Cultura
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Por Reynaldo Gianecchini, O GLOBO

Primeiro, conheci o José Celso Martinez Corrêa através do trabalho dele. E como ele se mostra inteiro naquele palco/casa que é o seu Teatro Oficina!

Como ele é visceral, grandioso, gigante mesmo, provocador, libertador e inspirador como é o teatro que ele oferece generosamente ao seu público fiel, que sabe que ali vai encontrar espaço para sair do chão, voar e alcançar lugares inimagináveis. Sim, ele e o teatro são uma coisa só, a mesma verdade, o mesmo motor gerador de tanta eletricidade.

Depois, o conheci de perto quando entrei para aquela trupe maravilhosa do Teatro Oficina. Nem nos meus melhores sonhos podia visualizar um começo de carreira tão intenso e determinante como esse.

Naquele momento, entendi que dali pra frente nada seria como antes, meu destino nas artes estava selado.

Achei que nunca mais sairia do lado dele, que não haveria terreno mais fértil do que aquele para eu me encontrar, me desenvolver como ser humano e artista. Mas um golpe do destino me levou para a TV. Topei o desafio do novo que se apresentava, mas nunca tirei o Zé Celso e seu Teatro Oficina de mim.

Depois de um hiato de 20 anos, nos reencontramos no documentário “Fédro”, promovido pelo inspirado Marcelo Sebá.

Fiquei muito nervoso, porque sabia que ia mexer fundo nas minhas emoções. Topei o desafio de, agora, mais maduro, tentar me aproximar mais dele e dialogar, tentando enxergar camadas mais profundas dessa experiência que é estar ao lado dele. Porque Zé Celso é o ser mais livre e sem amarras que alguém pode conhecer. E não tem como não ser contagiado, tocado por essa força.

Como ele mexe com nossa liberdade! Ou a ausência dela, porque ao lado dele entendemos que ainda temos muito o que conquistar em relação a isso.

Alguns podem rejeitá-lo, porque essa liberdade também dá medo. Outros, como eu, no mínimo param para refletir.

Os entendimentos chegam sempre na hora certa para cada um. Com o Zé Celso, tenho a sensação de que, para ele, certas coisas sempre foram claras desde cedo.

Só agora, depois, e por causa, desse último encontro com ele, tive a real dimensão de que tanta coisa já andou dentro de mim rumo a essa tal liberdade.

A liberdade de poder ser, na potência do meu desejo, na minha expressão própria, sem amarras, sem ter que negociar nada. Que aula!

Obrigado, Zé Celso. Sei que as fichas vão continuar caindo, porque você tem esse dom natural de nos tocar fundo.

Quem é Zé Celso?

Nascido em 1937, em Araraquara, Zé Celso é considerado um dos principais dramaturgos do país, e tem seu nome associado desde o final dos anos 1950 com o Teatro Oficina, uma das mais importantes companhias brasileiras, há 65 anos em atividade. O grupo tem origem no Centro Acadêmico 11 de Agosto, da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, onde o futuro dramaturgo e diretor estudava, e, com outros estudantes, fundou o Grupo de Teatro Amador Oficina. Dirigidos por Amir Haddad, seus primeiros textos são autobiográficos: "Vento forte para papagaio subir" (1958) e "A incubadeira" (1959).

Em 1961, já em processo de profissionalização, o grupo aluga a sede do Teatro Novos Comediantes, tendo como fundadores, além de Zé Celso, Renato Borghi (1937), Ítala Nandi (1942) e Etty Fraser (1931-2018). Neste período, a companhia obtém repercussão montando textos como "Pequenos burgueses" (1963), do russo Máximo Gorki (1868-1936), com influências do método Stanislavski. Com o golpe militar no ano seguinte, a peça é censurada e obrigada fazer cortes.

Ainda em 1964, o diretor monta "Andorra", do suíço Max Frisch (1911-1991), usando a crítica ao antissemitismo do texto original para abordar o regime militar brasileiro, e marcando a transição do grupo ao teatro épico de Bertolt Brecht (1898-1956). Entre 1964 e 1966, Zé Celso viaja para a Europa, e, na volta ao Brasil, monta no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) "Os inimigos", outro texto de Gorki. No mesmo ano, o prédio do Oficina é incendiado por grupos paramilitares, e a companhia remonta antigos sucessos para levantar fundos.

Zé Celso morreu aos 86 anos após incêndio em apartamento

O dramaturgo Zé Celso Martínez morreu na manhã desta quinta-feira em São Paulo. O estado de saúde do dramaturgo havia tido um agravamento na quarta-feira, quando desenvolveu quadro de insuficiência renal. Desde então, o quadro se agravou, sem que ele conseguisse responder ao tratamento. O diretor teve falência dos órgãos na manhã desta quinta. Ele havia sido internado na UTI do Hospital das Clínicas desde a manhã desta terça, após sofrer queimaduras devido a um incêndio em seu apartamento no Paraíso, Zona Sul de São Paulo.

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