No ano passado, tornou-se responsabilidade de Humberto Leon determinar como seria o visual de 20 mulheres jovens, com idade entre 14 e 21 anos. Entre as atribuições, ele tinha de escolher o tipo de roupa, sapatos, adereços e até o corte de cabelo e a maquiagem que elas deveriam usar.
— Quero que cada uma das 20 se destaque — disse Leon.
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Mas nem sempre as jovens gostam que alguém diga como devem se vestir — houve até lágrimas. “Não gosto do meu cabelo assim”, algumas disseram a Leon, que respondeu:
— Eu sei, mas confie em mim. Estou ajudando você a expressar melhor sua personalidade. Elas acham que sabem o que é melhor para si, e tenho de fornecer uma opinião objetiva sobre o que penso que ficaria ótimo nelas.
As 20 garotas competiram diretamente entre si para tentar se tornar uma das seis integrantes de um novo grupo pop, que se chamaria Katseye. Em sua estreia, o conjunto já contaria com o apoio da Hybe, gigante do entretenimento coreano que levou o K-pop para o mundo inteiro, e da Universal, maior gravadora do planeta. A competição também seria tema de uma série documental da Netflix.
120 mil candidatas
Durante todo o processo, a imagem pública das competidoras estaria nas mãos de Leon, de 48 anos, designer de moda que se tornou famoso em Nova York na década de 2000 com sua loja, a Opening Ceremony — butique popular para marcas emergentes. Em setembro de 2022, foi contratado como diretor criativo da competição para criar o grupo feminino, na qual 120 mil candidatas do mundo inteiro foram reduzidas a 20 concorrentes, ou “aprendizes”. Todas foram passar algum tempo em Los Angeles para um treinamento intensivo de canto e dança.
Em agosto, quando foram anunciadas as 20 finalistas, Leon as vestiu para sua primeira sessão de fotos em grupo, na qual usavam uniforme escolar de cor cinza e um blazer que mostrava o nome da competição: “Dream Academy”. Até novembro, metade delas foi eliminada por uma combinação de votos dos fãs e avaliações dos juízes — essa etapa foi documentada no YouTube. (“Não estamos formando uma turma de amigas, mas sim um grupo musical feminino”, disse uma jovem durante uma eliminação tensa.)
“Dream Academy” não foi a primeira vez que Leon trabalhou com um grupo feminino — em 2021, já havia dirigido o clipe de “Growing up”, do grupo The Linda Lindas, quarteto punk formado por garotas que, na época, tinham entre 10 e 16 anos.
Quando assistiu ao videoclipe, Michelle An, atual presidente de estratégia criativa da gravadora Interscope Geffen A&M, disse que achou “muito fofo, inovador e apropriado para a idade delas”. Segundo ela, seu trabalho é ajudar os artistas de sua gravadora, como Billie Eilish, “a construir um mundo visual”.
A Interscope Geffen A&M tinha um projeto incomum em andamento com a Hybe. O que começou como uma conversa sobre distribuição de música terminou com Bang Si-hyuk, presidente da Hybe, propondo a formação de um grupo em parceria. A Hybe levaria seu programa de treinamento do K-pop — mesmo sistema com o qual montaram a banda BTS — para os EUA pela primeira vez, trazendo aprendizes de várias regiões, e não só do leste da Ásia. Mas havia uma preocupação dos americanos: de que o grupo parecesse artificial.
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Os executivos disseram que, no “Dream Academy”, para fazer com que o grupo parecesse verdadeiro, as garotas tinham de se sentir reais. Não haveria arquétipos extremos como os que existiram nas Spice Girls (com nomes como Posh Spice, Sporty Spice e Baby Spice). Precisavam de alguém que pudesse destacar as diferentes origens e habilidades das meninas, mas que também lhes desse uma unidade visual. Estavam convencidos de que Leon era essa pessoa.
— No ramo do entretenimento, todos querem ter bom gosto, mas nem todos têm — observou Michelle An.
Mesmo assim, durante as 12 semanas em que a competição foi transmitida no YouTube, “Dream Academy” não se tornou exatamente um fenômeno internacional. Só três das 15 missões das aprendizes alcançaram mais de um milhão de visualizações, uma decepção para os padrões do K-pop.
No ano que vem, quando as seis vencedoras se reunirem para lançar músicas como o nome Katseye, o projeto terá mais uma chance de conquistar o público. Em 2024, a Netflix vai estrear a série documental sobre a competição, escrita por Nadia Hallgren, que dirigiu o documentário de Michelle Obama, “Becoming”. Esse pode ser o formato ideal para capturar o drama nos bastidores, mostrando desde os aspectos mais significativos até os detalhes sutis do processo.
![Humberto Leon, responsável pelos looks das garotas no programa 'Dream Academy', disse a elas: “Quero que pareçam lindas e sejam vocês” — Foto: Elizabeth Weinberg/The New York Times](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/5dGCPeiJSJrDTVjymloozZk5dhs=/0x0:622x712/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/C/U/F5nH1AQ5ePx9j8E0ak1g/sem-titulo.jpg)
Menos é mais
Ele pediu às aprendizes que usavam muita maquiagem que a tirassem. “Quero que vocês pareçam deslumbrantes e lindas, e que sejam vocês mesmas”, Leon se lembra de ter dito.
Ele lembra que, no início de tudo, sua primeira tarefa, autoimposta, foi entrevistar cada concorrente individualmente antes de tomar qualquer decisão sobre sua nova aparência.
— Eu queria olhar nos olhos delas e fazer perguntas difíceis sobre suas origens — disse Leon. — É difícil as pessoas se enxergarem. Às vezes, é preciso que alguém lhe diga que você é incrível sem muitos artifícios.
Para ajudar nas mudanças de imagem, Leon contratou estilistas que trabalharam em “The Idol”, série da HBO sobre a relação entre uma estrela pop e um líder de uma seita, e o cabeleireiro de Bella Hadid.
Para as 14 aprendizes que não chegaram ao grupo final, Leon parecia querer enviar uma mensagem: “Fiz o melhor que pude.”