Cultura
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Por Bolívar Torres — Rio de Janeiro

Uma das maiores especialistas do mundo em literatura portuguesa, sobretudo na obra de Luís de Camões e Fernando Pessoa, Cleonice Berardinelli (1916-2023) deixou uma parte do seu acervo para o Real Gabinete Português de Leitura, no Centro do Rio. O material ficará reunido no Memorial Cleonice Berardinelli, que será inaugurado hoje, quando ela completaria 107 anos, em sessão restrita a convidados.

— Queríamos ressaltar a relação dela com o Gabinete — diz Gilda Santos, diretora do centro de estudos e amiga de Cleonice, que era carinhosamente chamada de Dona Cleo.

Morta em janeiro, a pesquisadora, professora e imortal da ABL sempre manteve um vínculo forte com o lugar. Há registros da sua presença constante de 1947 a 2014. Seu memorial foi abrigado na Galeria dos Estuques, um espaço localizado no segundo andar de um prédio anexo. Seu memorial reúne elementos biográficos (fotos, cartas, objetos pessoais) e também profissionais, como estudos, livros e prêmios. Confira algumas das principais curiosidades de seu acervo.

Dona Cleo, no Real Gabinete Português de Leitura — Foto: Daniela Dacorso
Dona Cleo, no Real Gabinete Português de Leitura — Foto: Daniela Dacorso

Morta em janeiro, a pesquisadora, professora e imortal da ABL sempre manteve um vínculo forte com o lugar. Seu memorial foi abrigado na Galeria dos Estuques, um espaço localizado no segundo andar de um prédio anexo. Seu memorial reúne elementos biográficos (fotos, cartas, objetos pessoais) e também profissionais, como estudos, livros e prêmios. Confira algumas das principais curiosidades de seu acervo.

Pequena declamadora

Parte do fascínio que Cleonice exercia em seus alunos vinha de sua dicção perfeita ao declamar textos em aula. Sua interpretação em voz alta destacava a sensibilidade e o mistério de cada palavra.

Cleonice interpretou a filha de Leopoldina em espetáculo encenado no Teatro Municipal de São Paulo em 1926 — Foto: Ana Branco/ Agência O GLOBO
Cleonice interpretou a filha de Leopoldina em espetáculo encenado no Teatro Municipal de São Paulo em 1926 — Foto: Ana Branco/ Agência O GLOBO

Uma das curiosidades mais “fofas” do acervo mostra que o dom para a declamação foi desenvolvido desde cedo nos palcos. Trata-se do programa de um espetáculo encenado no Teatro Municipal de São Paulo em 1926, que registra a estreia teatral da futura grande dama dos estudos de literatura portuguesa. Escrita por Paulo Setúbal, a peça celebrava o centenário de Dona Leopoldina. Aos 10 anos de idade, ela interpretou a “princezinha” D. Maria da Glória, filha da imperatriz. O documento traz uma foto da menina Cleo olhando timidamente para baixo’’’’’.

Em uma entrevista de 2015, ela relembrou a experiência: “Adorei fazer esse papel”, disse. “Essa é a (minha) apresentação mais antiga, sem contar com pequenas apresentações bobinhas no colégio”.

Tese de doutorado

Em 1958, Dona Cleo foi a primeira a defender uma tese sobre Fernando Pessoa no Brasil — e a segunda no mundo (o pioneiro é o português Jacinto do Prado Coelho). Entre os documentos que estão agora no Real Gabinete Português de Leitura, estão não apenas a sua tese original (intitulada “Poesia e poética de Fernando Pessoa”) como as anotações que ela fez durante a sua arguição. Enquanto os professores da banca lançavam observações, ela ia marcando pontos para contra-argumentar em seguida.

Após a tese de livre docência, não demorou para que ela passasse para o outro lado, exercendo o magistério por mais de meio século, em instituições como Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), PUC-Rio, Universidade Católica de Petrópolis e Instituto Rio Branco. Orientou 74 dissertações de mestrado e de 42 teses de doutorado ao longo de sua carreira acadêmica.

Quando Cleonice decidiu pesquisar Pessoa, vale lembrar, a fama póstuma do poeta português ainda estava longe de ser consolidada, e os estudos em torno de sua obra ainda engatinhavam. A tese, que deve sair em 2024 pela primeira vez em livro pela Colecção Pessoa, da editora Tinta-da-China, é famosa por antecipar diversos tópicos sobre o autor.

— Apesar de ter sido defendida há mais de 60 anos, a tese traz pontos que depois foram apresentados por outros pesquisadores como a descoberta da roda — explica Rodrigo Xavier, responsável pela edição.

Dedicatória de José Saramago a Cleonice Berardinelli — Foto: Ana Branco/ Agência O GLOBO
Dedicatória de José Saramago a Cleonice Berardinelli — Foto: Ana Branco/ Agência O GLOBO

Segundo Xavier, Cleonice teria sido a primeira a explorar na obra de Pessoa temas ainda atuais como a angústia metafísica, o vício de pensar, o tédio e a solidão, o sonho e a irrealização. Curiosamente, a própria acadêmica acabou se interessando por outros caminhos e, em seu longa trajetória pessoana, aprofundou muito pouco as novidades que havia tateado em sua tese.

Além da tese, outro item que pode ajudar pesquisadores interessados em Cleonice são os seus diários de estudos, que manteve a partir de 1945 durante seu doutorado em cantigas medievais (antes de se bandear para Fernando Pessoa).

— Ela conta, semana a semana, o que está estudando. É extraordinário — diz Gilda Santos.

Dedicatórias e corujas

O arquivo inclui ainda o fardão da ABL. E há alguns itens pessoais divertidos, como os objetos em formato de coruja que Cleonice Berardinelli colecionava. Sempre que seus amigos viajavam traziam alguma corujinha de presente.

Nas estantes, destaque para uma coleção de livros com dedicatórias que Manuel Bandeira recebeu de grandes autores portugueses, como Adolfo Casais Monteiro. O poeta os repassou para Cleonice sabendo da expertise dela nessa área. Da coleção de assinaturas reunidas pela própria Cleonice, há dedicatórias de nomes como Vasco Graça Moura, Jorge de Sena, Eduardo Lourenço e José Saramago. O nobel português escreveu em um exemplar de seu romance “Levantado do chão” (1980): “A Cleonice, este ‘Levantado do chão’, história de gente sofredora, mas inconformada. Com estima pessoal e intelectual, José Saramago”.

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