Segredos do crime
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Segredos do crime

Histórias policiais, investigações e bastidores dos crimes

Informações da coluna

Vera Araújo

Jornalista investigativa há 30 anos e autora de "Mataram Marielle" e "O Plano Flordelis: Bíblia, Filhos e Sangue". Passou por "Jornal do Brasil" e "O Dia"

Um dos locais que serviu de ponto de encontro dos suspeitos de matar o advogado Rodrigo Marinho Crespo foi o 15º BPM (Duque de Caxias), na Baixada Fluminense. Segundo relatório sigiloso da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), há provas de que os acusados se reuniram, pelo menos, duas vezes no quartel. Uma das reuniões ocorreu no dia 28 de fevereiro, dois dias após o assassinato do advogado, conforme imagens apreendidas de câmeras de segurança da região.

Até o momento, há três suspeitos identificados e presos. Um deles, o policial militar Leandro Machado da Silva, era justamente lotado naquela unidade na época do crime. A vítima foi executada no dia 26 fevereiro, em plena luz do dia, no Centro do Rio, próximo à sede da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), à Defensoria Pública e ao Ministério Público do Rio. Até o momento, a polícia ainda não identificou o mandante e qual foi o motivo do crime. No início da noite desta segunda-feira, o juiz da 3ª Vara Criminal da Capital, Cariel Patriota, renovou por mais 30 dias a prisão temporária dos três investigados.

Homem identificado pela DHC como Mondêgo, suspeito da morte do advogado, anda em direção ao 15º BPM (Duque de Caxias) — Foto: Reprodução
Homem identificado pela DHC como Mondêgo, suspeito da morte do advogado, anda em direção ao 15º BPM (Duque de Caxias) — Foto: Reprodução

Embora o PM Machado negue em seu depoimento à polícia a existência dos encontros, os investigadores da DHC descobriram que, em 28 de fevereiro, os suspeitos, Eduardo Sobreira Moraes e Daniel Mondêgo de Souza, estiveram na Travessa Paulo Vieira, em Duque de Caxias, por duas vezes. Numa delas, eles estacionaram o veículo Gol, placa RKS-6H29, usado no monitoramento do advogado. A via é justamente a que dá acesso ao 15º BPM.

Homem identificado como Mondêgo (camisa azul e boné), suspeito do crime,  com alguém dentro do quartel da PM de Caxias — Foto: Reprodução
Homem identificado como Mondêgo (camisa azul e boné), suspeito do crime, com alguém dentro do quartel da PM de Caxias — Foto: Reprodução

Sobreira e Mondêgo chegaram às 8h47, sendo que só o último saiu do carro, conforme o registro de câmeras de segurança da rua. Sobreira, de acordo com os investigadores, além de ter monitorado a vítima, atuou como motorista de Mondêgo. Segundo o relatório da Polícia Civil, a análise do GPS do Corolla usado pelo PM Machado, placa LMV-ED68, no mesmo dia 28 de fevereiro, revela que o carro também estava no mesmo lugar, às 8h57, ou seja, ele pode ter chegado com 10 minutos de atraso.

Travessa Paulo Vieira, que dá acesso ao 15º BPM (Duque de Caxias), imagem do Google — Foto: Reprodução Google Maps
Travessa Paulo Vieira, que dá acesso ao 15º BPM (Duque de Caxias), imagem do Google — Foto: Reprodução Google Maps

Em trecho do relatório da DHC, assinado pelo titular da especializada, Alexandre Herdy, e pelo encarregado do inquérito, delegado Rômulo Assis, é enfatizado que: "É certo que esse encontro se deu com alguém envolvido no homicídio do advogado Rodrigo Marinho, provavelmente, com Leandro Machado, já que, àquela altura, o caso estava gerando homérica repercussão midiática, e certamente, preocupava todos os que o praticaram".

Pelas imagens arrecadadas pelos investigadores da DHC, é possível ver uma pessoa parecida com Mondêgo conversando com alguém, no interior do quartel de Duque de Caxias. De acordo com a DHC, o suspeito deixa o 15º BPM às 9h08. Em depoimento à polícia, ao ser questionado pelos agentes e ser confrontado com as imagens, Sobreira confirmou que esteve no quartel por ordens de Mondêgo.

Leandro Machado da Silva, policial militar suspeito de envolvimento na morte do advogado Rodrigo Marinho Crespo, se entrega na Delegacia de Homicídios da Capital — Foto: Fabio Rossi / Agência O Globo
Leandro Machado da Silva, policial militar suspeito de envolvimento na morte do advogado Rodrigo Marinho Crespo, se entrega na Delegacia de Homicídios da Capital — Foto: Fabio Rossi / Agência O Globo

A polícia descobriu outro encontro ocorrido à tarde, no mesmo dia, no entanto, não houve registro de imagens. Os investigadores conseguiram chegar aos dados pelo GPS dos veículos usados pelos suspeitos Sobreira e Machado, alugados na mesma locadora onde o PM tem registro. É nesta mesma agência de locação que Vinícius Drumond, vice-presidente da Imperatriz Leopoldinense e filho do bicheiro Luiz Pacheco Drumond, o Luizinho, já morto, aluga seus carros. Segundo uma testemunha ouvida pela polícia, Machado foi apresentado por Vinícius a um dos sócios da locadora.

Eduardo Sobreira Moraes e Daniel Mondêgo de Souza já tiveram cargos na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), que não informou quem os indicou. Mondêgo, que estava nomeado na Casa desde 2019, foi exonerado a pedido no dia 29 de fevereiro deste ano, apenas três dias após o crime. Na sua vaga, no Departamento de Patrimônio, foi nomeado, no mesmo dia, Sobreira. Após a revelação, pela Delegacia de Homicídios da Capital, de que ele era suspeito de participação na execução, a nomeação foi anulada antes que ele tivesse tomado posse.

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