A beleza, a inteligência ou o talento não são mérito de ninguém. Você veio assim de fábrica, por sorte ou artes do destino ou encontro fortuito de cromossomos, certo é que não fez nada por isso. Sim, alguns conseguem desenvolver esses dons naturais com trabalho, esforço e dedicação, exercitando o corpo e a cabeça, estudando e ampliando seus conhecimentos sobre o mundo e sobre si mesmo, melhorando e usando esses dons para conquistar seus propósitos e objetivos, para dar sentido à sua vida, para ser útil à sociedade.
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Outros, graças a esses preciosos dons, usados em causa ou calça própria, estão na vida a passeio, para se divertir e desfrutar de prazeres fugazes, de encontros e desencontros vazios, sem aprender nem construir nada, só consumindo — e sendo consumido, sem saber. Quando olham para trás, estão com 40, 50 anos, e se dão conta de como gastaram seu tempo, da mediocridade e futilidade de sua existência.
Como dizia o psicanalista e filósofo Hélio Pellegrino, a inteligência voltada para o mal, ou para o egoísmo, acrescento, é pior do que a burrice. A beleza e o talento também, quando só servem ao egocentrismo e narcisismo disfarçados de autoestima, que perdem suas horas se admirando diante do espelho, até que um dia o espelho quebra e só restam cacos. De vidro e de pessoas, na solidão, no desamparo e na desesperança. É verdade, amigo: o ego é seu maior inimigo. Ou seja, maior o coqueiro, maior é o tombo do coco. Isto é uma metáfora.
Com a hipervalorização das aparências no mundo virtual, a beleza física se tornou um dos ativos mais valiosos. Há os que a usam para exibi-la, oferecê-la, para seduzir, conquistar, levar vantagem na luta pela sobrevivência, no trabalho, nas relações humanas, gastando o imenso capital inicial com que foram privilegiados. Mas, se não tiver novos investimentos, um dia acaba. Não bastam os cosméticos e as intervenções.
Restam os trabalhos medíocres e tediosos para garantir a sobrevivência, física e espiritual.
Quantas inteligências brilhantes e grandes talentos se perdem nos desvãos da vaidade e do narcisismo, escolhem o lado errado da História, se tornam gênios do mal, grandes lideres de multidões ensandecidas e de causas indefensáveis, e geralmente têm finais trágicos, pela violência ou pelo desprezo e pelo esquecimento, ou autodestruídos por drogas, ganância e vaidade.
Papo reto: o que vale mesmo é o caráter. Carl Jung reconheceu a afirmação de Heráclito, 500 anos antes de Cristo, de que “caráter é destino”. Os golpes do destino podem ser felizes ou cruéis, e pessoas podem nos tratar mal ou bem, mas nossa experiência dessas coisas e o que fazemos com elas dependem do estado de nosso caráter. Sim, o caráter pode se desenvolver e se fortalecer quando exercitado no dia a dia, nas pequenas e grandes escolhas, nas renúncias e aceitações. Ou afrouxar pela autocomplacência, pela preguiça e pela vaidade, pela arrogância de se achar superior pela beleza, inteligência ou pelo talento.