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O ritmo da opinião pública

Informações da coluna

Vera Magalhães

Jornalista especializada na cobertura de poder desde 1993. É âncora do "Roda Viva", na TV Cultura, e comentarista na CBN.

Pablo Ortellado

Professor de Gestão de Políticas Públicas na USP

Por — Rio de Janeiro

A primeira pesquisa Quaest sobre as eleições municipais em Belo Horizonte, divulgada nesta terça-feira, mostra um cenário de indefinição na capital mineira. O deputado estadual e apresentador licenciado do programa Balanço Geral Minas Gerais, da Record TV, Mauro Tramonte (Republicanos) lidera com 25% das intenções de voto. Em seguida, o prefeito Fuad Noman (PSD) e outros cinco pré-candidatos aparecem tecnicamente empatados.

Deputado estadual e nome do bolsonarismo na cidade, Bruno Engler (PL) tem 11% dos votos, mesmo percentual do ex-deputado estadual João Leite (PSDB). Como a margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou menos, Engler e Leite estão empatados com o prefeito Fuad Noman, a deputada federal Duda Salabert (PDT), o senador Carlos Viana (Podemos) — que pontuam 9% cada — e com o pré-candidato do PT, Rogério Correia, que tem 6%. Entre os citados, João Leite vem indicando que não irá concorrer.

A pesquisa Quaest foi realizada entre os dias 5 e 8 de junho entre eleitores de Belo Horizonte. Foram realizadas 1.200 entrevistas.

Apesar da liderança de Tramonte, a pesquisa espontânea, quando não é apresentada uma lista de nomes, reforça o cenário de indefinição na capital de Minas Gerais. São 87% os eleitores sem o nome de um pré-candidato na ponta da língua.

Fuad assumiu a prefeitura em março de 2022, quando Alexandre Kalil (PSD) deixou a gestão para concorrer ao governo do estado, e terminou derrotado pelo governador Romeu Zema. Embora tenha sido vice de Kalil, a maior parte dos votos do ex-prefeito hoje não migram para o atual. Segundo o levantamento, apenas 12% dos eleitores que escolheram Kalil, em 2020, revelam intenção de eleger Fuad.

Bem avaliado na capital, Kalil ainda não decidiu quem irá apoiar no pleito deste ano. Ao GLOBO, em entrevista concedida há duas semanas, o ex-prefeito afirmou que não deve apoiar seu antecessor.

— Fuad não está bem nas pesquisas e já está apoiado pelo presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco. Gestão cada um tem a sua: ele trocou todas as secretarias, tem um comando próprio. Nunca tivemos problemas, tenho um péssimo ou bom hábito de sair da cadeira e não olhar para trás. Nunca quis mandar na prefeitura desde o momento que saí dela — declarou Kalil.

A pesquisa Quaest aponta que 48% dos belo-horizontinos não conhecem o atual prefeito. Entre os que afirmam conhecer Fuad, 26% dizem que poderiam votar nele e 25% rejeitam a possibilidade.

São 32% os eleitores de Belo Horizonte que consideram o trabalho do prefeito positivo e 38% o definem como regular. A percepção negativa é de 18%. Neste contexto, o prefeito se diz "animado" com os resultados divulgados.

— Ainda é muito cedo, até mesmo porque o número de indecisos ainda é muito grande. A pesquisa me anima muito por mostrar o reconhecimento de nosso trabalho. Seguirei "prefeitando" para melhorar, cada dia mais, a vida das pessoas de Belo Horizonte — defendeu Fuad.

Ao GLOBO, Tramonte afirmou receber com "humildade" o resultado do levantamento, que o mostra na liderança:

— Pesquisa é só um retrato do momento. Fico feliz com o carinho da população de Belo Horizonte mas recebo a notícia com muita humildade e garanto que não vou me acomodar em cima de números — disse Tramonte, que completou: — A caminhada está só no começo.

Já Carlos Viana diz ver o resultado da pesquisa com cautela:

— A única constância que vemos é que 8 em cada 10 pessoas ainda não sabem em quem votar, por isso aguardo com cautela. Tenho o desejo de construir uma BH que ouça as pessoas e resolva os problemas.

Negociação à esquerda

Pré-candidata do governador Romeu Zema, a ex-secretária de Planejamento e Gestão Luísa Barreto (Novo) atinge 1% das intenções de voto. O ex-vice-governador Paulo Brant (PSB) também pontua 1%. Na semana passada, ele anunciou que será vice do presidente da Câmara Municipal de Belo Horizonte, Gabriel Azevedo (MDB), que soma 2%.

Apesar do anúncio oficial, o acordo parece não ter sido costurado com o PSB na esfera nacional, que ainda estuda uma aliança com Rogerio Correia, que é apoiado pelo presidente Lula (PT), em uma frente ampla de esquerda na cidade.

Correia já anunciou que irá unir candidaturas com a deputada estadual Bella Gonçalves (PSOL), que tem 2% dos votos, e tenta atrair Duda Salabert. A pedetista angariou o apoio de Ana Paula Siqueira (Rede), que marcou 1%.

Ao GLOBO, Duda Salabert defendeu que seu nome é o mais viável da esquerda:

— Toda vez que tem uma pesquisa eleitoral séria, apareço como o nome mais viável do campo democrático para as eleições. Isso pra mim é motivo de muita alegria, mas também de muita responsabilidade.

Voto entre evangélicos

No segmento evangélico que, no Censo de 2010, já representava 25% da população de Belo Horizonte, Mauro Tramonte se distancia dos adversários, ainda segundo a pesquisa Quaest. O apresentador ficou 16 anos no ar na Record TV, emissora que pertence ao bispo Edir Macêdo, fundador da Igreja Universal do Reino de Deus. Sua licença ocorreu agora, no fim de maio, para disputar o pleito. Segundo a legislação eleitoral, candidatos não podem apresentar programas de televisão nos meses que antecedem a disputa.

Entre os eleitores evangélicos, Carlos Viana aparece com 15% das intenções de votos. O parlamentar é presidente da bancada evangélica no Senado Federal e pertence à Igreja Batista.

Os piores desempenhos entre os pré-candidatos que mais pontuaram na pesquisa de forma geral estão na esquerda: Duda Salabert, com 2%, e Rogério Correia, com 3%. Os índices ficam abaixo do percentual de indecisos, que representam 5%.

— O nosso programa para a cidade, de avanço social, vai nos aproximar dos evangélicos. Vamos mostrar que não existe preconceito e que aqueles que usam a questão religiosa para votos, estão usando de má fé — diz Correia.

O desempenho da pedetista e do petista no segmento reflete uma dificuldade ampla da esquerda entre os evangélicos, que, nas eleições presidenciais, preferiram o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), segundo pesquisas eleitorais.

Segundo turno

Em um eventual segundo turno, o atual prefeito de Belo Horizonte só não seria derrotado se concorresse contra o bolsonarista Bruno Engler. Neste cenário, os dois aparecem empatados com 31% das intenções de voto cada.

Já Tramonte sairia vencedor em todos os cenários em que aparece na lista de candidatos. Contra Carlos Viana teria 49% versus 24%; contra Bruno Engler, 55% a 19%; contra o atual prefeito, 53% a 25%; contra Duda Salabert, 59% a 21% e contra Rogério Correia, 60% a 17%.

A pesquisa divulgada nesta terça-feira pela Quaest foi encomendada pela Sedek Serviços de Tecnologia e Informação, empresa responsável pelo site Diário do Poder. O levantamento está registrado na Justiça Eleitoral sob o número MG-00125/2024.

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