Filmes
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Por — Rio de Janeiro

“Cinema”. A palavra está gravada em uma tatuagem bem visível no braço direito de Hsu Chien, de 55 anos, um cineasta (e cinéfilo) chinês naturalizado brasileiro que há mais de três décadas se dedica à sua grande paixão, a sétima arte. Ele conta que se tatuou para que, “quando morrer e cair duro na rua”, as pessoas saibam que este cara gostava de cinema.

Hsu é o diretor de “Um dia cinco estrelas”, comédia estrelada por Estevam Nabote, Aline Campos, Nany People e Danielle Winits em cartaz nas salas de cinemas. Em fevereiro, o cineasta lançou “Desapega!”, com Gloria Pires e Maisa, filme brasileiro de maior bilheteria em 2023 até o momento, tendo sido visto por 153 mil pessoas, segundo dados do FilmeB. E ele ainda tem mais uma estreia marcada para setembro, “De repente, miss!”, com Fabiana Karla e Giulia Benite. Já para o ano que vem, prepara o lançamento de “Morando com o crush”, com Benite e Marcos Pasquim, e “Sara, Lia e Léia”, que ele descreve como um “Sex and the City passado no Nordeste”.

Estevam Nabote, Aline Campos e Nany People em "Um dia cinco estrelas" — Foto: Divulgação
Estevam Nabote, Aline Campos e Nany People em "Um dia cinco estrelas" — Foto: Divulgação

Em 1991, Hsu apareceu pela primeira vez nas páginas do GLOBO como o atendente de um restaurante chinês que aproveitava as horas de almoço para assistir filmes em matéria intitulada “Garimpeiros do celuloide”. À época, ele já cursava a Faculdade de Cinema da UFF, em Niterói, contra a recomendação das pessoas mais próximas, uma vez que o cinema brasileiro vivia um momento de crise total com a extinção da Embrafilme pelo governo Collor.

“Por que você quer fazer cinema em um momento que não existe cinema no Brasil?”, perguntavam os amigos. Mas Hsu acha que não teve escolha. Havia se apaixonado perdidamente pela produção audiovisual poucos anos antes.

— Eu trabalhava no restaurante chinês do meu pai, em Botafogo, e o produtor Aluizio Abranches era um frequentador. Em 1987, ele me viu no restaurante, gostou da minha cara e me chamou para fazer uma figuração no filme internacional “Luar sobre parador”, de Paul Mazursky, que teve filmagens no Rio. Eu não sabia o que era figuração, mas aceitei — lembra Hsu, que interpretou um cônsul chinês em cena com Regina Casé, em entrevista via Zoom. — Nem falei pro meu pai, que não ia deixar. Ele queria que eu fosse médico. Eu não fazia ideia do que era um set de filmagem, mas quando me deparei com aquela loucura, aquela gritaria, aquelas luzes, me apaixonei de cara e decidi que era o que queria para a minha vida.

Primeiros passos

Após a experiência, ele continuou fazendo figurações por um tempo, até que ingressou na faculdade. Em 1996, faz sua estreia por trás das câmeras já em uma grande produção, como estagiário de “O que é isso, companheiro?” (1997), drama de Bruno Barreto indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Depois disso, trabalhou em quase cem filmes como assistente de direção. Participou de obras como “Nome próprio” (2007), de Murilo Salles, “De pernas pro ar” (2010), de Roberto Santucci, “Minha mãe é uma peça: o filme” (2013), de André Pellenz, e “Eduardo e Mônica” (2020), de René Sampaio.

— Hsu é talentoso, incansável e muito alto astral. É um homem que vive para o cinema e isso é inspirador — conta Rosane Svartman, diretora de “Tainá: a origem” (2011), longa em que contou com Hsu como assistente de direção.

O agora cineasta aponta aquele período como assistente como fundamental em sua trajetória, quase como uma segunda faculdade, em que aprendeu muito com cada diretor com quem trabalhou, com destaque para Tizuka Yamasaki, com quem fez “Gaijin — Ama-me como sou” (2005). Ele se identificou com a diretora não só por sua origem asiática, mas também pela perseverança em continuar trabalhando apesar das dificuldades.

Chinês carioca

Nascido em Taiwan, em 1967, Hsu veio para o Brasil aos 4 anos, em 1971, com a mãe e os irmãos. O pai tinha vindo antes, “sem falar uma palavra em português”, para tentar ganhar a vida no país e preparar o terreno para a chegada da família. Há mais de meio século no país, hoje ele tem orgulho de representar o Brasil e a cultura nacional. Inclusive, está na comissão que escolhe o próximo representante do país na corrida pelo Oscar.

— Hoje me considero 90% brasileiro e 10% chinês. O lado chinês que restou foi a parte da educação rígida dos meus pais. O povo asiático, de forma geral, é muito conservador na educação, muito focado, expressa pouca emoção. Tenho isso em mim. Eu tenho dificuldade em abraçar, em demonstrar emoção. Eu não choro na vida real, só choro no cinema, com qualquer coisa — destaca.

Diretor Hsu Chien — Foto: Guito Moreto / Agência O Globo
Diretor Hsu Chien — Foto: Guito Moreto / Agência O Globo

Mais do que um cineasta, Hsu é um cinéfilo incansável. A rotina de filmagens intensa nos últimos anos não impede que cumpra uma meta pra lá de ousada de filmes assistidos, e sempre compartilha suas opiniões em suas redes sociais.

— O cinema me alimenta. Se não vejo pelo menos um filme por dia, sinto um buraco, um vazio. Às vezes, passo 12 horas em um set e quando chego em casa vejo um ou dois filmes — conta o diretor. — Tem semanas que vejo de oito a dez longas, preciso disso. Tem períodos que vejo tudo que está em cartaz. Não sou muito de séries. Sempre penso que poderia estar assistindo três filmes quando vejo uma série.

Hsu Chien cita “Iracema — Uma transa amazônica”, de Jorge Bodanzky e Orlando Senna, e “Oito e meio”, de Federico Fellini, como os filmes de sua vida, mas não se cansa de citar outras referências, como Steven Spielberg, Woody Allen, Pedro Almodóvar, Héctor Babenco e Antonio Carlos da Fontoura. Deste último, tornou-se amigo e brinca constantemente sobre o desejo de refilmar seu “A rainha diaba” (1974), clássico estrelado por Milton Gonçalves.

Com vasta experiência em filmes populares, ele lembra que nunca teve preconceitos com projetos e que tenta passar isso para seus alunos — Hsu é professor de audiovisual na ABC: Cursos de Cinema.

— Quando dou aulas vejo uma tendência dos alunos de torcer o nariz para comédias ou filmes com celebridades, mas tento falar pra eles que nem sempre o gosto pessoal vai determinar o projeto que você vai fazer — fala Hsu, que quando assistente de direção trabalhou em filmes com Xuxa, Padre Marcelo Rossi, Didi e Angélica. — Trabalhando com essas pessoas aprendi sobre demandas que nunca aprenderia em um filme autoral.

Sobre a relação com a comédia, gênero que predomina em seus oito longas como diretor, Hsu diz que não foi planejada, mas que foi consequência de uma “chamada de Miguel Falabella”, que o convidou para dirigir duas de suas séries na TV Globo, “Sexo e as negas” (2014) e “Pé na cova” (2013-2016). Depois disso, começou a ser associado ao gênero e abraçou as oportunidades com orgulho. Mas também tem projetos para o drama.

Afasta esse cálice

Em setembro, por exemplo, ele começa a rodar “Cálice”, distopia livremente inspirada na música de Chico Buarque que conta com Cleo no elenco e na produção. A trama acompanha um grupo que se revolta diante de um governo conservador. Segundo o diretor, é como um “‘Medida provisória’, mas com uma outra pauta”, lembrando o filme de Lázaro Ramos lançado ano passado.

Hsu e Cleo já trabalharam juntos na comédia “Me tira da mira” (2022), que contou também com participações de Fiuk e Fábio Júnior. O cineasta se diverte ao perceber que virou uma espécie de “diretor oficial dessa família estendida”, afinal também trabalhou com Gloria Pires, em “Desapega!”.

— Trabalhar com o Hsu é uma delícia porque ele é o mais animado do set. Eficiente, estuda o plano do dia e sabe exatamente o que quer. Fiquei surpresa ao descobrir o significado do nome dele, que se alinha perfeitamente com a personalidade, que é “coração gentil” — se derrete Gloria. — Ele é realmente uma pessoa de grande gentileza, de grande alegria, e traz para o set esse clima, esse prazer em estar ali realizando o trabalho.

Filme 'Desapega', com Gloria Pires e Maisa — Foto: Divulgação/Helena Barreto
Filme 'Desapega', com Gloria Pires e Maisa — Foto: Divulgação/Helena Barreto
Mais recente Próxima Cleo irá estrelar e produzir 'Cálice', filme inspirado em canção de Chico Buarque
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