Queria ter a cabeça de hoje com o corpo de 30 anos atrás." Todo mundo ouviu ou já mesmo disse essa frase na vida — ou ainda vai. Se o envelhecimento físico é inexorável, ainda que a rapidez com que a medicina avança quase nos faça acreditar no contrário, a maturidade é capaz de devolver ao ser humano comportamentos perdidos lá trás.
É como pensa a psicanalista Regina Teixeira da Costa, que rejeita com todas as forças qualquer saudosismo:
— As pessoas precisam entender que ainda estamos no nosso tempo, independentemente da idade. Porque o tempo não é só da juventude, é de todos. Amadurecer também é se apropriar desse tempo. A gente rejuvenesce quando deixa de viver no passado e entende que o nosso tempo é hoje.
De fato. Se por um lado os dias atuais sobrecarregam o ser humano com uma quantidade absurda de informações, muitas vezes desordenadas, por outro fizeram com que o envelhecer fosse relativizado, e pessoas 50+, antes consideradas idosas, não raro encontram-se no auge da vida e da carreira.
— Antigamente, as pessoas de 50 anos eram frequentemente consideradas velhas devido a uma combinação de fatores como expectativa de vida mais curta, condições de trabalho mais desgastantes e padrões sociais diferentes. Hoje em dia, as pessoas depois dos 50 anos se mantêm ativas e engajadas em diversas atividades, graças a uma maior conscientização sobre saúde, avanços na medicina e mudanças culturais que valorizam a vitalidade e a experiência em todas as fases da vida — afirma o dermatologista Alessandro Alarcão, craque em valorizar a jovialidade de seus pacientes de maneira não invasiva.
Prova viva dessa mudança de paradigma, Regina acredita que a longevidade mudou a relação das pessoas com a própria idade.
— Hoje, com 60 anos, a gente está superatualizado. Ninguém quer mais parar de trabalhar, estamos acompanhando a contemporaneidade como outras gerações não fizeram. E com uma capacidade de enxergar o mundo, de ter uma análise crítica muito maior do que quando a gente é jovem — aponta a psicanalista.
É que, junto à graça e à vitalidade, a juventude nos atropela com uma série de questões inerentes à idade das quais é impossível escapar.
— Por que a adolescência é tão sofrida? Por que as pessoas dessa idade procuram tantas tribos, começam a se vestir de preto, a pintar o cabelo? Porque precisam desse pertencimento, querem ser aceitos — explica a geriatra Roberta França.
Nesse sentido, é possível afirmar que a maturidade é extremamente libertadora.
— Você precisa viver para compreender que não está aqui para agradar a ninguém. Isso não significa que não vá ter habilidade social ou empatia. Mas é entender que cada um tem o seu caminho. A maturidade só acontece com a passagem do tempo e é preciso envelhecer para compreender esse processo — diz a médica.
Roberta entende o período como ideal para cada um renovar o pacto com a sua criança interior:
— Quando você se dedica a algo novo aos 80 anos, está cumprindo os combinados que você fez com a sua versão criança. Porque, quando você fica mais velho, não está preocupado em ser um grande profissional, conseguir o melhor emprego, destacar-se no mercado. Quer simplesmente agradar a si mesmo, seu comprometimento é com você.
Sem falar no autoconhecimento adquirido, que só é possível com o passar dos anos.
— Quando a gente amadurece, se conhece melhor e sabe lidar com o que deseja e o que não deseja de uma forma muito mais tranquila. E entender isso faz a gente se sentir mais ativo, mais jovem — avalia Regina.
O maior aprendizado talvez seja justamente se livrar de metas e desejos alheios e agarrar a oportunidade de viver como bem entender.
. — É libertador entender que você não precisa agradar a todos o tempo todo. Pode ter o seu movimento, as suas ideias, as suas convicções. As pessoas vão amar ou odiar você por esses motivos. E tudo bem — conclui Roberta.