Adão Iturrusgarai viaja demais. E não é no sentido figurado, como se costuma dizer, de brincadeira. Gaúcho de Cachoeira do Sul, ele já viveu em Porto Alegre, Paris, São Paulo, Buenos Aires, Gaiman, Playa Unión (ambas também na Argentina), Punta del Este (Uruguai) e, a partir da segunda-feira (09/10), vai passar a morar ainda, ao menos metaforicamente, na página de quadrinhos do Segundo Caderno do GLOBO, com a tira “A vida é um risco”, ao lado de colegas como André Dahmer e Ricardo Siri, o Liniers, que, assim como Iturrusgarai, vive no país de Maradona.
— É um novo desafio. Adoro desafios. Estou bastante empolgado — conta o cartunista diretamente de Villa Carlos Paz, cidade a 40km de Córdoba, onde mora atualmente com a mulher, argentina, e um casal de filhos. —Obviamente que meu humor tem uma característica e isso nunca se perde. Mas pretendo trilhar novos caminhos, experimentar e tentar fazer algo que agrade a meus novos leitores.
![Tirinha "A vida é um risco", de Adão Iturrusgarai — Foto: Adão Iturrusgarai](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/ofCcw31Pnd_InwIYsUuDCdX7W40=/0x0:2755x752/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/o/6/XxlBwbRCSmMBfPykUE9w/globo-pes-chatos-1.jpg)
Conhecido pela criação de personagens como o sincerão Homem-Legenda, os caubóis gays Rocky e Hudson e a desavergonhada Aline, que já virou até série de TV com Maria Flor, Iturrusgarai começou a publicar seus desenhos num jornal de Cachoeira do Sul quando tinha 17 anos de idade. Em 1983, foi para Porto Alegre estudar Publicidade e Propaganda e, anos depois, participou de revistas como “Animal”, “Mil perigos” e “Chiclete com banana”, além de ter editado com Gilmar Rodrigues a polêmica publicação independente “Dundum”.
Com 25 anos, Iturrusgarai partiu para Paris em busca de glória e fortuna. Nenhuma das duas veio, mas a experiência rendeu o livro de saborosas crônicas autobiográficas e de autossabotagem chamado “Paris por um triz — Aventuras de um cartunista” (Zarabatana Books):
— Era um sonho de menino que surgiu com o cartum. Sempre me inspirei no Henfil e no Wolinski, que poderiam ser caracterizados como “escritores que desenham”. Foi muito legal experimentar a prosa.
![Tirinha "A vida é um risco" — Foto: Adão Iturrusgarai](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/BZNGL_NMzCFetzR5tQMROAYFby4=/0x0:2126x567/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/B/c/zpLAdtQyCxqTpe0r518Q/globo-viuva-negra-091023-1.jpg)
Durante um bom tempo de sua vida em São Paulo, na década de 1990, Iturrusgarai fez parte do grupo de cartunistas Los 3 Amigos, ao lado de Angeli, Laerte e Glauco (1957-2010), como uma espécie de D’Artagnan satírico.
— Trabalhei de 1993 a 1999 com eles. Foi uma experiência fascinante para mim, que os tenho como ídolos — conta Iturrusgarai. —Aprendi muito com Los 3 Amigos, não só profissionalmente, e hoje continuo mantendo vínculo com Laerte e Angeli. Eles já eram tão loucos quando os conheci. Já tinha passado a época de farras, estavam mais maduros e calmos.
Hoje, com 58 anos, é Iturrusgarai quem parece estar mais calmo e maduro, assim como os velhos amigos de farras e quadrinhos. E, desde 2006, vive na Argentina, país em que diz ser muito bem tratado.
— Estou sempre entre as fronteiras, indo e vindo.Minha empresa e meus trabalhos estão 98% no Brasil. Então poderíamos dizer que vivo nos dois países —explica o cartunista. — Os argentinos gostam muito do Brasil e do brasileiro. Invejam as nossas praias, nossa alegria e nossa economia mais estável. Acho que quem sofre mais é o argentino que está no Brasil. Mas de vez em quando sacaneiam o 7 x 1 da Alemanha.