Vera Magalhães
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Os principais fatos da política, do Judiciário e da economia.

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Vera Magalhães

Jornalista especializada na cobertura de poder desde 1993. É âncora do "Roda Viva", na TV Cultura, e comentarista na CBN.

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GERADO EM: 21/06/2024 - 04:59

Lula critica interferência na Petrobras e no BC

Lula utiliza metáforas para simplificar debates econômicos, mas sua retórica infantilizada prejudica a compreensão dos problemas. Critica a interferência na Petrobras e no BC, defendendo a autonomia e responsabilidade fiscal para atrair investimentos e garantir crescimento sustentável no Brasil.

Um dos maiores malefícios da polarização ao debate público, sobretudo em economia, é promover a infantilização dos argumentos.

Lula sempre curtiu uma metáfora. Quanto mais literal e de fácil compreensão, melhor, casamento e futebol à frente como temas preferidos. No terceiro mandato, no entanto, mudou a retórica para a construção de fábulas sobre o papel dos agentes públicos e econômicos e, pior, das instituições numa luta entre o bem (justiça social) e o mal (cobrança por responsabilidade fiscal).

Nada mais deletério para a compreensão dos problemas, bem mais complexos que essa simplificação eterna, e para que ele próprio consiga expandir seu círculo de apoios e atrair os tão propugnados investimentos para o Brasil.

Nesta semana, o Copom e a Petrobras são as organizações transformadas em castelos de contos de fadas no discurso do presidente.

O primeiro seria habitado por um vilão insensível, tão ardiloso que é capaz de hipnotizar até os aliados do herói para fazer o mal e castigar os mais pobres. A segunda seria uma espécie de fortaleza resgatada dos visigodos, que tentaram estigmatizá-la como antro de corrupção, e devolvida à população, que agora terá acesso ao bem-estar proporcionado por investimentos opulentos.

Na vida real em que juros são definidos por critérios técnicos, e a era do “petróleo é nosso” já ficou para trás, as coisas são completamente diferentes, e esse blá-blá-blá ideológico não melhora em nada a crença dos investidores na capacidade do Brasil de ser um destino confiável, atraente e com potencial de longo prazo para o dinheiro disponível. O que, aí sim, poderia reverter em empregos, renda e crescimento sustentável.

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De gestores de grandes escritórios de advocacia à frente de negócios de grande monta a economistas-chefes de grandes bancos, não são poucos os agentes econômicos que apontam o esgotamento do modelo de gastar como se não houvesse amanhã para gerar crescimento, emprego e renda. E que dizem que o Brasil vai saindo do radar do mundo. Travestir esses tomadores de decisão em bruxas e assombrações também não é razoável.

Até porque, sem projeto, qualquer quantidade de recurso público que se despeje na praça só gerará oportunidades para os que vivem de desviá-lo — uma vez que não é só porque Lula mareja os olhos que o petrolão deixará de ter existido. Passe de mágica, só nas histórias da carochinha.

Mecanismos como autonomia do Banco Central e a Lei das Estatais são salvaguardas para as instituições, que as blindam de ingerências políticas do dirigente político de turno.

Quem saudou o BC por não promover a queda de juros nas eleições de 2022 e, assim, beneficiar Jair Bolsonaro — que promovia uma farra de medidas econômicas irresponsáveis para tentar se reeleger — agora vocifera contra a independência.

Muitos dos que denunciaram a sanha de Bolsonaro por aparelhar a Petrobras e segurar artificialmente os preços dos combustíveis agora saúdam a interferência indisfarçada que Lula, Rui Costa e Alexandre Silveira promovem na empresa, simbolizada pela solenidade de posse em que Magda Chambriard foi mera coadjuvante.

Sim, Lula foi eleito com um programa que já deixava clara a defesa de um Estado mais presente na economia. Fim das privatizações, aumento de benefícios sociais e uma estrutura em que Petrobras e BNDES seriam auxiliares no investimento público estavam dados.

Mas o presidente também se comprometeu com uma gestão fiscal responsável ao nomear Fernando Haddad para a Fazenda, e o ministro entregou um arcabouço com déficits regressivos até que se obtivesse um superávit — horizonte agora tornado mais longo.

Cobrar o cumprimento dessa segunda parte é premissa para que a primeira não descambe para o que foi o governo Dilma Rousseff. Lula sabe disso, porque seguiu essa receita nos mandatos anteriores. Encontrar personagens e entidades para demonizar quando não se faz o próprio trabalho é tratar o público como criança.

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