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Por Lucas Salgado — Rio de Janeiro

Por muito tempo a inteligência artificial, ou IA para os mais íntimos, ficou restrita às obras de ficção científica, muitas vezes assumindo função de antagonista. Do computador de bordo HAL 9000 de “2001: uma odisseia no espaço” (1968), passando pelos replicantes de “Blade Runner — O caçador de androides” (1982) até chegar na criação de um universo artificial em “Matrix” (1999), a sétima arte explorou o potencial destrutivo da IA em inúmeras produções. Hoje, a inteligência artificial volta à pauta em Hollywood. Mas do lado de trás das câmeras.

O tema é ponto central das greves de roteiristas e atores nos Estados Unidos. Os dois sindicatos não entraram em acordo com a Aliança de Produtores de Cinema e Televisão (AMPTP), guarda-chuva que reúne Netflix, Amazon, Apple, Disney, Warner, NBC Universal, Paramount e Sony, para a renovação de seus contratos.

Com direito a cartazes de “apenas roteiristas humanos” espalhados em protestos pelas ruas de Los Angeles, os roteiristas exigem um maior controle no uso de IA na produção de textos, enquanto que os atores defendem uma regulação mais transparente da técnica. Muitos atores contam que, nos últimos anos, estúdios passaram a incluir cláusulas abstratas e abusivas sobre o uso da tecnologia para reutilizar e recriar performances de intérpretes.

A recém-lançada sexta temporada de “Black mirror” traz em seu primeiro episódio uma trama repleta de reviravoltas e metalinguagem que ilustra bem o problema. A produção acompanha uma mulher (Annie Murphy) que descobre uma série sobre sua vida em uma plataforma de streaming, em que é interpretada pela atriz Salma Hayek. Ela não pode impedir a realização da série por ter assinado sem ler um termo de uso, e a própria Salma é gerada por inteligência artificial e não tem controle sobre sua imagem.

Annie Murphy como Joan em "Black Mirror" — Foto: Nick Wall/Netflix
Annie Murphy como Joan em "Black Mirror" — Foto: Nick Wall/Netflix

Na vida real, os estúdios de Hollywood argumentam que ofereceram uma “proposta inovadora de IA que protege as semelhanças digitais dos artistas, incluindo a exigência de consentimento do artista para a criação e uso de réplicas digitais ou para alterações digitais de uma performance”, mas os atores receberam o argumento com ironia.

“Nessa proposta inovadora de IA que nos apresentaram, eles propuseram que nossos artistas de figuração pudessem ser digitalizados e receber um dia de pagamento, a partir daí as empresas passariam a possuir essa digitalização, imagem e semelhança, e poderiam utilizá-las pelo resto da eternidade em qualquer projeto que quiserem, sem consentimento e sem compensação. Portanto, se você acha que é uma proposta inovadora, sugiro que pense novamente”, atacou Duncan Crabtree-Ireland, negociador-chefe do SAG-AFTRA (sindicato dos atores), na coletiva de anúncio da paralisação.

Basicamente, a proposta dos estúdios e plataformas de streaming acabaria com a figuração no audiovisual, defende o sindicato, uma vez que eles poderiam simplesmente fazer um banco de dados de atores digitalizados, deixando de lado a necessidade de arcar com cachês e diárias para figurantes. Fran Drescher, presidente do SAG-AFTRA, afirmou que o futuro da indústria está em jogo e que existe o risco dos atores serem substituídos por máquinas se não houver regulamentação.

Xeque-mate

Memes na internet passaram a comparar a atriz conhecida por “The Nanny” com Sarah Connor, personagem de Linda Hamilton que se rebela contra as máquinas em “O exterminador do futuro”. E o próprio diretor do filme, James Cameron, entrou na discussão. “Eu alertei em 1984 e ninguém escutou”, disse o cineasta em entrevista à CTV News em que falou sobre os perigos da IA na indústria armamentista. Apesar de ser conhecido como um defensor da tecnologia no cinema, ele acredita que a inteligência artificial não deve ser usada para escrever produções por não conseguir desenvolver sentimentos.

Guillermo del Toro concorda com o colega. Em publicação recente no Twitter, o diretor mexicano escreveu: “IA não regulamentada, sem controle, subestimada e motivada simplesmente pela ganância, pode ser o último movimento de xadrez que fazemos antes de darmos o xeque-mate em nós mesmos.”

Tom Cruise tentou intermediar uma conversa entre o sindicato e os estúdios, e chegou a pedir para que as companhias escutassem as demandas dos atores sobre IA, sem sucesso. Após ser hospitalizada recentemente, a cantora Madonna fez questão de, assim que saiu do hospital, modificar seu testamento para impedir performances digitalizadas após sua morte.

‘Como nossos pais’

No Brasil, o debate sobre o uso ético do IA ganhou força com a divulgação de uma campanha da Volkswagen estrelada por Elis Regina e sua filha Maria Rita, 41 anos após a morte da lendária cantora. No vídeo, que emocionou internautas, as duas se unem em um dueto de “Como nossos pais”. Apesar de contar com a aprovação da família da Elis, a peça publicitária foi alvo de discussões. O Conar abriu uma representação ética contra a campanha da VW do Brasil e sua agência, AlmapBBDO, motivado por queixa de consumidores. Segundo o Conar, os consumidores questionam se é ético ou não o uso de ferramenta tecnológica e inteligência artificial para trazer pessoa falecida de volta à vida como realizado na campanha.

Cena do comercial que 'juntou' Maria Rita e Elis Regina por meio de inteligência artificial — Foto: Reprodução/YouTube
Cena do comercial que 'juntou' Maria Rita e Elis Regina por meio de inteligência artificial — Foto: Reprodução/YouTube

— A inteligência artificial é como um dia foi a televisão. Num primeiro momento, pode deixar a gente sem saber direito o que é, mas aos poucos vai entrando no nosso dia a dia, queiramos ou não. Tenho usado bastante a inteligência artificial na restauração do acervo de minha mãe, pegando fitas analógicas, e para isso esse recurso é extremamente útil. Não para substituir o trabalho humano, mas para fazer coisas que a gente não conseguiria fazer — disse João Marcello Bôscoli, filho de Elis, ao GLOBO à época do lançamento da campanha.

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