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Por , Em The New York Times

Antes que as coisas começassem a dar certo para Taraji P. Henson, ela buscou orientação profissional do "homem lá de cima". "Tive uma conversa com Deus há muito tempo, quando nada estava indo bem. Eu disse a Ele: 'Quero consistência e um trabalho que faça a diferença'", contou, invocando mulheres que admirava desde criança, como Carol Burnett, Lucille Ball, Bette Davis e Diahann Carroll.

Henson conseguiu o que queria: aos 53 anos, é uma atriz indicada ao Oscar, com uma carreira que inclui filmes como "Estrelas Além do Tempo", "Ritmo de um Sonho" e "O Curioso Caso de Benjamin Button". Também interpretou Cookie, matriarca da indústria musical, na série "Empire – Fama e Poder", da Fox, durante seis temporadas – papel que lhe rendeu um Globo de Ouro e um Critics Choice Awards.

Mas Tajari é franca em relação às frustrações que ainda enfrenta em uma indústria que subestima as atrizes negras. "O fato de eu ter alcançado isso é uma bênção, porque muita coisa aconteceu", disse, apontando que teve de se afastar do trabalho no ano passado quando as coisas ficaram difíceis. Uma viagem de um mês a Bali, na Indonésia, ajudou-a a se reorientar, bem como cuidar da TPH, sua bem-sucedida marca de beleza. "Agora que sou dona de uma empresa, tenho outras fontes de renda para pagar as contas, porque, com esses valores lamentáveis que me pagam em Hollywood, com certeza não vou conseguir me aposentar", comentou.

Em meados de dezembro, eu e Henson nos encontramos para discutir "A cor púrpura", nova adaptação cinematográfica do romance de Alice Walker, inspirada no musical teatral e dirigida por Blitz Bazawule. No filme, Henson interpreta a fabulosa e privilegiada cantora de blues Shug Avery, cuja confiança inspira Celie (Fantasia Barrino-Taylor), mulher que sofre abuso, a encontrar a própria voz – e até mesmo a descobrir o amor em um momento poderoso entre elas.

O mesmo papel foi oferecido a Henson quando "A cor púrpura" estava na Broadway, mas ela recusou por receio da grande exigência da produção teatral: "Oito apresentações por semana, e Shug canta gospel, blues e jazz – é muita coisa." Mesmo ao aceitar fazer a interpretação no novo filme, ela ainda achava o material desafiador, mas ficou emocionada por superar esse medo e tornar a personagem única, buscando inspiração em experiências próximas. "Quando me virem interpretando essas mulheres do Sul, saibam que estou sendo minha avó. Ela ainda é uma dama com suas pérolas e suas roupas, e ainda se preocupa muito com sua aparência quando sai: vai ao salão e arruma o cabelo e as unhas. Criou nove filhos com o salário de uma trabalhadora agrícola."

Henson está orgulhosa de seu trabalho no filme, mas teve de lutar para ser escolhida e receber o pagamento que merecia, e sua alma ainda está abalada por essas negociações. Ela observou que, em "A cor púrpura", pelo menos teve ao seu lado Oprah Winfrey, uma das produtoras, mas são batalhas que, frequentemente, tem de enfrentar sozinha. "Eu me magoo quando não sou correspondida, mas sei que este mundo é frio e ninguém realmente se importa, e você tem de sair e lutar pelo que quer. O que mais tenho de fazer para provar meu valor? Já estou cantando e dançando, subi na mesa 88 vezes e meus joelhos estão tão inchados que tive de colocar gelo neles entre uma cena e outra. O que mais preciso fazer?"

A seguir, trechos editados de nossa conversa.

Como a nova versão de "A cor púrpura" chegou até você?

Meu empresário me ligou durante a pandemia e disse: "Você foi contratada para interpretar Shug Avery. Estão fazendo uma nova versão de 'A cor púrpura'." Pensei: "Meu Deus, por quê?" Foi só quando conversei com Blitz e ele compartilhou sua visão radical que senti que havia duas razões pelas quais eu deveria fazer isso: porque era um diretor negro, e também porque, dessa vez, tínhamos o controle da narrativa. Não nos afundamos em nossos traumas. Encontramos alegria, vamos à igreja, dançamos, cantamos e somos vibrantes. Eu sabia que seria diferente.

Blitz viu alguma coisa em mim. Eu me tornei mãe no meu penúltimo ano da faculdade, e todo mundo tentava me convencer a ir para Nova York para seguir carreira no teatro musical e na música, mas esse ramo me parecia um pouco obscuro e incerto. Quando você se torna mãe, começa a pensar de maneira diferente: não posso fazer turnês, tenho um filho. Quem me protegeria nessa indústria assustadora? Então pensei: "É, acho que não vai ser a música", e nunca olhei para trás.

Quando Blitz sugeriu que você retornasse às suas raízes musicais, você aceitou facilmente?

Foi um sim fácil para ele. Muitas vezes, nesse setor, você pode ser a escolha do diretor, mas não a do estúdio, por isso tive de fazer uma audição – e controlar meu ego, porque pensava: "Por que estou fazendo um teste?" Quero dizer, entendo a questão do canto, porque não há nada que me mostre cantando assim. Mas tive de cantar e dançar, e eles me avaliaram. Só pensei: "Argh."

Seu teste anterior a esse tinha sido quando?

Nem sei, porque a esta altura já ganhei um Globo de Ouro [por "Empire"] e fui indicada ao Oscar [por "O curioso caso de Benjamin Button"]. Portanto, entrei lá com o ego afetado porque pensei: "Nunca mais vão duvidar de mim." Encontrei um vestido do estilo de Shug, prendi o cabelo e coloquei uma flor nele, pus um xale de pele sintética e entrei determinada. Ele perguntou: "Precisa ensaiar?" Respondi: "Não, vamos lá." Blitz diz que em "em 20 minutos" conquistei o papel. Mas estou ficando realmente cansada de lutar e exausta de provar para mim mesma que sou capaz. Parece que, sempre que ultrapasso um limite e chega a hora de negociar outro trabalho, volto à estaca zero, como se não tivesse feito nada. Quase tive de desistir de "A cor púrpura".

Enquanto estava negociando?

Sim. Não tenho um aumento de cachê desde [o filme de 2018] "Proud Mary". Eles não se importam. Estão sempre buscando um acordo e tentando pagar o mínimo. Eu me lembro de que, em "Empire", briguei por um trailer [que as estrelas usam como base, ou camarim, durante as filmagens].

Mesmo depois da primeira temporada?

Essa é outra história. Eu estava brigando por um trailer, e então fui até o set da série "Chicago P.D." e eles tinham aqueles locais realmente bons.

Você era a maior estrela da Fox na época.

Você entende o que quero dizer quando digo que estou cansada de lutar?

Em sua autobiografia, você disse: "Aprendi a me amar de uma maneira de que eu não era capaz quando mais jovem." Como as coisas mudaram?

Envelhecemos e percebemos que a vida não se trata só de se esforçar. Foi isso que quase me fez desistir – você dá seu máximo e pensa: para quê? Ninguém me paga pelo que valho; portanto, o que estou fazendo?

O que significava para você esse esforço?

Trabalho, trabalho, trabalho. Se eu não tivesse mais nada agendado, já estava gritando: "Cadê o próximo?" Então, quando a pandemia chegou e me dei conta de que não tenho controle, pensei: "Sim, quando o mundo voltar ao normal, não quero continuar trabalhando dessa forma. Quero aproveitar."

Se você não deixa espaço para aproveitar os frutos de seu trabalho, então é só trabalho.

E, depois de um tempo nessa indústria, você se cansa de ter as mesmas conversas. Então pensa: O.k, qual é minha estratégia de saída? Não quero estar trabalhando aos 70 anos, a menos que seja algo incrível. Mas não me vejo fazendo isso.

Você disse que quer ser capaz de passar o bastão para as atrizes que estão seguindo essa mesma trajetória. O que acha que pode facilitar para elas?

Espero que cheguemos a um ponto em que as pessoas sejam remuneradas pelo que valem. Pelo menos podemos começar por aí? É por isso que luto tanto. Quando eu era mais jovem, falava muito sobre isso porque pensava que estava mudando as coisas. Dez anos depois, ainda estou tendo a mesma conversa. Nesse aspecto, é uma piada. Observo esses estúdios e penso: "Estão fazendo isso na minha frente. Eu vejo." Eles dizem: "Você precisa de uma nova equipe. Demita a atual." Bom, fiz isso. Nada mudou. Então qual é o problema?

O que você acha que é?

Quando as mulheres negras falam, ninguém ouve. E não estou inventando isso.

Mas uma das lições de "A cor púrpura" é que, mesmo quando as coisas estão contra você, a conexão com as mulheres pode ajudá-la a ir em frente. Vi como suas colegas Fantasia e Danielle Brooks falam sobre você e a apoiam. Estão ao seu lado.

Eu não disse a elas, mas conseguiram muitas coisas no set graças à minha luta.

Pelo que você lutou?

Eles nos deram carros alugados, e eu dizia: "Não posso dirigir até o set em Atlanta." Está relacionado à cobertura do seguro e é perigoso. Agora estão roubando as pessoas. Como eu ficaria, indo sozinha para o trabalho em um carro alugado? Então eu disse: "Podem me fornecer um motorista ou um segurança que me leve?" Não estou pedindo nada absurdo. Eles responderam: "Se dermos isso a você, temos de dar a todos." Bom, então deem a todos! São coisas assim, pelas quais eu não deveria ter de lutar. Estive no set de "Empire" brigando por um trailer que não estivesse infestado de insetos. Isso desgasta sua alma, porque você luta tanto para construir um nome e ser respeitada nesse ambiente, mas sem sucesso. Nos filmes negros, simplesmente não querem nos levar para o mercado internacional, e não entendo isso. Se a cultura negra pode ser compreendida no mundo inteiro, por que não no cinema? Tenho seguidores de todos os lugares. Até da China. Eles não querem lucrar com isso? Todo mundo não quer ganhar dinheiro aqui? Não sou a pessoa que sempre argumenta com o tema racial, mas então como podemos explicar isso? Digam. Preferiria que não fosse a raça. Por favor, me deem outra explicação.

Como você mantém sua vulnerabilidade como atriz quando enfrenta situações que poderiam torná-la menos sensível?

Quando senti que minha luz se apagava, corri para Bali. Era como se eu não fosse mais eu mesma. Costumo ver o lado positivo das coisas, sou muito otimista. Foi assim que sempre vivi e foi o que me trouxe até aqui. Claro que passei por algumas situações complicadas, mas nunca permiti que a vida me tornasse desiludida ou amarga, e comecei a me sentir assim. Foi então que pensei: "Sim, vou cuidar de mim, porque estou permitindo que isso me consuma." Sempre quero ser um exemplo de como envelhecer nesse meio e mostrar graciosidade para aqueles que estão chegando, de modo que tive de trabalhar a mim mesma nesse sentido, porque estava ficando cansada da luta. Pensei que talvez fosse desistir, mas então ouço pessoas como Danielle e Fantasia dizendo: "Se você desistir, o que será de nós?" Sei que elas conhecem e apreciam minha luta e dizem: "Você me ensinou muito." Não quero que precisem negociar. Estou cansada de ver mulheres negras tendo essa conversa, e vou ficar feliz quando conseguirmos ter uma abordagem diferente.

Portanto, acho que não posso renunciar ainda. Relatei tudo isso só para dizer que não posso desistir.

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