Antônio Gois
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Antônio Gois

Um espaço para debater educação

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Antônio Gois

Jornalista de educação desde 1996. Autor dos livros 'O Ponto a Que Chegamos'; 'Quatro Décadas de Gestão Educacional no Brasil' e 'Líderes na Escola'.

O acesso a cursos de capacitação profissional pode contribuir para aumentar a renda e empregabilidade de pessoas em situação de extrema pobreza, mas não é suficiente para eliminar outras barreiras no mercado de trabalho, como o preconceito. Esta conclusão é corroborada por uma série de estudos em diferentes contextos. Um dos mais recentes foi publicado em março pelo pesquisador Leandro Pongeluppe (Universidade da Pensilvânia), na revista científica Administrative Science Quarterly, a partir de uma pesquisa com moradores de favelas cariocas beneficiados por programas sociais do Banco da Providência, fundado em 1959 por Dom Hélder Câmara.

Pongeluppe realizou uma avaliação de impacto com o Banco da Providência para medir o quanto o programa da organização auxilia moradores de favelas cariocas a desenvolverem competências profissionais e socioemocionais. Os resultados mostraram aumentos significativos no nível de renda e ocupação, além de ganhos em auto-confiança e otimismo. Contudo, nas palavras do autor, também revelam que, à medida que as pessoas ganham mais renda e aumentam sua mobilidade social, ficam mais sujeitas ao preconceito e a sensação de estigma por serem moradores de favelas.

Para chegar a essas conclusões, o estudo utilizou o método mais rigoroso de mensuração de impacto: dois grupos com características similares (beneficiários do Bolsa Família residentes em favelas cariocas) foram acompanhados ao longo do tempo, sendo a única diferença entre eles o fato de terem, de forma aleatória, conquistado ou não uma vaga nos cursos.

O programa oferece capacitação profissional em três fases. A primeira é focada no desenvolvimento de habilidades socioemocionais, como a capacidade de expressão, autoestima e autoconfiança. A segunda é voltada para habilidades profissionais, incluindo cursos profissionalizantes em diferentes áreas e formação em empreendedorismo. Por fim, é oferecido apoio ao desenvolvimento de negócios, incluindo mentorias e oficinas complementares para quem atua no mercado informal.

O estudo identificou que os beneficiados tinham 15 pontos percentuais a mais de chance de terem emprego e renda depois do programa e uma renda mensal domiciliar R$ 323 maior, na média, em comparação com aqueles que não participaram das atividades. Através de questionários e entrevistas individuais, foram constatados também impactos positivos na auto-eficácia e no otimismo. Apenas um indicador foi na direção contrária: a sensação de estigma social foi maior entre os participantes. Com o agravante que, quanto mais elevados eram os níveis de rendimentos que os beneficiados alcançavam, mais preconceitos relatavam sofrer, por terem aumentado seu nível de interação social com pessoas de maior nível socioeconômico.

Uma das conclusões mais impactantes do estudo é que a mobilidade social pode aumentar a renda dos indivíduos, mas não muda o lugar de onde vêm ou a forma como a sociedade os enxerga. Apesar de as pessoas da pesquisa não terem registros criminais, o simples fato de residirem em favelas afetou a probabilidade de ingresso no mercado de trabalho formal em níveis similares aos registrados em estudos com egressos do sistema prisional.

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