Nelson Motta
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Nelson Motta

Jornalista, compositor, escritor, roteirista e produtor.

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Nelson Motta

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Estou comemorando 200 mil seguidores de minha página no Instagram, por ironia, numa crônica no velho jornal de papel. Não é quase nada comparado aos milhões que seguem artistas e influencers, mas já é uma façanha para quem era novo na área, de uma geração pré-digital, da idade do byte lascado.

Não, nunca ambicionei ficar rico e famoso na internet. Queria fazer contato, trocar ideias com estranhos interessantes, queria que me acompanhassem, mas não a qualquer custo, “mostrando a bunda na internet” (isto é uma metáfora), mas pelas minhas histórias e meus pensamentos. Queria seguidores “qualificados”, que entendessem o que estou falando, que comentassem, que acrescentassem. Não bastam coraçõezinhos vãos, mas os comentários que os textos provocam.

Acreditem, mesmo sem ganhar nada com isso, trabalhei como se dependesse disso para viver, para fazer a página valer a pena. Foram muitas horas escrevendo e reescrevendo textos de dois mil caracteres, exigindo síntese e densidade das palavras, ilustradas com fotos bonitas ou provocativas, ou as duas coisas, como um complemento. Imaginem só, um texto de dois mil caracteres, no Insta, é chamado de “textão” rsrs. Esse que você está lendo tem três mil... e é muito mais duro de preencher. Às vezes você já disse tudo em dois mil e ainda tem que, como dizia meu bisavô, “encher linguiça” com mais mil. Bem... pode ser uma linguiça gourmet, se houver paciência, imaginação e rigor no trabalho de enchê-la.

Às vezes é o contrário, falta espaço para dizer tudo que se quer, completar e aprofundar o raciocínio, para explicar melhor temas complexos. No Insta o espaço é o que você quiser, exatamente o que você precisa, desde que menos de dois mil caracteres. Você pode entregar só o filé-mignon, sem nenhuma gordura, pelanca ou carne dura. A linguiça é opcional.

Outra vantagem é a periodicidade, que é você que estabelece, baseado em “quando tiver alguma coisa interessante a dizer”. Ralei mais de dez anos fazendo colunas diárias para jornal: a partir de um certo tempo é um tormento, com a urgência atropelando a qualidade, a rotina esfriando o tesão de escrever, de tentar divertir, informar, emocionar o leitor.

Foram 735 crônicas sobre arte, cultura, comportamento, que se ampliaram para depoimentos pessoais sobre as aventuras de meu coração, minha cabeça e minha saúde, minha idade e minhas dificuldades, esperando inspirar as pessoas com minhas experiências de vida. As melhores e as piores. Sim, uma vida no jornalismo escrito ajuda muito, é quase tudo, para expressar suas ideias. É o que diferencia profissionais de amadores nas redes sociais, disputando audiência e atenção.

É muita gente, quase três Maracanãs, interessada no que tenho a dizer, também uma baita responsa, com pessoas não virtuais, mas de carne e osso, que dão sentido ao meu trabalho.

Não é preciso nem agradecer nem parabenizar, se aprende tanto lendo como escrevendo. E ouvindo. Assim como numa relação amorosa, interlocução é tudo.

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