True Crime
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Histórias, detalhes e personagens de crimes reais que mais parecem ficção

Informações da coluna

Ullisses Campbell

Com 25 anos de carreira, sempre atuou como repórter. Passou pelas redações de O Liberal, Correio Braziliense e Veja. É autor da coleção “Mulheres Assassinas”

Por — São Paulo

A administração penitenciária do Rio Grande do Sul já mandou para casa pelo menos 250 presos que cumpriam pena no regime semiaberto em três penitenciárias por causa das enchentes que assolam o estado. Os primeiros beneficiados foram os 70 detentos do anexo da Penitenciária Estadual de Jacuí (PEJ). Em seguida, foram liberados mais 150 do Instituto Penal de Charqueadas (PECH). Por último, foram soltos 50 do Instituto Penal de São Jerônimo. Os dados são do Sindicato da Polícia Penal (Sindppen) do Rio Grande do Sul.

Segundo o presidente do sindicato, Cláudio Dessbessell, no rol dos presos que foram mandados para casa, há toda sorte de criminosos. “Tem latrocidas, estupradores, assaltantes de banco e assassinos. Esses detentos foram para casa ou procuraram abrigos, misturando-se à população. Uns estão circulando pela cidade. Outros voltaram a cometer crimes”, assegura Dessbessell.

No sábado passado, um dos detentos liberados por causa da enchente foi preso em flagrante por policiais civis do Departamento de Repressão ao Narcotráfico (Denarc). Ele conduzia um barco furtado pelas ruas alagadas do bairro de Humaitá, na zona Norte de Porto Alegre. O criminoso utilizava tornozeleira eletrônica e cumpria pena em liberdade, mesmo tendo cinco condenações por tráfico de drogas.

Barco furtado apreendido pela polícia do RS. Estava em poder de um traficante do regime semiaberto — Foto: Divulgação/Polícia Civil
Barco furtado apreendido pela polícia do RS. Estava em poder de um traficante do regime semiaberto — Foto: Divulgação/Polícia Civil

Segundo o secretário do sistema penal e socioeducativo do Rio Grande do Sul, Luiz Henrique Viana, a soltura dos presos ocorreu em caráter emergencial. “Nós os mandamos para casa porque algumas casas penais ficaram alagadas. Em cinco presídios de Charqueadas, a água subiu um metro e meio. Esse complexo abriga 6.000 presos”, justificou. Ele garantiu que nenhum preso do regime fechado será solto, mesmo que o nível das águas suba ainda mais.

Dos 250 presos do semiaberto que deixaram a prisão, segundo Viana, 32 voltaram para a casa penal no dia seguinte simplesmente porque não tinham para onde ir. “É bom deixar claro que esses detentos já saíam da cadeia todos os dias para procurar emprego ou para trabalhar. A gente só os mandou para casa e voltarem quando as águas baixassem”, comentou o secretário. Viana ressaltou ainda que essa soltura em massa foi autorizada pela Justiça.

O ideal seria que todos os presos deixassem a cadeia com tornozeleira eletrônica. No entanto, o sistema de monitoramento via satélite do Centro de Tecnologia da Informação do RS (Procergs) ficou fora do ar e ainda opera com oscilações por causa de pane na internet na rede de energia elétrica. “As tomadas não estão funcionando. Logo, nem sempre tem onde eles possam recarregar a bateria da tornozeleira”, explicou Viana.

A população carcerária do Rio Grande do Sul tem quase 43 mil detentos distribuídos em 150 presídios. Desses, pelo menos uma dezena de casas penais está inundada. A maioria delas recebe água do Rio Jacuí, que chegou a subir 10 metros com o excesso de chuva na região. O grande volume de água estragou computadores da administração das cadeias, destruiu carros usados na condução de presos e danificou até aparelhos de scanner, equipamento essencial para revistar visitas e funcionários do sistema penal.

No meio da crise, o Sindppen fez uma série de críticas à forma como o governo gaúcho vem administrando as cadeias. Os sindicalistas se queixam, por exemplo, que as visitas íntimas não foram suspensas nem no Presídio Estadual de Canoas, onde há cerca de 2.380 detentos. A cidade de Canoas é uma das mais castigadas pelas enchentes, pois há bairros inteiros submersos. “No Rio Grande do Sul, os presos fazem mais sexo do que os policiais penais, pois eles têm dois dias para fazer visitas íntimas”, comentou.

Em meio a crise, o Sindppen fez uma série de críticas à forma como o governo gaúcho vem administrando as cadeias. Os sindicalistas se queixam, por exemplo, que as visitas íntimas não foram suspensas nem no Presídio Estadual de Canoas, onde há 2.380 detentos. A cidade de Canoas é uma das mais castigadas pelas enchentes, pois há bairros inteiros submersos. “No Rio Grande do Sul, os presos fazem mais sexo do que os policiais penais, pois eles têm dois dias para fazer visitas íntimas”, comentou o policial penal Kelpes Velasque, vice-presidente do Sindppen.

Policiais penais indo trabalhar, no RS — Foto: Divulgação/Polícia Penal
Policiais penais indo trabalhar, no RS — Foto: Divulgação/Polícia Penal

O ideal seria que todas as visitas fossem suspensas, segundo a avaliação do sindicato. Isso porque revistar quem entra nas cadeias sobrecarrega os funcionários em momentos de crise como esse, quando alguns policiais penais não conseguem chegar nas cadeias para trabalhar. “O sistema penal no RS opera com um déficit de 50% de policiais”, ressaltou Vasque.

Segundo os dirigentes do Sindppen, os presos do regime fechado estão nervosos, temendo que a água suba e eles não consigam sair das celas. “As penitenciárias gaúchas se transformaram em uma bomba-relógio, com possibilidade até de rebelião”, alertou Cláudio Dessbessell, titular da entidade. Ele acrescentou que parte dos funcionários das casas penais também perdeu tudo com a enchente e agora vive em abrigos. Há casos de policiais penais que cumpriram sete plantões consecutivos porque não puderam ser substituídos por colegas também afetados pela enchente.

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