![NFT da coleção PsychoKitty, criada pelo artista Ugonzo, registrado em Londres, em 30 de dezembro de 2021 — Foto: JUSTIN TALLIS/AFP](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/vJ2ru5daYI8dQBu6CV8Tk69CYIk=/0x0:6048x4024/1008x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/b/z/hb6hmkTSOjUy4ipW0atg/99188928-files-this-file-photo-taken-in-london-on-december-30-2021-shows-a-psychokitty-nft-non-fungi.jpg)
O mundo mal havia aprendido que NFT é a sigla para “token não fungível” (em inglês, “non fungible token”) e o ano de 2021 lançou o mercado de arte digital às alturas, atraindo atenções para além dos iniciados no universo cripto a partir do leilão da colagem digital “Everydays: The first 5000 days”, do americano Beeple, arrematada por US$ 69,3 milhões na tradicional Christie’s. Desde então, parecia não haver limite para o que poderia ser vendido como um ativo virtual transformado em um item exclusivo graças a uma espécie de rastreamento digital garantido por um sistema de registro de transações, a blockchain.
Colecionáveis, como a série “Bored Apes” (das imagens dos macaquinhos entediados) ou a “CryptoPunks”, chegaram a movimentar mais de US$ 1 bilhão. O NFT do primeiro tuíte do cofundador do Twitter Jack Dorsey foi vendido por US$ 2,9 milhões. Equipes esportivas e marcas correram para lançar seus próprios tokens. Nem os memes escaparam: a imagem que gerou o viral “Disaster girl” foi vendida por US$ 500 mil, assim como o vídeo “original” do YouTube de “Charlie bit my finger”, no qual um bebê morde o dedo do irmão, comprado por US$ 760 mil.
- 'Guernica': Mick Jagger tira foto com mural de Picasso e força museu a se explicar
- Indicada ao Prêmio Eisner: HQ ilustrada por brasileiro aborda relações sociais entre humanos e robôs
Estima-se que o mercado de NFT — termo que, não por acaso, foi escolhido como a “palavra do ano” na tradicional eleição promovida pelo dicionário britânico Collins — movimentou globalmente cerca de US$ 17,6 bilhões em 2021. As previsões pareciam ser ainda mais ambiciosas para os meses seguintes. Até que chegou 2022.
Veja obras que serão expostas no NFT.Rio
!['The Medici and the ancient bank', deRata Yonqui — Foto: Divulgação](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/2AY_VBnFPcnki2ULgZQDvR0oSek=/0x0:768x720/648x248/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/w/0/BbvwUMQFCj0IwpXwc3DA/obra-de-rata-yonqui-the-medici-and-the-ancient-bank-.jpg)
!['The Medici and the ancient bank', deRata Yonqui — Foto: Divulgação](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/2hKaZ8KvyJFPOLdbBjEAI-72nsg=/768x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/w/0/BbvwUMQFCj0IwpXwc3DA/obra-de-rata-yonqui-the-medici-and-the-ancient-bank-.jpg)
'The Medici and the ancient bank', deRata Yonqui — Foto: Divulgação
![Figurinhas da coleção CryptoRastas, criada por Marcus Menezes — Foto: Divulgação](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/Kc1lUTpGKyRZwAJ7vSvpIi6XULw=/0x0:599x599/323x182/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/A/Y/BCJh6nQtm7xBQkpBYUOQ/97291850-sc-as-figurinhas-do-cryptorasta-vendidas-em-nft-e-que-ja-tem-clientes-como-snoop-dogg.jpg)
![Figurinhas da coleção CryptoRastas, criada por Marcus Menezes — Foto: Divulgação](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/wciiYUz-5bmamUIeyyriTuzj_5g=/599x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/A/Y/BCJh6nQtm7xBQkpBYUOQ/97291850-sc-as-figurinhas-do-cryptorasta-vendidas-em-nft-e-que-ja-tem-clientes-como-snoop-dogg.jpg)
Figurinhas da coleção CryptoRastas, criada por Marcus Menezes — Foto: Divulgação
Publicidade
![Obra da série 'Twin flames', do fotógrafo americano Justin Aversano, que será exibida no NFT.Rio — Foto: Divulgação](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/nZGcSs-REAyFipX_8U2ye3Z8WZA=/0x0:1800x1800/323x182/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/8/l/F8aaBcT2OMa9AAzF9V6A/justin-aversano-colecao-twin-flames.jpeg)
![Obra da série 'Twin flames', do fotógrafo americano Justin Aversano, que será exibida no NFT.Rio — Foto: Divulgação](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/nXgQvJjX0EA2ePnxtaI6cs3ImoQ=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/8/l/F8aaBcT2OMa9AAzF9V6A/justin-aversano-colecao-twin-flames.jpeg)
Obra da série 'Twin flames', do fotógrafo americano Justin Aversano, que será exibida no NFT.Rio — Foto: Divulgação
!["Right-click and save as guy", do artista XCOPY — Foto: Divulgação](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/4Nnc683T5zILGOgua7fzfWjTbkY=/740x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/x/b/A4KYvtRcKY7ooOZWRuLA/right-click-save-as-guy.jpg)
"Right-click and save as guy", do artista XCOPY — Foto: Divulgação
Publicidade
![Colecionável da série Bored Apes — Foto: Divulgação](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/-UVQ6M3m4f5us0XqQewPOBPV5Gw=/1000x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/V/t/AnlEmWTCW8HsDmLfXBTg/97295570-nft.jpg)
Colecionável da série Bored Apes — Foto: Divulgação
!['Fidenza', de Tyler Hobbs — Foto: Divulgação](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/DFXN3g9WYK_JYETNAlWSMmbht4I=/600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/h/l/Ur6C0KQu219DefqOxhDw/fidenza-obra-de-tyler-hobbs.jpg)
'Fidenza', de Tyler Hobbs — Foto: Divulgação
Publicidade
!['Double sided', de Fesq — Foto: Divulgação](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/jp_TmVDHJhfwqxgsixaourF0YRc=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/G/a/IlqBSITxK4DCzNnwHe9g/fesq-double-sided.png)
'Double sided', de Fesq — Foto: Divulgação
Após um pico de 225 mil transações diárias, registradas em setembro de 2021, o montante chegou à média diária de 19 mil transações em maio, numa queda de 92%, segundo o relatório divulgado mês passado pelo site especializado Nonfungible. O portal também apontou outras quedas na comparação entre os primeiros quadrimestres dos últimos dois anos, como o número de vendas (-46%), o número de compradores (-30%) e o número de carteiras ativas (-25%). O citado tuíte de Dorsey tornou-se uma síntese deste momento. Sina Estavi, CEO da empresa de criptoativos Bridge Oracle e comprador do item digital, o colocou à venda em leilão em abril e a maior oferta que recebeu foi de US$ 14 mil, numa desvalorização de 99% em relação à compra original.
Um baque que acendeu o sinal amarelo de que a euforia no segmento poderia ter chegado ao fim. As explicações para a queda vão de questões que afetam o ambiente digital (queda dos bitcoins, número menor de produtores que a demanda dos compradores) até razões que afetam todo o mundo físico, como a tempestade perfeita envolvendo efeitos da pandemia, crise econômica global e guerra na Ucrânia. Analisando o fenômeno, especialistas se dividem entre uma possível crise do formato ou um momento de reestruturação do mercado.
— Era previsível que essa queda fosse acontecer. Havia um movimento especulativo muito forte naquele hype do ano passado, também impulsionado pela entrada de marcas, astros do esporte e da música no segmento — observa Byron Mendes, fundador da Metaverse Agency, focada em arte digital. — Houve uma corrida atrás do que estivesse disponível, como os colecionáveis estilo “Bored Apes” ou trabalhos de quem só entrou no mercado atraído pelos números. Essa queda pode ser positiva a longo prazo, porque vai baixar toda essa espuma e jogar mais luz sobre artistas com produções de qualidade.
Professor da Universidade de Queens, em Ontario, no Canadá, e autor do ensaio “Criptoarte: a metafísica do NFT e a tecnocolonização da autenticidade”, que aponta como o modelo se tornou uma forma cultural definida mais por sua configuração como mercadoria do que seu valor artístico intrínseco, Gabriel Menotti acredita que o ciclo de bolhas e crises seja próprio do meio cripto.
— A maioria dos trabalhos é classificada como criptoarte por usar o NFT como um registro de “posse”, sem realmente se engajar de maneira expressiva com a estrutura do meio. Isso cria uma relação de mercantilização que abre espaço para qualquer coisa ser chamada de criptoarte — observa o pesquisador e curador independente. — Como esse mercado, por ser desregulado e opaco, está pautado por insiders que se beneficiam das bolhas, é natural que a variação esteja mais ligada a este caráter especulativo.
Evento internacional no Rio
Idealizador do NFT.Rio, primeiro evento internacional do país voltado ao segmento, que vai ocupar a Escola de Artes Visuais (EAV) do Parque Lage entre 30 de junho e 3 de julho, Marcus Menezes acredita que, mesmo em seu momento de pico, o mercado ainda estava longe de atingir o número de colecionadores em potencial para obras em NFT.
— É um setor muito novo, que as pessoas não entendem direito. O boom criou alguns estigmas, como se o NFT fosse um mercado de milionários excêntricos, que pagam milhões em memes. A proposta do evento é justamente popularizar estas obras. Além das expostas na EAV, teremos outras em 300 painéis digitais espalhados pela cidade — adianta Menezes, criador da coleção “CryptoRastas”, citando obras como a do fotógrafo americano Justin Aversano. — Estamos passando por um processo de amadurecimento, como acontece em qualquer mercado. E mesmo que o setor esteja passando por uma queda em geral, a criptoarte segue bem valorizada. Ainda há um mundo a ser explorado por artistas e colecionadores.
Para o presidente da Bolsa de Arte, Jones Bergamin, a incerteza econômica global leva a investimentos em segmentos já consagrados e conhecidos dos colecionadores:
— O NFT ainda é um mercado incipiente, há muitas dúvidas ainda sobre o seu funcionamento. A volatilidade é grande, o que afasta o colecionador tradicional. É algo que pode vingar, mas hoje continua bastante restrito a quem tem familiaridade com o meio dos criptoativos.
CEO da plataforma de arte digital Tropix, Daniel Peres Chor acredita que após a sobrevalorização de alguns ativos digitais no ano passado, o mercado está chegando a um platô mais real. Chor aposta na presença do NFT em eventos físicos, como a feira ArPa, cuja primeira edição será encerrada amanhã , no Pavilhão Pacaembu, em São Paulo. No evento, a Galeria Raquel Arnaud expõe a obra “Contrato social”, de Ding Musa, produzido em parceria com a Tropix.
— Estamos vendo o começo de uma transição entre um momento em que o mercado estava mais ligado aos criptoentusiastas para algo aberto a todo tipo de público — aposta Chor. — A queda nos ativos mais midiáticos está em evidência agora, mas outras aplicações do NFT, como a certificação digital pelas galerias, inclusive de obras físicas, está em plena expansão.