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Por O GLOBO — Rio de Janeiro

Um dos destaques da cerimônia do Oscar 2024, realizada neste domingo (10) em Los Angeles, foi a aparição de John Cena no palco do Dolby Theatre aparentemente nu, segurando apenas o envelope com o nome dos vencedores do prêmio de figurino. A brincadeira com o apresentador Jimmy Kimmel foi uma referência à cerimônia de 1974, quando um ativista invadiu o palco pelado, correndo em cena enquanto o ator David Niven falava ao público.

Para muitos fãs do esporte, Cena é lembrado como um dos maiores lutadores de luta livre de todos os tempos, tendo conquistado 25 campeonatos da WWE , a antiga World Wrestling Federation, da qual mentém o recorde de 13 reinados como campeão, além de 16 títulos mundiais.

Fora dos ringues, Cena ensaiou uma carreira de rapper, lançando em 2005 seu primeiro disco solo, "You can't see me", gravado junto com seu primo Tha Trademarc, que inclui um de seus temas de entrada nas lutas, "My time is now".

Mas a popularidade de Cena se consolidou definitivamente com o cinema e a TV. Sua estreia no cinema veio com "Busca explosiva" (2006), seguido por sucessos como "12 rounds" (2009), "Legendary" (2010), na comédia "Brincando com fogo" (2019) e participações na saga "Velozes & furiosos".

John Cena como O Pacificador — Foto: Divulgação
John Cena como O Pacificador — Foto: Divulgação

Em 2021, entrou no elenco da segunda adaptação para o cinema do "Esquadrão Suicida", baseado nos quadrinhos ds DC Comics, onde fez seu personagem mais lembrado, o Pacificador, um vigilante que acredita nos valores pátrios mas não abre mão da violência para manter a paz a qualquer custo. O sucesso rendeu a série homônima no ano seguinte, exibida pela HBO.

Para além do sucesso no cinema e na TV, Cena também garantiu seu lugar na cultura pop graças ao uso de memes. Seu vídeo de entrada nas lutas foi utilizado em vários memes e num famoso trote telefônico, "His name's John Cena", e mais recentemente viralizou uma cena sua dançando com um fone de ouvido, retirado de uma entrevista no programa de Jimmy Fallon.

Como foi a entrada do ativista nu no Oscar de 1974

Na 46ª edição do Oscar, em 1974, o ator britânico David Niven estava prestes a chamar a artista que revelaria o longa vencedor do prêmio de Melhor filme daquele ano. Ele fez um discurso sobre como o mundo se tornara um lugar caótico e como a indústria do cinema oferecia uma forma de escape da insanidade. Quando ia convidar ao palco a grande atriz Elizabeth Taylor, algo único na história do prêmio aconteceu. Um homem completamente nu passou correndo atrás dele.

"Lendo os jornais ou escutando as notícias, fica óbvio que o mundo está sofrendo um ataque de nervos. Na indústria do cinema, a gente não fabrica tanques, nem aviões ou mísseis", disse Niven. "Nós fazemos algo para tentar ajudar as pessoas a se manterem sãs. Nós entregamos entretenimento. O prêmio de Melhor Filme nunca é provável. E agora, para divulgar o conteúdo do envelope mais importante deste ano, quero chamar uma importante contribuinte do entretenimento global..."

A câmera estava fechada no apresentador quando, logo após ele pronunciar essas palavras, o público que assistia à cerimônia pela TV pôde ver um homem branco de torso nu saindo da lateral do palco e passando rapidamente atrás de Niven, fazendo o sinal de paz e amor com a mão esquerda. A plateia reagiu com gritos de espanto e, por alguns segundos, a expressão do apresentador é de quem não entende o que está havendo, até que o rosto dele muda ao ver o traseiro do penetra deixando o palco.

A câmera não acompanha a "performance" do cidadão, mas mostra a plateia de celebridades no Pavilhão Dorothy Chandler, em Los Angeles, caindo na gargalhada. Em seguida, a transmissão fecha de novo em David Niven quando ele diz: "Não é fascinante pensar que a única risada que aquele homem vai provocar em sua vida é por tirar as roupas e mostrar suas bagatelas?". Mais tarde, houve quem dissesse que tudo aquilo fora armado, mas isso não ficou provado.

O peladão, que driblara a segurança e subira no palco da festa mais exclusiva do cinema, chamava-se Robert Opel, um ativista e fotógrafo de 35 anos. Ele havia atuado como escritor de discursos para o político conservador (e ex-ator) Ronald Reagan, do Partido Republicano. Mas, em 1974, já tinha "virado à esquerda" e trabalhava, principalmente, como fotógrafo para a revista LGBT "The advocate". Mais tarde, ele abriria a primeira galeria de arte totalmente voltada para gays em São Francisco.

Que fim levou Robert Opel?

Opel era descrito como uma pessoa de espírito livre, que seguia seus propósitos sem se prender a amarras convencionais. Ele invadiu, também pelado, uma reunião do Conselho Municipal de Los Angeles, interrompendo uma discussão sobre tornar ilegal a nudez nas praias. Em 1976, o americano se candidatou à Presidência dos EUA, por puro deboche. "Não tenho nada a esconder", brincava durante entrevistas, referindo-se à nudez no Oscar e ao escândalo Watergate, que levou à renúncia do presidente Richard Nixon, em 1974.

Aberta por Opel em 1978, a galeria Fey Way Studios virou referência para obras homoeróticas. O local ajudou a divulgar o trabalho de grandes artistas como Tom of Finland, Robert Mappelthorpe e Rex. Era um verdadeiro ponto de encontro para amigos e profissionais da vanguarda cultural de efervescente São Francisco. Tragicamente, a galeria também foi o local da morte brutal do fotógrafo.

Robert Opel na galeria Fey Way, em 1979, fotografado pelo ativista jack Fritscher — Foto: Reprodução
Robert Opel na galeria Fey Way, em 1979, fotografado pelo ativista jack Fritscher — Foto: Reprodução

Aqueles eram tempos turbulentos para a comunidade LGBT de São Francisco. Em novembro de 1978, o vereador Harvey Millk, primeiro político abertamente gay a ser eleito para cargo público na Califórnia, fora morto com cinco tiros, dois deles na cabeça. Em maio de 1979, seu assassino, Dan White, foi absolvido da acusação de homicídio doloso e condenado a sete anos de prisão por homicídio culposo. A sentença branda motivou uma noite de revoltas e violência pela cidade, no dia 21 daquele mês.

Os acontecimentos levaram Opel a criar uma performance chamada "A execução satírica de Dan White". Na noite de 7 de julho de 1979, dois dias depois de uma apresentação, ele estava sozinho na galeria Fay Wey. Sua namorada, Camile O'Grady, e o ex-namorado, Anthony, dormiam na parte de trás. Em determinado momento, dois homens entraram fingindo que queriam observar obras de arte, mas, rapidamente, apontaram suas armas para Opel e o renderam.

Os bandidos reviraram tudo em busca de dinheiro, mas não acharam nada. Instantes depois, Camile e Anthony apareceram, atraídos pelo barulho, mas foram amarrados pelos ladrões. Minutos mais tarde, eles ouviram um disparo. Naquele momento, Camile soube que seu namorado havia sido morto. Um dos assassinos foi sentenciado a uma pena mínima de 25 anos de cadeia. O outro foi condenado a prisão perpétua e está encarcerado até hoje, mais de 40 anos depois do crime.

Robert Opel: o homem nu deixando o palco do Oscar em 1974 — Foto: Reprodução
Robert Opel: o homem nu deixando o palco do Oscar em 1974 — Foto: Reprodução

Em 2010, o sobrinho do fotógrafo, chamado Robert Oppel (com dois "ps"), lançou o documentário "Tio Bob", sobre a vida e o trabalho do ativista assassinado. Em 2014, ele foi um dos responsáveis por uma mostra em Hollywood que reuniu pôsteres e memorabilia da Fey Way. Para a Academia do Oscar, Opel será sempre lembrado como o homem nu que invadiu a cerimônia de 1974. Para a comunidade gay de São Francisco, aquele foi apenas uma proeza na vida repleta de um artista muito engajado.

Cartaz do documentário 'Tio Bob', sobre a vida e o trabalho de Robert Opel — Foto: Reprodução
Cartaz do documentário 'Tio Bob', sobre a vida e o trabalho de Robert Opel — Foto: Reprodução
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