Saideira
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Mostramos para vocês as melhores pedidas de programas no Rio de Janeiro.

Informações da coluna

Marina Gonçalves

Do subúrbio à Zona Sul, do rock ao samba, da praia ao boteco, não importa: o Rio é o meu lugar. Com saideira, de preferência.

Cláudia Meneses

Cláudia Meneses é uma jornalista apaixonada por vinhos, caminhadas e o Rio de Janeiro. É sommelière pela ABS-RJ e nível 2 da Wine & Spirit Education Trust.

Por Cláudia Meneses

Champanhe ícone da Maison Veuve Clicquot, a safra 2015 de La Grande Dame (preço médio de R$ 2.000) chega ao mercado brasileiro, após oito anos de amadurecimento nas caves da vinícola francesa. O espumante é feito com a tinta Pinot Noir (mais de 90%, em um corte com Chardonnay), a uva preferida de Madame Clicquot, uma das grandes mulheres da história do vinho mundial. “Nossas uvas tintas dão origem aos melhores vinhos brancos”, costumava dizer. A edição é limitada.

— Madame Clicquot amava Pinot Noir e o potencial desta variedade. Comprou várias parcelas desses vinhedos. A Maison Clicquot continua essa tradição. Uma das assinaturas da casa é a Pinot Noir majoritariamente na marca, nos champanhes. É uma uva complexa. Não é fácil trabalhar com ela no vinhedo. Mas quando se tem sucesso, é incrível. Tem grande potencial de envelhecimento. Por isso, podemos criar um vinho espetacular como La Grande Dame — explica o enólogo Emmanuel Gouvernet, de 28 anos, em entrevista exclusiva ao GLOBO durante visita ao Rio de Janeiro.

O enólogo Emmanuel Gouvernet — Foto: Divulgação
O enólogo Emmanuel Gouvernet — Foto: Divulgação

Gouvernet acrescenta que esse champanhe é feito com uvas vindas dos melhores vinhedos da maison:

— La Grande Dame é primeiramente a expressão muito importante do terroir. Nós usamos apenas oito parcelas históricas para criar esse champanhe. Madame Clicquot os comprou há 200 anos e por isso são históricos. São Verzenay, Verzy, Ambonnay, Bouzy, Ay, Les Mesnil, Le Mesnil-sur-Oger e Cramant. São parcelas pequenas, com 0,5 hectare e 3 ou 4 hectares. São muito importantes porque são grands crus, ou seja os melhores solos, o melhor terroir — descreve o enólogo.

Além da expressão do terroir, Gouvernet explica que esse champanhe é reflete uma grande safra. La Grande Dame é elaborado apenas em anos excepcionais.

— Antes de 2015, fizemos o 2012. Não houve em 2013 nem 2014 porque as condições climáticas não foram muito boas para estas parcelas naqueles anos. Há champanhes safrados em outras casas naqueles anos, porque elas têm vinhedos em outras áreas.

Gouvernet destaca que choveu pouco na primavera de 2015, mas foi o suficiente para garantir uma reserva de água no solo para a videira. Em junho, julho e agosto daquele ano, foram registrados dias ensolarados e secos:

— Foi um verão seco, mas não demais. Bem equilibrado. Nós começamos a colher as uvas na primeira semana de setembro, quando o equilíbrio entre a acidez e a maturidade estava perfeito. La Grande Dame é uma cuvée de prestígio, e a acidez é importante para que envelheça muito tempo. Podemos degustá-lo hoje ou daqui a 30 anos graças à acidez.

O enólogo descreve as notas que serão encontradas no espumante, como de frutas como pera, maçã, abacaxi e lima.

— Percebem-se aromas de frutas brancas e exóticas. Depois de 2 ou 3 minutos, encontramos gengibre ou toques herbáceos de alecrim, eucalipto e menta, além de especiarias como pimenta-branca. Na boca, temos frescor, mineralidade e salinidade, o que é importante para La Grande Dame.

La Grande Dame: uvas de vinhedos grands crus — Foto: Divulgação
La Grande Dame: uvas de vinhedos grands crus — Foto: Divulgação

Segundo Gouvernet, em 10 anos, serão percebidos outros aromas em uma “segunda janela”, como avelã, brioche, pão, manteiga:

— O efeito do passar o tempo é muito importante, e teremos outro vinho em 10, em 20 e em 30 anos, com aromas terciários.

É a 24ª edição desde o lançamento de La Grande Dame. As safras foram: 1962, 1964, 1966, 1969, 1970, 1971, 1973, 1975, 1976, 1979, 1983, 1985, 1988, 1989, 1990, 1993, 1995, 1996, 1998, 2004, 2006, 2008, 2012 e 2015.

Personagem lendária no mundo do vinho

Madame Clicquot: criadora de um império do champanhe — Foto: Reprodução
Madame Clicquot: criadora de um império do champanhe — Foto: Reprodução

O enólogo enfatiza que esse champanhe faz jus à memória de Barbe-Nicole Clicquot, reconhecida por suas criações que mudaram a produção dessa bebida no século XIX:

— Madame Barbe Ponsardin foi muito importante para o mundo da enologia. Em 1810, ela criou seu primeiro champanhe safrado. Em 1816, ela inventou a primeira mesa de remuage, uma técnica ainda usada hoje, para que o champanhe ficasse claro. E por quê? Porque ela creditou que, para o mercado, era melhor ter um champanhe transparente e não turvo. Ela criou o método de deixar as leveduras irem para a boca da garrafa e depois fazer o dégorgement. As lias saem, e temos um champanhe claro. Depois, colocamos a rolha. Graças a esta técnica, ela exportou o primeiro champanhe na Europa, para Itália e Rússia. Exportar foi uma revolução naquela época.

Ele lembra que, dois anos depois, em 1818, Madame Clicquot produziu o primeiro champanhe rosé blend:

— Foi muito importante porque, antes, o rosé era feito com uma infusão de frutas vermelhas para dar cor. O gosto era ruim. E ela buscava qualidade. Teve então a ideia de criar um vinho tinto com Pinot Noir, como na Borgonha. Antes, só se fazia champanhe com vinho branco. Ela fez o vinho branco e adicionou cerca de 10 e 12% do tinto. Depois adicionou açúcar para a segunda fermentação. Foi um sucesso. Agora, em Champagne, cerca de 90% do rosé é criado com esse método — descreve.

Coleção de seis caixas

La Grande Dame: caixas colecionáveis criadas pela designer italiana Paola Paronetto — Foto: Divulgação
La Grande Dame: caixas colecionáveis criadas pela designer italiana Paola Paronetto — Foto: Divulgação

La Grande Dame 2015 ganhou uma coleção de seis caixas de presente assinada pela designer italiana Paola Paronetto. As caixas foram produzidas na França e têm 60% de cânhamo em sua composição, 20% de algodão e 20% de outras plantas. Paola aposta na reciclagem de materiais e uso consciente de recursos. A embalagem foi feita com um terço do impacto de CO2 em comparação com a anterior, o que representa 230 toneladas de CO2 por ano.

— Paola divide os mesmos valores que a maison, como uma mulher preocupada com o futuro do planeta, com a sustentabilidade, além da excelência. Ficamos orgulhosos da parceria — diz Emmanuel Gouvernet.

O enólogo explica que a Veuve Clicquot vêm tomando medidas para reduzir a pegada de carbono e pretende cortar as emissões em 50% em três anos:

— Somos audaciosos, como Madame Clicquot era. O céu é o limite. É um grande desafio e grande parte do meu trabalho é inovar. Temos um grande projeto, como a redução do peso da garrafa. Os testes estão indo bem e, em 5 anos,6 anos, estarão no mercado.

Já para diminuir o consumo de energia e de água, foi construída uma nova vinícola, com tecnologia de ponta:

— Usamos energias renováveis, como a solar, além de menos água na elaboração do vinho. Em 2019, foram aproximadamente 3,4 litros de água para produzir uma garrafa durante todo o processo. Nosso objetivo é chegar a 2,6 ou 2,4 litros de água por garrafa.

A maison tem 390 hectares de vinhedos, dos quais 60 são orgânicos, embora não sejam certificados. Esse total deve crescer nos próximos anos. Emmanuel relata que um de seus desafios é buscar a mínima intervenção nos vinhedos:

— Meu desafio é reduzir o input nos vinhedos.e nos vinhos, reduzir os sulfitos. Reduzir inputs para criar a melhor uva. É um grande desafio essa diminuição de input e impacto não apenas pela técnica, mas pela mentalidade. Estudamos muito sobre isso, mas temos que mudar a mentalidade e a maneira de pensar de pessoas da indústria do vinho em geral. A nova geração na indústria do vinho, eu e meus colegas, estamos conscientes dessa problemática. Precisamos de tempo, mas pensando em 3 anos, 5 anos, passo a passo, vamos conseguir.

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