Formiga-bala: conheça espécie utilizada em ritual indígena que acendeu alerta após mulher ser picada em SP

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Um artigo da Encyclopedia of Life (EOL) classifica a formiga-bala como a mordida mais dolorosa do reino animal, utilizando o “índice de dor Schmidt”, que vai de 0 a 4. No ranking, ela registra uma 'pontuação' de 4+, ou seja, maior do que a própria comparação com a picada mais forte entre os insetos.

No tupi-guarani, a formiga-bala é chamada de tocandera, tocandira, ou tocanquibira, palavra que significa 'aquela que fere profundamente'. Na Venezuela, por exemplo, espécie é conhecida como 'formiga 24 horas', pelo tempo em que a vítima sentirá os efeitos do contato com o inseto.

Uma mulher da cidade de Ourinhos, no interior de São Paulo, foi picada por uma formiga-bala em uma piscina de bolinhas, onde brincava com o filho de 4 anos. Aline Ferraz, de 32 anos, ficou mais de 8 horas com dores intensas.

“A dor foi insuportável, e não ficava só no local da picada. Foi aumentando e chegou até metade da sua panturrilha. Na hora eu tinha certeza que era um escorpião, alguma coisa muito grave, porque foi muito forte”, disse Aline ao portal Metrópoles.

Ao NatGeo, o entomologista norte-americano Justin O. Schmidt, especializado no estudo de insetos, é o criador da escala, que mede a dor causada pela picada de diversas espécies. Para o estudo, o pesquisador se submeteu a inúmeros ataques, a fim de classificar, por si só, a sensação causada por cada um deles. Segundo Schmidt, a dor causada pela formiga-bala é semelhante a “andar sobre brasas com um prego de 5cm cravado no calcanhar”.

A dor ocorre devido a uma neurotoxina produzida pela formiga, que possui ações paralisantes, além de dor local extrema, retenção de líquidos, edemas, expulsão de sangue com as fezes humanas, e elevação da frequência cardíaca.

Durante uma expedição de pesquisa pela UFMS, no Mato Grosso do Sul, o biólogo Paulo Robson de Souza, de 62 anos, tirava fotos de um formigueiro da espécie quando foi atingido pelos insetos em três lugares.

Por ser um lugar sensível e repleto de terminações nervosas que auxiliam o ser humano no tato, Paulo lembrou que a ponta do dedo foi também o local com a maior concentração de dor. Além disso, a sensação se assemelhava a um pulsar; há inclusive quem compare a picada do inseto com um tiro.

“Levei três ferroadas aqui no Cerradinho da UFMS, enquanto pesquisava a formiga. Eu precisei me ajoelhar para fotografar o ninho delas e havia uma entrada [do ninho] na proximidade da minha perna. Fui ferroado na ponta de um dedo da mão, no antebraço direito e em uma das coxas”, contou o biólogo ao Midiamax.

"No meu caso, durou 12 horas. Foi uma dor terrível. É uma dor que fica pulsando, eu acho que tem a ver com batimento cardíaco. Tem hora que eu sinto muito e daqui a pouco começo a sentir fortemente", explicou Paulo ao Midiamax.

A tocandira é a mesma formiga usada pela etnia Sateré-Mawé, no Amazonas, em um ritual que marca a passagem da adolescência para a vida adulta dos homens. O rito é marcado pela introdução de formigas-bala em uma luva que será usada pelo garoto para adquirir resistência à dor.