Receita de Médico
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GERADO EM: 21/06/2024 - 04:30

Desafios da adolescência: saúde e políticas públicas.

A adolescência é uma fase crucial para a saúde dos jovens, com desafios que vão desde o acesso a tratamentos especializados até hábitos saudáveis e apoio emocional. A transição para a idade adulta requer políticas públicas integradas e investimento em pesquisas para garantir um futuro saudável para essa população.

A adolescência é uma fase marcada por intenso crescimento físico e mudanças biológicas, psicológicas e socioculturais. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, respaldada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), adolescentes têm entre 10 e 19 anos e 11 meses, representando cerca de 14% da população brasileira. Como a conectividade cerebral continua em desenvolvimento até o final da terceira década de vida, com repercussões no córtex pré-frontal, relevante para funções como atenção, comportamento e julgamento, o conceito de adolescência em alguns países vai além dos 20 anos.

Entre 12% e 20% das crianças e adolescentes globalmente enfrentam condições crônicas complexas, sobrevivendo graças aos avanços da ciência, sobretudo na área da reabilitação e novos tratamentos, como imunobiológicos, terapias celulares e transplantes, muitos já oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A questão é a distribuição equitativa e sustentável de novas drogas de alto custo, sendo crucial criar mecanismos para evitar a judicialização.

Outro ponto crítico no Brasil é o acesso limitado dos adolescentes com condições crônicas complexas aos serviços terciários no SUS, geralmente restritos a hospitais universitários e a centros especializados. Nesses locais, ao longo de três décadas, consolidaram-se as especialidades pediátricas, relevantes para a formação de novos profissionais e pesquisas multicêntricas. Estudos do Instituto da Criança e do Adolescente do Hospital das Clínicas da FMUSP evidenciaram que 16.237 crianças e adolescentes apresentam essas condições, totalizando 84.671 consultas, 7.664 hospitalizações e 9.735 visitas à emergência. Esses pacientes (46% adolescentes) são acompanhados em 23 especialidades distintas, sendo que 12% necessitam de atendimentos por três ou mais especialistas, devido à gravidade e acometimento multissistêmico.

O atendimento também enfrenta desafios peculiares à faixa etária, com fatores de risco que podem impactar a saúde dos adolescentes, tais como: hesitação vacinal, uso excessivo de mídias eletrônicas, transtornos psiquiátricos, situações de violência, uso de armas, baixa aderência ao cinto de segurança no trânsito e capacete para ciclistas e motociclistas. A adolescência é ainda uma fase crítica para a experimentação de hábitos alimentares e esportes, uso de substâncias lícitas/ilícitas e início da atividade sexual, com risco de infecções sexualmente transmissíveis e gravidez não planejada. Assim, programas de contracepção são essenciais para todos, incluindo adolescentes em uso de medicamentos com potencial de teratogenicidade (causando defeitos congênitos no embrião ou feto). É fundamental também apoiar as diversas identidades e orientações sexuais no grupo LGBTQIAPN+.

Outro problema é o encaminhamento compulsório entre 17 e 19 anos das clínicas pediátricas para as de adultos. Uma transferência abrupta pode resultar em danos como ansiedade, falta de confiança nos novos profissionais e baixa adesão ao tratamento, e, portanto, a transição precisa ser planejada e gradual.

É imperativo que políticas públicas, sistemas de saúde e programas educacionais se alinhem para promover ambientes seguros e inclusivos, que incentivem hábitos saudáveis e ofereçam suporte emocional e psicológico. A adoção de tecnologias emergentes, como a telemedicina e aplicativos de saúde, pode revolucionar o acesso e a qualidade dos serviços, garantindo que todos os adolescentes recebam o cuidado necessário. Além disso, é essencial investir em pesquisa contínua para entender melhor as mudanças sociais e biológicas que afetam essa população. Com um compromisso coletivo e uma visão orientada para o futuro, podemos construir uma base sólida para que os adolescentes de hoje se tornem adultos saudáveis amanhã.

Colaborou Clovis Artur Almeida da Silva, professor titular do Departamento de Pediatria da FMUSP - Área de Medicina dos Adolescentes.

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