Boa Viagem
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Por Christine Chung, The New York Times

Em 30 de junho, os agentes da American Airlines no Aeroporto Regional de Gainesville, na Flórida, cancelaram a passagem de um adolescente da Carolina do Norte depois de perceber que ele tinha usado uma tática de reserva conhecida como "skiplagging", ou "destino omitido", proibida pelas aéreas, mas utilizada por alguns passageiros que querem pagar menos.

Entenda o caso

O pai, Hunter Parsons, disse que era a primeira vez que o jovem de 17 anos viajava desacompanhado, e que a ocasião e o preço do bilhete o tornaram irresistível — por US$ 150, o jovem voaria de Gainesville a Charlotte, na Carolina do Norte, sem seguir na segunda parte, rumo a Nova York, economizando aproximadamente US$ 300 em relação ao que a família teria gastado comprando a passagem no voo direto para a cidade-escala. De fato, o rapaz não passou nem do balcão de check-in no ponto inicial, onde os funcionários questionaram por que ele haveria de ir para Nova York quando morava na cidade de conexão, Charlotte. Foi forçado a pagar o valor correto.

O que é o Skiplagging?

No "skiplagging", a pessoa compra passagem de um voo com escala, sendo que ela é seu destino, ou seja, desembarca ali e simplesmente desiste da segunda parte da viagem. Isso porque dessa forma acaba pagando muito menos do que se fosse adquirir um bilhete direto. Já há pelo menos dois sites hoje que ajudam o consumidor a desenterrar essas pechinchas.

O Skiplagging é ilegal?

Embora não seja ilegal, a prática é terminantemente proibida pelo contrato de transporte das empresas, que punem de forma errática, ainda que severa, quem é pego, chegando a anular as milhas de um passageiro em um caso e até a processar judicialmente outro.

— Meu filho ficou proibido de viajar nos aviões da American por três anos — conta Parsons.

Segundo os especialistas, a prática vem sendo usada há décadas e identificar o uso impróprio das conexões é complicado, transformando a garantia de obediência à regra em um desafio para as empresas. Veja aqui tudo que há para saber a respeito do segredo mais mal guardado da aviação.

Como funciona o Skiplagging?

O preço da passagem aérea é determinado segundo muitos fatores, como preço do combustível, demanda e concorrência, não sendo só reflexo da distância a ser percorrida. Para o passageiro, isso significa que de vez em quando pode ser mais vantajoso comprar um bilhete com escala em uma rota mais concorrida e desembarcar no meio do caminho do que optar pela opção direta.

Por exemplo, uma pessoa em Fort Lauderdale, na Flórida, quer ir a San Francisco. Em uma pesquisa recente, apareceu um voo para Portland, no Oregon, com parada em San Francisco, por US$ 124. A versão direta sai por US$ 220.

Tanto o Skiplagged como o Kiwi facilitam a busca e a compra dessas opções, mas é preciso manter a discrição: não dá para despachar a mala nem usar uma conta com programa de milhagem. Além disso, o passageiro não pode adotar um padrão: se voar para o mesmo destino repetidas vezes, desprezando a segunda parte da viagem, é muito provável que seja pego.

Por que a prática do Skiplagging está se tornando popular?

Basicamente, por causa do preço da passagem, que disparou nos últimos anos.

Para Mary Cropper, especialista em viagens da Audley Travel, de Boston, a precificação das passagens é uma "tempestade perfeita": além dos aumentos, as taxas adicionais sobre tudo, de bebidas à impressão do cartão de embarque, tornaram o "skiplagging" mais atraente.

— Não aconselho ninguém a fazer, mas entendo o que leva o passageiro a isso. Por que não economizar 50% do valor de uma passagem que já é tão extorsiva? — considera.

Aktarer Zaman, fundador e CEO do Skiplagged, frisa que seu site apenas "permite à pessoa tomar a decisão que lhe for mais conveniente, explorando as alternativas atuais", que ele descreve como "estipulação de preços".

Quais são os riscos do Skiplagging?

Ao comprar uma passagem, o consumidor assume um contrato de transporte com a empresa, que nada mais é do que uma série de regras que se dispõe a cumprir e que abrange todos os aspectos, desde o procedimento em relação ao overbooking até as exigências de vestimenta e comportamento. Esses termos e condições também normalmente proíbem a prática do destino oculto, listando uma série de possíveis consequências em caso de descumprimento das regras.

A United Airlines, por exemplo, reserva-se o direito de banir permanentemente o passageiro que não completar a viagem, além de revogar seu status e zerar as milhas já adquiridas. A Alaska Airlines ameaça entrar na justiça contra quem violar suas políticas. Nas letrinhas miúdas, a American diz ter o direito a inúmeras ações, tais como o cancelamento do trecho não utilizado, a recusa de permitir o embarque e a cobrança do preço cheio da rota desejada.

— Esse tipo de recurso é um desastre do começo ao fim, pois pode causar grandes dores de cabeça com as malas despachadas e impedir o passageiro com necessidades urgentes de comprar o bilhete — afirma Curtis Blessing, porta-voz da empresa.

No geral, as empresas aéreas têm se voltado principalmente contra os facilitadores da prática, movendo algumas ações judiciais contra o Skiplagged e o Kiwi. Este último, aliás, foi processado em um tribunal federal no Texas há alguns meses pela American, que alegou que a "agência on-line, de forma desonesta, teria se envolvido em práticas abusivas de preços repetidas vezes, inclusive vendendo passagens com destino oculto para seus clientes", segundo os autos.

Por enquanto, o recurso judicial não conseguiu impedir o uso do modelo, com uma ação de 2014 da United contra o Skiplagged arquivada. Em 2021, a Southwest Airlines processou o site por usar seus dados — e este, por sua vez, afirmou não ter poder de distribuir passagens, apenas exibindo as possibilidades e direcionando o viajante para outros endereços on-line. Segundo Zaman, no fim ambas as partes concordaram em desistir da ação.

Em 2018, a Lufthansa entrou na justiça contra um passageiro que comprara uma passagem ida e volta de Oslo para Seattle, mas desembarcou em Frankfurt, na Alemanha, onde o avião fez escala, embora tenha desistido tempos depois. Mesmo assim, há inúmeros relatos on-line de viajantes que dizem ter sido ameaçados com proibições vitalícias e a perda da milhagem.

É uma opção ética? Até que ponto é problemática para as empresas aéreas?

— A questão é: você acha que vai causar algum impacto para a companhia? Você se importa com esse fato? — explica Robert Mann, analista do setor de aviação e ex-executivo da American.

As empresas afirmam que a exploração do recurso resulta em poltronas vazias que poderiam ter sido ocupadas por quem precisa.

No processo contra o Kiwi, a American também disse que o não comparecimento gera atrasos, pois obriga a buscar pelo passageiro e por qualquer bagagem envolvida, mais desperdício de combustível, calculado pelo número de passageiros.

Há quem diga que o expediente é uma brecha criada pela própria empresa, reflexo de suas prioridades de precificação; por lei, ela pode estabelecer os preços e rotas que quiser.

— Pode-se alegar que a cobrança de tarifas mais altas para as distâncias mais curtas é injusta, e prejudica principalmente quem viaja com frequência aos destinos de conexão, já que a alta demanda implica um preço mais elevado — explica Paul Hudson, fundador de um grupo de defesa dos direitos dos passageiros, o Flyers Rights.

O que fazer ao ser penalizado pela prática do Skiplagging?

Não há muita opção. Bart Banino, advogado da Condon & Forsyth, firma especializada nas leis que regem a aviação, enfatiza que o passageiro é obrigado a obedecer aos termos e condições estipulados pela empresa aérea — o contrato de transporte —, seja cumprindo a rota adquirida, seja pagando a diferença se for pego na infração.

— Há inclusive uma sentença da Suprema Corte que dá direito à anulação da milhagem por quaisquer que sejam os motivos — conta.

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