True Crime
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Histórias, detalhes e personagens de crimes reais que mais parecem ficção

Informações da coluna

Ullisses Campbell

Com 25 anos de carreira, sempre atuou como repórter. Passou pelas redações de O Liberal, Correio Braziliense e Veja. É autor da coleção “Mulheres Assassinas”

Por — São Paulo

As duas mulheres que atacaram um casal gay em fevereiro, dentro de uma padaria no bairro de Santa Cecília, região central de São Paulo, serão julgadas por crimes de injúria e homofobia. Nesta segunda-feira, o Tribunal de Justiça de São Paulo aceitou a denúncia do Ministério Público contra a empresária Jaqueline Santos Ludovico, de 33 anos, e a cantora Laura Athanassakis Jordão, de 22. As duas avançaram contra o jornalista Rafael Gonzaga Santana, de 33 anos, e o engenheiro civil Adrian Grasson Filho, de 32. Julgadas, elas poderão pegar até 12 anos de cadeia e desembolsar juntas indenizações de até 35 salários mínimos às vítimas.

O caso de polícia começou no estacionamento da padaria Iracema, localizada na Avenida Angélica. Ao estacionarem o carro, Rafael e Adrian foram chamados de “veados” por Jaqueline. Laura e Jaqueline chegaram a pegar um cone de trânsito e arremessar contra o casal. Segundo consta da denúncia do Ministério Público, Laura chegou a dizer o seguinte: “Vocês queriam ter a boceta que eu tenho. (...) Por que não experimentam uma xoxota para virar homem”.

Casal é vítima de homofobia em padaria de SP

Casal é vítima de homofobia em padaria de SP

Dentro da padaria, as ofensas continuaram. Alterada, Jaqueline começou a gritar: “Eles acham que podem fazer o que quiserem porque são veados”. Com o princípio de tumulto, um cliente disse que estava ligando para o 190. A agressora reagiu, em cenas registradas em vídeo gravado pelas vítimas: “Chama a polícia e vamos ver quem vai ser preso aqui. Eu sou branca de família tradicional. (...) Você nasceu homem, seu lixo. Eu sou mais macho que vocês. Sou mais mulher do que vocês”, gritou. Em seguida, Jaqueline avançou contra Adrian, acertando seu olho. Ela chegou a ser afastada, mas voltou para perto dos jovens. “Tirei sangue seu e foi pouco”, frisou, antes de arrematar: “Os valores estão sendo invertidos. Eu sou de família tradicional. Eu tenho educação”.

Em depoimento dado à polícia em 5 de março, Jaqueline disse que estava bêbada no dia do incidente, ocorrido na madrugada, porque havia saído de um pagode onde havia bebido cerveja. Na ocasião, se disse vítima. Contou que teve sua honra “de mãe e mulher” atacada pelo casal gay. “Fui xingada de piranha, vagabunda e vadia branca, sendo que sou parda”, contou. Mas nenhuma testemunha ouviu tais ofensas. No mesmo interrogatório, a empresária assumiu que chamou os jovens de “veado”, mas atribuiu as ofensas homofóbicas ao nervosismo.

Laura, por sua vez, foi à delegacia em 15 de fevereiro e disse que não se lembrava de nada. Mas contou aos policiais que sua amiga foi xingada de “piranha” pelos rapazes. No dia 28 do mês, já com os vídeos dos ataques homofóbicos viralizados na mídia, ela voltou a depor. Dessa vez ela estava com a memória refrescada. Contou que “só entrou na briga” para defender a amiga. Apesar de as imagens de câmeras mostrarem a cantora jogando cones contra os rapazes, ela negou que tenha praticado o ato de violência. “Não fiz nada”, declarou Laura.

Lauta Jordão é acusada de ter atacado um casal gay com um cone, no estacionamento de padaria, em São Paulo — Foto: Reprodução
Lauta Jordão é acusada de ter atacado um casal gay com um cone, no estacionamento de padaria, em São Paulo — Foto: Reprodução

Mesmo enrolada na Justiça, Jaqueline vem provocando Rafael e Adrian em diversas postagens nas redes sociais. No fim de semana, ela publicou no Instagram uma foto em que aparece com uma amiga na padaria Iracema, palco dos ataques homofóbicos. “Essa postagem é ameaçadora e intimidatória. Também é um deboche dela com as nossas autoridades e com a justiça. É mais uma demonstração de alguém que cometeu um crime com a certeza da impunidade. É um comportamento de quem não demonstra sequer arrependimento”, reagiu Rafael Santana. “Mas estamos confiantes de que a justiça será feita”, finaliza.

Mudança em empresa

Jaqueline é dona da JSL Marketing Ltda., cujo CNPJ é 41.610.340/0001-11. A empresa teve a titularidade alterada recentemente. Uma certidão emitida pela Junta Comercial do Estado de São Paulo (Jucesp) no dia 16 de maio mostra que ela transferiu o empreendimento para o nome de uma amiga, a empresária Iara Crepaldi, que agora aparece como sócia-administradora. O nome de fantasia da empresa também foi alterado, passando agora a se chamar Crepaldi Marketing e Assessoria Ltda. O CNPJ, no entanto, permanece o mesmo.

A empresa de Jaqueline já esteve envolvida em encrencas judiciais. Segundo uma ação que tramita no Tribunal de Justiça de Santa Catarina, Jaqueline orquestrou um esquema fraudulento que movimentou R$ 200 mil. De acordo com a denúncia, a empresária teria recebido o montante de uma empresa do município de Tubarão, numa prática ilícita conhecida na praça como “golpe da publicidade”. Ela foi descoberta e denunciada depois que a secretária Viviane Vicente contatou a JSL Marketing Ltda. para fazer anúncios na internet da empresa do seu irmão, Ênio Vicente, proprietário da Retífica de Motores Master. As partes assinaram um contrato. A partir daí, a secretária passou a fazer pagamentos esporádicos a Jaqueline mesmo sem ver os anúncios da empresa do seu irmão no ar.

No processo, Jaqueline não apresentou provas de que fez os anúncios prometidos a Viviane. Já a secretária sustenta na ação que ela passou a ser vítima de extorsão e ameaças, uma vez que Jaqueline dizia que, se não recebesse parcelas previstas no contrato, colocaria o nome da retífica de motores em listas de restrições da Receita Federal. Em outro contato, Jaqueline disse que a empresa seria executada e iria à falência. Com medo, Viviane fez novos pagamentos.

Sobre os ataques na padaria, a defesa de Jaqueline sustenta que ela estava em “situação de vulnerabilidade” e que a reação da mídia ao caso é uma “injustiça”. Em uma nota, os advogados Paulo Eduardo, Tiago de Mello e Adriana Sousa disseram que há duas versões dos fatos: “A história completa e a verdadeira complexidade dos eventos exigem uma abordagem mais sensível e equilibrada, que reconheça a situação de vulnerabilidade da Sra. Jaqueline e a injustiça de julgá-la apenas com base em fragmentos de informações”. Já a defesa de Laura não foi localizada para comentar a ação.

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