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Em 2022, 17 anos depois do lançamento do último álbum de canções originais dos Rolling Stones, Mick Jagger decidiu que a banda hesitara e procrastinara por tempo suficiente. Tinha havido sessões de gravação esporádicas; músicas inacabadas se acumulavam. Charlie Watts, baterista de longa data e pilar rítmico da banda, falecera em 2021, mas a banda continuou fazendo turnês sem material novo.

"Não havia quem supervisionasse. Ninguém dizia: 'Este é o prazo final'", contou Jagger. Então o cantor fez exatamente isso. O resultado é "Hackney Diamonds", coleção barulhenta, rabugenta e impenitente de novas músicas de uma banda que se recusa a amadurecer com a idade.

Para o novo álbum, a parceria de composição às vezes conflituosa de Jagger e Keith Richards encontrou uma maneira de se realinhar. Perto do fim das sessões, eles até terminaram de escrever uma canção – "Driving Me Too Hard" – em uma sala juntos, como faziam nos primeiros anos. "Somos uma dupla esquisita, cara", disse Richards em videoentrevista do escritório de seu empresário em Nova York, cercado de produtos e memorabilia dos Stones. Uma faixa prendia seu cabelo grisalho; a capa emoldurada do álbum "Tattoo You", de 1981, com o rosto estriado de Jagger, estava pendurada acima dele. "Eu o amo muito, e ele me ama muito, e vamos deixar assim."

Nova explosão

Previsto para sair em 20 de outubro, "Hackney Diamonds" é ao mesmo tempo uma recapitulação e uma nova explosão. O álbum se aprofunda no estilo dos Stones, estabelecido há muito tempo: riffs de guitarra vigorosos, vocais orgulhosamente intempestivos de Jagger, bases de blues e interações de guitarra sempre improvisadas. "Sabe, é desse jeito – mas talvez pudesse ser de outro. Em primeiro lugar, sem improvisação não seria nada. Quero dizer, não existem regras para o rock 'n' roll. É por isso que ele existe", comentou Richards.

Nas novas músicas da banda, Jagger canta sobre frustração, desejo, fuga, resistência e transcendência. "Angry", a faixa de abertura, oscila entre a conciliação e a exasperação. A punk "Bite My Head Off" – que conta com Paul McCartney tocando um baixo intenso e distorcido – reage às tentativas de controle de alguém. E a melancólica e country "Depending on You" lamenta um romance perdido: "Eu estava fazendo amor, mas você tinha planos diferentes", canta Jagger.

As músicas são tocadas de forma despretensiosa e orgânica, sem tratamento por computador; aceleram e desaceleram com o pulso humano. E o álbum homenageia o status de instituição da banda, contando com participações de McCartney, Stevie Wonder, Lady Gaga e Elton John.

Jagger zombou da ideia dos Rolling Stones como uma instituição: "É só uma banda."

Mas Ronnie Wood, o guitarrista que se juntou à banda em 1975, valoriza as seis décadas de continuidade. "Essa tem sido a minha função durante todos esses anos: manter minha instituição funcionando. Quando Mick e Keith se desentendiam, eu dava meu melhor para reconciliá-los – pelo menos para que conversassem e fizessem os motores funcionar de novo", disse ele em videoentrevista de seu apartamento em Barcelona, na Espanha.

Direto ao ponto

O título do álbum vem de uma gíria londrina. Hackney é um bairro no leste de Londres que há muito tempo tem má reputação, embora ultimamente tenha se tornado mais sofisticado. Wood explicou que os "diamantes de Hackney" são pedaços de vidro quebrado de um para-brisa de carro depois que um arrombamento o estilhaça, acrescentando: "Muitas das faixas têm essa explosão. Esse é um álbum que realmente vai direto ao ponto."

Ao fazer o novo LP, a banda recuperou "um senso de urgência", afirmou Jagger, de Paris, em videoentrevista, com pinturas da elegante nobreza francesa na parede atrás dele. É claro que os membros de longa data dos Rolling Stones – Jagger, de 80 anos, Richards, de 79, e Wood, de 76 – não estão ficando mais jovens.

Jagger também disse ter percebido que "precisamos envolver alguém que possa estalar o chicote". Essa pessoa foi Andrew Watt, de 32 anos, que ganhou um Grammy como produtor do ano em 2021. Ele fez sucessos pop com Miley Cyrus e Justin Bieber e revigorou álbuns do fim da carreira de Ozzy Osbourne e Iggy Pop. Também é guitarrista, fã dos Rolling Stones e estudou todas as sequências de guitarra do repertório da banda.

Como produtor, ele foi "orientado para resultados", contou Watt. "Eu era o novato, e não tinha a bagagem que vem com uma banda que está junta há mais de 60 anos. Aquelas pessoas têm uma longa história, especialmente Mick e Keith. Portanto, a única maneira que encontrei para navegar por essas águas foi agir com rapidez."

Depois de anos de sessões inconclusivas e de dúvidas autoconscientes, os Stones fizeram "Hackney Diamonds" no que Richards chamou de "uma blitzkrieg" – em questão de meses, e não de anos. "Trabalhamos depressa, mas essa era a ideia. Ainda estou me recuperando", contou às gargalhadas.

Segundo Jagger, o cronograma de gravação apertado deixou de lado as dúvidas: "Fazemos quatro ou cinco tomadas e 'o.k.', vamos em frente. Assim, ninguém tem tempo de pensar: 'Bom, essa música é boa? Vale a pena cantá-la?' Porque fico introspectivo, sabe. Essa faixa é tão boa quanto a outra? Essa canção é parecida com outra que já fiz? Você pode descobrir isso mais tarde. O melhor é ir em frente."

Uma turnê foi adiada, atrasada pela demora na prensagem do vinil e por causa dos estádios já reservados para as turnês de Beyoncé e Taylor Swift. Mas o álbum ficou pronto; foi de fato gravado, embora não totalmente mixado, em 14 de fevereiro.

"Acho que nos demos muito bem nesse disco. É claro que divergimos em relação a muitas coisas, mas acho que isso é bem normal. Às vezes sinto que Keith acha que gosto de tudo rápido demais. Mas sei que as coisas têm de ser rápidas, porque sou uma pessoa totalmente do groove", comentou Jagger.

Richards também. "O ritmo é a coisa mais importante na vida. Muito do que se ouve não é o que se ouve – é o que se sente. E isso é uma questão de ritmo", observou ele.

Base em Watts

O groove dos Stones teve sua base em Watts, que faleceu aos 80 anos. "Teria havido alguma banda Rolling Stones sem Charlie Watts, mas sem Charlie Watts não teriam existido estes Rolling Stones. Foi um dos caras mais calorosos que conheci, tão tolerante com os outros. Ele realmente me impedia de matar pessoas. Quando penso nele, começo a chorar. Obrigado por me fazer chorar", disse Richards.

O último álbum completo de Watts com a banda foi "Blue & Lonesome", conjunto de covers de blues, em 2016. Mas a bateria de Watts, das sessões com o produtor anterior dos Stones, Don Was, conduz duas músicas em "Hackney Diamonds". Uma delas, "Live by the Sword", também inclui o baixista original aposentado dos Stones, Bill Wyman, e um piano estilo honky-tonk de Elton John.

Quando Watts ficou frágil demais para se apresentar, os Rolling Stones continuaram em turnê com um novo baterista: Steve Jordan, que Watts havia recomendado a Richards na década de 1980, quando este fundou a X-Pensive Winos.

"Charlie era como uma queima de fogos de artifício e Steve é como um trem. Com a morte de Charlie, o bastão foi passado para Steve Jordan. Foi um momento muito especial. Estávamos ensaiando em Boston quando soubemos que Charlie tinha morrido. Tivemos um dia de folga e pensamos: 'Charlie não gostaria que ficássemos sentados nos lamentando.' Voltamos logo ao trabalho e continuamos – mantivemos a chama acesa", contou Wood.

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