trabalhoso porque tive que ensaiar com cada uma das orquestras nas cidades. Mas o pessoal lá é muito profissional.

Arthur Verocai, que já tem gravações sampleadas por 69 músicas de artistas do mundo inteiro, cresceu na Urca, com um pai que gostava de escutar discos de grandes orquestras (“um dia ele comprou uma flautinha de camelô e ficava tocando as melodias”). Ainda adolescente, começou a apender violão sozinho, com o caderno da irmã. Depois, teve aulas com Roberto Menescal, que o apresentou à obra e ao povo da bossa nova. Em 1965, Verocai teve a sua primeira composição gravada (“Olhando o mar”, parceria com Ronaldo Soares), no disco “Estamos aí”, de Leny Andrade.

Experimentos com arranjos

Em 1968, por pressão da família, formou-se em Engenharia, mas não durou muito na profissão. Fã de Henry Mancini, Eumir Deodato, Radamés Gnatalli e Erlon Chaves, foi estudar harmonia com Nair Barbosa da Silva e devorar livrinhos com partituras de Debussy e Ravel (“comecei ali a ver como soavam os instrumentos”). Em Além Paraíba (MG), onde a família tinha fazenda, experimentou arranjos com os sopros de uma banda de baile. Seu primeiro arranjo gravado veio logo depois, em 1969, num festival universitário, com “A menina e a fonte”, defendida pelos Golden Boys.

— Ninguém sabia que eu sabia fazer arranjo, aí eu comecei pintar uma coisinha ou outra. O Paulinho Tapajós, que na época era meu parceirão, entrou na Philips e aí comecei a trabalhar para O Terço, Ivan Lins, Marlene... — conta ele, que acabou caindo nas graças de um Jorge Ben (fez os arranjos para o LP “Negro é lindo”, de 1971). — A última vez em que eu encontrei com o Jorge foi numa madrugada, no Jazzmania. Ficamos batendo papo e ele falou: “Na Itália o pessoal gosta dos seus arranjos!”

O arranjador Arthur Verocai, em 1970 — Foto: Arquivo
O arranjador Arthur Verocai, em 1970 — Foto: Arquivo

Verocai escrevia arranjos para a cantora Célia, quando esta conseguiu convencer a gravadora Continental, a apostar num disco dele.

— Pensei: “Não sou cantor não sou nada, o que vou fazer aqui? Vou vender milhões de cópias? Não, então vou botar música ali dentro e foda-se!” Fiz o que eu sentia e foi uma foi uma desgraça. Na época, ninguém curtiu, o disco não teve nem show de lançamento — recorda-se. — O chato é que eu fiquei com uma fama de maluco beleza, de irresponsável de ter feito um disco daquele jeito. O pessoal era muito careta. Eu era eclético, esse disco tem bossa, tem funk, tem até um country jazzificado, o “Caboclo”.

‘Aí veio o primeiro sample...’

Depois do LP “Arthur Verocai”, a carreira do arranjador entrou em declínio. Ele foi trabalhar com publicidade e até ajudou a criar o jingle da Linha Vermelha (“agora você tem mais no seu dia / agora você tem mais tempo para viver”, cantarola).

Nos anos 1990, o tecladista do Azymuth, Zé Roberto Bertrami, deu o toque de que aquele seu disco maldito estava ganhando nome entre os DJs ingleses. Em 2002, Verocai recebeu um e-mail de Andrew Jervis, do selo Ubiquity Records, que se mostrou interessado em relançar o álbum nos Estados Unidos (o que dez, no ano seguinte).

— Aí veio o primeiro sample, do (grupo americano) Little Brother (na música “We got now”, de 2005). O hip hop lá nos Estados Unidos é negócio poderoso. Eu, que nunca fiz hip hop nem nada, fiquei famoso lá por casa dele, as pessoas viraram fãs do meu disco, eles curtem mesmo o troço, é muito louco! — anima-se Verocai, que antes disso sequer mostrava seu LP de 1972 para o filho, Ricardo, também músico. — Quando você faz a coisa com vontade e não acontece nada, então é como se não tivesse feito.

Capa do LP de 1972 do arranjador Arthur Verocai — Foto: Reprodução
Capa do LP de 1972 do arranjador Arthur Verocai — Foto: Reprodução

Hoje, no meio de todo trabalho, o arranjador ainda tem planos de fazer mais um disco de inéditas, para o selo inglês Far Out, e um show no Teatro Municipal, com convidados, “comemorando não sei o quê, mas comemorando”.

— Um show luxuoso, em grande estilo, para celebrar a minha ooooobra... — diz, com muita ironia.

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