Segredos do crime
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Segredos do crime

Histórias policiais, investigações e bastidores dos crimes

Informações da coluna

Vera Araújo

Jornalista investigativa há 30 anos e autora de "Mataram Marielle" e "O Plano Flordelis: Bíblia, Filhos e Sangue". Passou por "Jornal do Brasil" e "O Dia"

Em novo trecho do depoimento do assassino confesso, o ex-sargento da Polícia Militar Ronnie Lessa detalha como matou a vereadora Marielle Franco (PSOL) e o motorista Anderson Gomes. O relato faz parte da delação premiada, cuja parte estava em segredo de justiça, mas o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, liberou. Calmo, Lessa relembra o momento em que o Cobalt prata, usado por ele e o compadre, o ex-PM Élcio de Queiroz, emparelha com o Agile dirigido por Anderson, no dia 14 de março de 2018:

" Aí, quando chegou (na esquina da Rua Joaquim Palhares com João Paulo I, no Estácio) e, o rapaz (Anderson Gomes) acelerava e até parecia que estava fugindo; eu pedi ao Élcio pra acelerar, e ele acelerou, e chegamos próximos. E nesse sinal, eles pararam no sinal, nós paramos perto do carro, e eu disparei".

Lessa detalha cuidado para esconder tatuagens

Ao descrever a cena do dia da emboscada aos policiais federais e promotores do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio (MPRJ, Lessa relembrou os cuidados que teve até com a roupa. Segundo ele, provavelmente para esconder as tatuagens nos braços, ele usou um casaco preto antigo pelo avesso para esconder enfeites do agasalho.

"Eu botei uma balaclava e um casaco preto, que tinha duas fitinhas azuis muito fininhas, mas eu botava do lado avesso, ele ficava todo preto".

Viajando no banco traseiro, o assassino confesso explicou que tinha mais mobilidade para atirar tanto do lado esquerdo quanto do direito, principalmente por usar uma prótese numa das pernas. Essa era uma "estratégia", como definiu. Em seguida, preparou a arma, a submetralhadora HK-MP5:

"Preparei a arma, que era só enroscar o abafador, eu sempre dou uma conferida pra ver se a munição está na câmara, se a arma está realmente quente, alimentada e, dali, partimos atrás dela (Marielle), quando eles embarcaram (da saída da Casa das Pretas, na Rua dos Inválidos, até o local da emboscada, no Estácio".

Lessa revela que rota de fuga não foi planejada

Depois do crime, Lessa conta que não havia planejado a rota de fuga. Por isso, coube ao Élcio escolher o caminho até o Méier, onde fica a casa da mãe do ex-sargento reformado.

"Aí não tinha nada programado, é a grande verdade. Eu acho que o Élcio queria subir a Francisco Bicalho, aliás, subimos a Francisco Bicalho (avenida). E exatamente, o Élcio que traçou a rota; subimos a Francisco Bicalho e descemos pela Avenida Brasil em direção ao Méier. Entramos em Bonsucesso, pegamos a Linha Amarela, descemos no Méier, chegamos ali no Engenho de Dentro. Paramos próximo à casa da minha mãe. Nesse ponto, nós paramos o carro, eu tirei a bolsa (onde estava a submetralhadora), botei o “cadeadinho” que ela acompanhava e falei pro Élcio que iria deixa isso na casa da minha mãe. Nós pegamos um táxi e voltamos (para o antigo Bar Resenha, na Barra da Tijuca)".

O delegado responsável pela investigação, Guilhermo Catramby, pergunta à Lessa se havia alguma garrafa de bebida, quando ele entregou a bolsa com a arma para o irmão, mas o ex-sargento reformado diz que não. Lessa diz:

"Não é nem o momento, não dá tempo pra parar pra beber, não. Fica tenso, então não é o momento pra isso. Nós bebemos no Resenha, quando o jogo já estava rolando (Flamengo com o Emelec)".

Capa do audio - Panorama CBN
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