SOS Rio Grande do Sul
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Por — Rio de Janeiro

As enchentes que atingem Porto Alegre há quase um mês deixaram nas ruas da capital um volume extraordinário de sujeira, transformando áreas públicas em lixões a céu aberto. Pedaços de móveis, eletrodomésticos, restos de comida e toda sorte de objetos destruídos pela tragédia viram “montanhas” nas esquinas, nas frente das casas e do comércio. Na sexta-feira, o Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) informou que até quinta-feira haviam sido retiradas 7.370 toneladas de resíduos das calçadas. Todo o lixo está sendo encaminhado a um aterro emergencial a 22 quilômetros de Porto Alegre, em funcionamento desde quarta-feira. Especialistas ouvidos pelo GLOBO concordam com a destinação diante do cenário de emergência, mas ressaltam a necessidade de transferência dos materiais para local adequado após o auge da crise, sob risco de contaminação do solo e lençol freático.

O departamento de limpeza informa que uma força-tarefa com cerca de 800 garis atua nos serviços de limpeza dos bairros mais afetados pela cheia do Guaíba, conforme as águas vão baixando. Mas com vários pontos da cidade ainda submersos, as equipes só trabalham aonde é possível chegar, como Menino Deus, Cidade Baixa e Centro Histórico. Até sexta-feira, seis bairros permaneciam totalmente inacessíveis. As chuvas de quinta-feira inundaram, inclusive, lugares que não tinham sido alcançados na enchente, como Cavalhada e Restinga.

Enquanto os garis não conseguem dar conta do volume de lixo, a população convive com o mau cheiro, lama e lodo que permeiam tudo o que foi inundado. Em entrevista ao Jornal do Almoço, da RBS TV, o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), afirmou que a limpeza da cidade custará no mínimo R$ 100 milhões. O gestor disse também que esse processo “não vai terminar do dia para a noite” e que “não tem como chegar em todas as casas ao mesmo tempo”.

Melo admitiu, contudo, que errou na comunicação ao pedirem para as pessoas colocarem o lixo para fora de casa:

— Sou um prefeito que, quando tem erro de comunicação, sou o primeiro a reconhecer. Talvez ontem (quinta-feira), nesses bairros que está o bota-fora (nome que a prefeitura dá ao recolhimento de entulho), em razão da chuva, talvez precisasse ter tido um aviso: “Olha, não bota nessa data de hoje”. Mas havia lixo do dia anterior.

Diretor do Instituto do Meio Ambiente da PUC-RS, Nelson Fontoura avalia que a coleta de lixo ainda deve “demorar bastante tempo” para ser normalizada, sobretudo por causa do comprometimento de estruturas públicas e a necessidade de repavimentação de vias que hoje estão inacessíveis.

Fontoura considera ainda que a orientação dada pelo prefeito foi equivocada, ainda que tenha sido tomada visando a atender a uma demanda necessária, que é a coleta urgente de lixo.

— O prefeito imaginou que a chuva que viria não seria tão intensa, a ponto de causar um novo alagamento que carregaria esse lixo. Foi uma avaliação errada — explicou o pesquisador.

Aterro provisório

A área transformada no aterro para onde estão sendo levados os resíduos pós-enchentes, em Gravataí, corresponde a 270 hectares; o equivalente a 378 campos de futebol. Para lá, vão os materiais classificados como inertes — que não se decompõem ou sofrem qualquer alteração na composição com o passar do tempo.

O aterro tem capacidade para receber de 77 a 180 mil toneladas, volume que pode chegar a até 150 vezes a média diária de lixo recolhida na cidade. Com contratação por seis meses assinada um dia antes de entrar em funcionamento, o local tem um custo previsto de R$ 19,7 milhões.

O DMLU afirma que a escolha por Gravataí traz “benefícios logísticos, ambientais e financeiros” para Porto Alegre. O aterro, porém, também é uma preocupação para o espacialista da PUC-RS.

Fontoura diz que é importante garantir o caráter temporário do local, para que, uma vez normalizada a situação no estado, o resíduo seja destinado a um aterro sanitário que cumpra todas as regras ambientais.

— Um aterro temporário também precisa atender algumas normas ambientais, como não ser uma área alagável. Essa determinação faz com que o resíduo não seja carregado adiante, evitando a contaminação do solo e do lençol freático — explica Fontoura.

Questionado, o DMLU diz que não é responsável pelo licenciamento do aterro e direcionou a reportagem para a Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura do estado. Esta, sobre o cumprimento das normas ambientais, disse que a resposta caberia à Secretaria municipal do Meio Ambiente. O GLOBO tentou contato à noite, mas não houve resposta.

Risco de doenças

Um levantamento de pesquisadores do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em parceria com a empresa Mox Debris e voluntários, aponta que devido à destruição causada pelas chuvas no Rio Grande do Sul, o volume de entulho gerado no estado pode chegar a 46,7 milhões de toneladas.

A média diária de recolhimento residencial na capital gaúcha, por exemplo, é de 1,2 tonelada em situação normal. Dessa forma, o total de lixo decorrente da chuva que deve ser retirado das ruas do estado equivale a 39 dias de coleta em Porto Alegre.

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Além do mau cheiro proveniente de animais mortos, o lixo nas calçadas pode impactar a saúde da população. Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e especialista em Engenharia Sanitária, Fernando Jorge Correa aponta que o resíduo impactado pelas chuvas “atrai vetores que podem transmitir doenças”.

— É importante que a população reduza neste momento o consumo de produtos que gerem muito resíduo. O poder público precisa adotar estratégias melhores e uma comunicação mais eficiente. A população não percebe que há um plano de emergência em curso. As pessoas não estão preparadas para quando esse risco acontece — aponta o pesquisador.

Na sexta-feira, o nível Guaíba, na capital gaúcha, ultrapassou novamente a taxa de quatro metros no Cais Mauá. Na medição das 20h, o nível estava em 4,31 metros, segundo a Agência Nacional de Águas (ANA). O número de mortos pelas chuvas chegou a 163, conforme balanço de sexta à noite da Defesa Civil estadual. Ainda há 63 desaparecidos.

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