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Por , Em O Globo — Rio de Janeiro

O contexto é de polarização extrema, caos e devastação. Em um futuro próximo, os Estados Unidos atravessam um conflito interno sem precedentes, com direito a aliança entre Califórnia e Texas e rebeldes querendo a cabeça do presidente. Em clima de tiro, barricada e bomba, quatro jornalistas tentam atravessar o país rumo à Casa Branca, jornada que coloca em risco não só suas vidas, mas seus valores morais.

Esta é a trama imaginada pelo diretor e roteirista inglês Alex Garland (de “Ex-machina” e “Aniquilação") em “Guerra civil”, filme mais caro da cultuada produtora A24 até hoje, com orçamento de US$ 50 milhões. Líder da bilheteria americana neste fim de semana, quando estreou arrecadando US$ 26 milhões, a distopia chega quinta-feira nos cinemas brasileiros. E traz, como um dos protagonistas, uma das nossas maiores estrelas em Hollywood: Wagner Moura.

Em entrevista por vídeo, o baiano de 47 anos disse que se sentiu confortável no papel de Joel, repórter descolado que vive intensamente a profissão. É ele quem lidera quarteto de correspondentes de guerra que inclui a prestigiada fotógrafa Lee (Kirsten Dunst), a novata Jessie (Cailee Spaeny) e o veterano Sammy (Stephen Henderson).

A seguir, trechos da conversa em que Moura conta como foi revisitar seu antigo ofício (ele é formado em jornalismo e chegou a exercer a profissão antes de engrenar como ator), reflete sobre a polarização atual e comenta os bastidores de “Guerra Civil” — sua décima empreitada internacional, entre filmes e séries.

Como surgiu o convite do diretor Alex Garland ?

Eu já tinha visto todos os filmes dele. E nós nos encontramos antes, quando ele estava fazendo o casting de “Devs” (série de 2020). Almoçamos juntos, mas não deu certo porque na época eu estava fazendo o filme “Sergio” para a Netflix. Fiquei feliz porque ele lembrou de mim quando veio “Guerra civil”. Ele me mandou o roteiro e achei uma das melhores coisas que li nos últimos tempos. Parecia muito o meu lugar, sabe? O único filme que dirigi, “Marighella”, é um filme político também. “Guerra civil” fala de polarização ao mesmo tempo que é popular. Tem uma capacidade grande de virar blockbuster. (A entrevista ocorreu antes de o filme liderar as bilheterias dos EUA em seu fim de semana de estreia.) Me conectei de cara e aceitei na hora que ele me chamou.

Você tem uma relação antiga com o jornalismo, não é?

Me formei em jornalismo. Trabalhei no Correio da Bahia e tive uma assessoria de imprensa em Salvador. A maioria dos meus amigos é de jornalistas. Eu fico contentíssimo que seja um filme sobre jornalismo, que é um pilar da democracia.

Buscou referências entre jornalistas para construir o seu personagem, Joel?

Quando fiz “Shining girls” (série exibida pela Apple TV em 2022), a história acontecia em Chicago, e procurei um repórter investigativo do jornal Chicago Sun-Times que ficou meu amigo. Mas guerra é outra coisa. Não busquei uma resposta intelectual sobre como trabalhar no front, mas sobre o que você se sente ali. É o que mais me interessava. Consegui conversar com alguns jornalistas de guerra. Eles voltam para casa com o mesmo trauma dos soldados. Meu personagem é o que chamam de “war junkie” (viciado em guerra). É muito comum entre eles, porque os caras vivem uma experiência tão extraordinária e terrível ao mesmo tempo que, quando voltam pra casa, a vida para de fazer sentido.

Dá para dizer que o filme reflete sobre o papel do jornalista como testemunha da História, sem tomar lado?

Exato. Eu acho que uma coisa maneira desse filme é que ele não toma partido. Você não pode dizer que é um filme de esquerda nem de direita. E o fato de ele ser um filme visto pelo ponto de vista de jornalistas faz todo o sentido. Porque a natureza dessa profissão é a imparcialidade. Digo com muito medo, mas acho que isso é uma coisa que está acabando. As pessoas vivem em suas bolhas. Progressistas nas suas bolhas, conservadores nas suas bolhas. E as informações vêm de acordo com sua orientação ideológica.

Você deu uma entrevista dizendo que esse “Guerra civil” o influenciou a ouvir mais pessoas que pensam diferente de você. Como foi esse processo?

Convivo com muitas pessoas que pensam diferentemente de mim. Tem um limite aí: não posso conversar com quem diferencia pessoas pela cor da pele. Mas o debate sobre a maneira como o Estado deve lidar com questões sociais, por exemplo, é muito importante. Que a gente comece a achar um caminho do meio. As pessoas com as quais eu converso são muito boas, são de caráter, algumas inclusive vítimas de narrativas falaciosas. Estou ouvindo um podcast sobre a origem das fake news e é impressionante como elas têm poder, dificultando esse diálogo que digo que é importante fazer. E acho que precisamos fazer, com menos confronto. Eu sempre fui um cara meio “foda-se”, mas acho que está na hora de conversarmos mais. O pior que pode acontecer são as pessoas divididas, odiando umas às outras.

O diretor, Alex Garland, disse que o filme serve como uma como uma “alegoria de ficção para a nossa atual situação polarizada”. Você acha crível que essa sombra da polarização que paira sobre vários países chegue em uma situação extrema como a do filme “Guerra civil”?

Sim. Li acadêmicos que passaram a vida debruçados sobre o assunto, que estudaram guerras civis na África, na América Latina. Há uma lista das coisas que você vai dando check. Se um país tem várias delas, a probabilidade de um conflito social acontecer é grande, fica lá um alerta. Tem muita gente estudando isso e não quero ser leviano, mas há polarização em todos esses contextos que estudei. Está ali sempre como a primeira coisa para se evitar.

Começando pelo diálogo.

Da minha parte, o que tenho feito é isso, tentar escutar, tentar ouvir, tentar falar menos também, sabe? E me surpreendi muito com com muitas opiniões dessas pessoas que pensam diferente de mim. Parei para pensar: “é, isso que você está falando, sim, faz sentido”. De modo geral, a direita quer saber quem vai pagar isto tudo aí que você quer que aconteça, né? E é uma pergunta legítima, não é? Me fez pensar em muitas coisas.

Como foi trabalhar com seus três parceiros de elenco?

É um filme em que basicamente somos nós quatro trancados num carro, 70% do filme. Então podia dar muito errado, né? Mas deu muito certo porque a gente terminou reproduzindo um pouco essa camaradagem que existe e que é necessária entre jornalistas. Numa situação assim, você tem que se virar ali mesmo, tem que contar com as pessoas que estão ali para a preservação da sua vida. E a gente se gosta muito, cara. Apesar de ser um filme difícil — emocionalmente, fisicamente —, nós demos muita risada, a gente passava muito, muito tempo junto no carro, conversando.

Após as filmagens, ficou uma amizade entre vocês?

Eu gosto muito de todos eles. A Cailee está indo agora para o Brasil lançar o filme comigo. Ela é uma figura maneiríssima, eu adoro quando fico amigo de gente mais jovem que me apresenta coisas que eu não conheço. Kirsten é uma atriz que eu admiro muito há tanto tempo, ela é uma pessoa tão pé no chão. E o cara que pra mim virou uma das pessoas mais sensacionais que eu conheci nos últimos tempos é o Stephen Henderson. Eu tenho muita admiração por atores mais velhos que abriram caminho assim para os outros, sabe? Ele é um jedi, um cara lindo, uma pessoa linda que me ensinou muito.

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