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Por Anais Llobet, AFP

Balanços acorrentados rangem assustadoramente com a brisa no deserto parque de diversões Tivoli, em Nicósia, capital do Chipre, uma ilha dividida que chamou a atenção da comunidade global de “exploradores urbanos”. Para entrar no parque fechado, coberto de vegetação natural, o entusiasta do “urbex” Christos Zoumides se ergue em uma parede, passa por barras enferrujadas e caminha sobre vidros quebrados.

— Tenho tantas lembranças daqui — maravilha-se o cientista cipriota de 40 anos ao chegar a uma pista de kart abandonada, onde sua família costumava levá-lo quando criança.

Nos últimos oito anos, ele adotou o “urbex”, o passatempo underground de explorar lugares abandonados — geralmente de forma ilegal e com risco de acidentes em locais muito dilapidados.

Considerado parte do “turismo sombrio”, ou “dark tourism”, ele tem atraído exploradores para “lugares perdidos” em toda parte, desde bunkers abandonados da Guerra Fria até cinemas, fábricas e salas de concerto esquecidos que parecem congelados no tempo.

— Os locais mais populares tendem a evocar desastres históricos, tragédias e guerras. E isso fez de Chipre um cenário “único” para muitos — disse a especialista em turismo Katerina Antoniou.

A ilha no leste do Mediterrâneo está dividida desde que, em 1974, as tropas turcas invadiram seu terço norte em resposta a um golpe de nacionalistas greco-cipriotas. A zona tampão da Linha Verde, patrulhada pela ONU, com forte presença militar em ambos os lados, separa a República do Chipre da República Turca do Chipre do Norte (RTCN), reconhecida apenas por Ancara.

Playground proibido

Como lembretes de sua trágica história, casas centenárias de arenito, com telhados escavados e janelas quebradas, permanecem em muitas áreas, inclusive em Nicósia, onde suas placas de “Proibida a entrada” atraem os fãs do “urbex”.

— Passear por elas é uma maneira diferente de documentar Nicósia... Você sente muitas coisas quando explora um lugar esquecido. Você se conecta com as pessoas que viveram lá — argumentou Zoumides.

Bandeiras do Chipre, da Grécia e da Turquia na Linha Verde: ilha foi dividida em 1974, quando a parte norte foi invadida por tropas turcas — Foto: Amir Makar / AFP
Bandeiras do Chipre, da Grécia e da Turquia na Linha Verde: ilha foi dividida em 1974, quando a parte norte foi invadida por tropas turcas — Foto: Amir Makar / AFP

Ele disse que o Chipre tem atraído cada vez mais fãs do “urbex” que estão curiosos sobre seus sacos de areia e arame farpado, suas “bases militares abandonadas, postos da ONU... lugares intocados por meio século”.

Atraídos por vídeos on-line, “eles querem descobrir a face oculta de Nicósia, o lado secreto do Chipre”, disse Zoumides, que às vezes guia entusiastas estrangeiros do “urbex”.

As autoridades estão alarmadas com a tendência, e o porta-voz da força de paz da ONU, Aleem Siddique, classificou como “completamente irresponsáveis” quaisquer excursões que se aproximem de áreas militares.

— Isso não é um playground... é uma zona militar — enfatizou, sobre a Linha Verde. — Há milhares de forças oponentes, soldados armados em ambos os lados da linha. Seria muito fácil para um civil ser confundido com um dos membros da oposição e causar vítimas civis, sem mencionar os 47 campos minados restantes — alertou.

Para Aleem Siddique, representante da ONU no Chipre, a onda de visitas a locais na zona militarizada representa um grande risco para os turistas e os moradores — Foto: Amir Makar / AFP
Para Aleem Siddique, representante da ONU no Chipre, a onda de visitas a locais na zona militarizada representa um grande risco para os turistas e os moradores — Foto: Amir Makar / AFP

Siddique acrescentou com um suspiro:

— Um dos aspectos mais frustrantes dessa tendência “urbex” é que algumas pessoas não sabem nada sobre o contexto do conflito. Os pacificadores, cipriotas turcos e cipriotas gregos morreram nesta terra... Este não é um local para você fazer vídeos.

Katerina Antoniou argumentou que o “urbex” no Chipre também representa uma “questão ética”, com exploradores estrangeiros “ofendendo os moradores locais ao entrar sorrateiramente” em edifícios nos quais seus proprietários não podem entrar há décadas.

Sucesso nas redes

Placa indicando a entrada proibida no antigo aeroporto internacional de Nicósia, abandonado há décadas e um dos pontos mais populares entre os entusiastas de 'urbex' que visitam o Chipre — Foto: Amir Makar / AFP
Placa indicando a entrada proibida no antigo aeroporto internacional de Nicósia, abandonado há décadas e um dos pontos mais populares entre os entusiastas de 'urbex' que visitam o Chipre — Foto: Amir Makar / AFP

Esses avisos não impediram as estrelas do “urbex”, como Bob Thissen. O holandês, que compartilhou vídeos de três viagens ao Chipre com seus mais de 500 mil seguidores no YouTube, se gaba de arriscar sua “vida, liberdade e saúde” por sua paixão.

Uma incursão na zona de segurança da ONU o levou ao antigo aeroporto de Nicósia, onde um avião abandonado ainda está na pista e uma espessa camada de poeira cobre o interior do terminal abandonado.

— Eu nunca tinha visto um lugar como esse na Europa — disse Thissen à AFP. — Minha visita excepcional terminou com um pouco de adrenalina quando vimos os soldados da ONU nos procurando. Ficamos escondidos até o anoitecer e depois fugimos.

Hangar abandonado no antigo aeroporto internacional de Nicósia, um dos pontos mais populares entre os entusiastas de 'urbex' que visitam o Chipre — Foto: Amir Makar / AFP
Hangar abandonado no antigo aeroporto internacional de Nicósia, um dos pontos mais populares entre os entusiastas de 'urbex' que visitam o Chipre — Foto: Amir Makar / AFP

Seu outro local favorito fica no norte, o outrora popular resort à beira-mar de Varosha, cujos habitantes foram forçados a fugir e que agora é uma vasta cidade fantasma na praia. A RTCN abriu, de forma controversa, partes da cidade para turistas, que podem caminhar ou pedalar por várias ruas e tirar fotos dos pontos turísticos isolados.

— É tão singular, uma cidade inteira congelada no tempo... como uma cápsula do tempo desde 1974 — disse Thissen, que não conseguiu resistir a passar pelos guardas turcos. — É claro que eu não iria obedientemente para onde os soldados queriam que eu fosse. Foi fácil escapar da vigilância deles e explorar as trilhas menos conhecidas.

Inspirada pelos vídeos de Thissen, uma fã sul-coreana de “urbex”, que pediu para ser chamada apenas de Kim, veio em março para visitar Varosha e o aeroporto abandonado. A arquiteta de Seul, de 28 anos, disse que sonhava em entrar na zona de amortecimento de Chipre “porque há uma entre a Coreia do Sul e a Coreia do Norte", a DMZ, que é estritamente proibida.

— O que senti quando cruzei o arame farpado foi muito intenso — disse Kim. — Pensei que morreria porque minha mente esqueceu se eu estava no Chipre ou na Coreia.

Thissen ignorou todos os avisos de segurança, afirmando que os fãs hardcore do “urbex” continuarão vindo.

— Se eles colocarem novas cercas as pessoas vão escalá-las.

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