A renomada pianista Martha Argerich divulgou na terça-feira (9) uma carta assinada por ela, de Barcelona, na qual se manifesta sobre o programa de Bolsas Martha Argerich, criado em 2021 por iniciativa do maestro Rolando Goldman, com a colaboração de Eduardo Hubert, e que depende da Secretaria de Cultura da Nação. As bolsas, que são bianuais, deveriam ter reiniciado em fevereiro. Além disso, a pianista denuncia que metade dos professores do Programa de Orquestras Infantis e Juvenis, atualmente sem um diretor responsável, não teve seus contratos renovados.
A Secretaria de Cultura da Nação informou que as Bolsas Martha Argerich não serão canceladas; o secretário Leonardo Cifelli assegurou ao diário argentino La Nacion que estava particularmente interessado na continuidade deste programa e que falaria com Argerich para confirmá-lo pessoalmente.
"Em março de 2021, o Maestro Rolando Goldman me propôs, com a colaboração de Eduardo Hubert, criar as Bolsas que levam meu nome, dentro do âmbito do Ministério da Cultura da Nação Argentina", escreve Argerich na carta. "Me pareceu uma boa ideia com o objetivo de ajudar jovens músicos das Orquestras Infantis e Juvenis dos bairros populares para que pudessem fazer uma capacitação intensiva com seus instrumentos musicais."
Os bolsistas são jovens maiores de 18 anos que participam do Programa de Orquestras Infantis e Juvenis, que Goldman dirigiu até 2023.
"A partir desse momento, 35 jovens foram escolhidos por um júri de figuras reconhecidas em nosso país. Alguns dos estudantes da Primeira Bolsa Bianual Martha Argerich, depois foram contratados e se tornaram professores das Orquestras. Dessa forma, puderam transmitir o aprendido a outros jovens. E lhes mudou a vida em relação ao seu futuro, de maneira notória", diz Argerich na carta.
Metade dos contratos do corpo docente ligado ao Programa de Orquestras Infantis e Juvenis não foi renovada pelo Governo. Argerich foi nomeada "madrinha" deste programa.
"Em 2023, uma nova leva de 40 jovens de todo o país se incorporaram às Bolsas. O trabalho que têm realizado é muito importante, e uma quantidade de docentes os estão formando com indubitável seriedade, dedicação e muito amor. Infelizmente, as autoridades do Governo nacional do meu país decidiram interromper as Bolsas (que deveriam ter começado em fevereiro deste ano) e demitiram esses e outros professores das Orquestras Infantis. Dessa maneira, estão privando os jovens da oportunidade de ter um futuro musical brilhante", escreve a pianista.
![Martha Argerich com o amigo Nelson Freire em cena do documentário de João Moreira Salles sobre o pianista brasileiro — Foto: Divulgação](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/XVyJifvqc1RcFXjE_4fFLXZ2aHw=/0x0:853x480/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/6/y/zA1hJKSuymhZFpcOOS9w/39129745-26042003-divulgacao-rs-via-mail-cena-do-documentario-nelson-freire-de-joao-moreira.jpg)
"Eu mesma recebi o apoio do Estado Argentino quando era jovem, e isso foi fundamental para minha formação e posterior carreira artística. Se o Estado não apoia e contribui para a cultura, o futuro é realmente perigoso", adverte a artista.
Ela conclui:
"Lamento profundamente que agora muitos fiquem sem essa possibilidade. Sei que também estão retirando o apoio a numerosos espaços da cultura. Se não se apoia a cultura, o futuro das crianças e jovens, e de todo o povo, corre perigo. Confio em que as autoridades voltem a pensar em continuar de alguma forma com estes programas."
Quem é Martha Argerich
Com o apoio do Estado argentino, em 1955, Martha Argerich pôde viajar para a Europa para continuar seus estudos musicais. Dois anos depois, ganhou as competições de piano de Bolzano e Genebra e, em 1965, o Chopin Internacional de Varsóvia. Em Viena, Argerich estudou durante dezoito meses com Friedrich Gulda e, depois, em Genebra, com Madeleine Lipatti e Nikita Magaloff.