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O ritmo da opinião pública

Informações da coluna

Vera Magalhães

Jornalista especializada na cobertura de poder desde 1993. É âncora do "Roda Viva", na TV Cultura, e comentarista na CBN.

Pablo Ortellado

Professor de Gestão de Políticas Públicas na USP

Por e — São Paulo

Dentre quatro governadores que surgem como postulantes a preencher a vaga de Jair Bolsonaro na eleição presidencial de 2026, Ronaldo Caiado (União Brasil) é quem tem a maior aprovação interna. De acordo com nova pesquisa da série Genial/Quaest, o governador do Goiás agrada a 86% dos eleitores do estado, contra 12% que o reprovam.

Os índices de Caiado superam os de Ratinho Junior (PSD) no Paraná, de Tarcísio de Freitas (Republicanos) em São Paulo e de Romeu Zema (Novo) em Minas Gerais. O paranaense é aprovado por 79% em seu estado, enquanto 17% o desaprovam. Já Tarcísio agrada a 62% dos paulistas e desagrada a 29%. A taxa de aprovação do ex-ministro de Bolsonaro é a mesma alcançada por Zema, mas o governador mineiro tem índice de reprovação numericamente superior, de 31% — estatisticamente, trata-se de um empate técnico.

Aprovação de Tarcísio em SP — Foto: O Globo
Aprovação de Tarcísio em SP — Foto: O Globo
Infográfico mostra resultados da pesquisa Genial/Quaest — Foto: Editoria de Arte
Infográfico mostra resultados da pesquisa Genial/Quaest — Foto: Editoria de Arte
Infográfico mostra resultados da pesquisa Genial/Quaest — Foto: Editoria de Arte
Infográfico mostra resultados da pesquisa Genial/Quaest — Foto: Editoria de Arte
Infográfico mostra resultados da pesquisa Genial/Quaest — Foto: Editoria de Arte
Infográfico mostra resultados da pesquisa Genial/Quaest — Foto: Editoria de Arte

Para Felipe Nunes, diretor da Quaest, o bom desempenho desses quatro governadores é resultado de uma combinação entre "identidade" e "gestão":

— Governadores de direita em estados conservadores tendem a ter vida mais fácil pela identidade com as pautas e posicionamentos. A calcificação ajuda a explicar isso. Além disso, no caso de Caiado e Ratinho, eles têm gestão bem-avaliada nos temas centrais (educação, infraestrutura e segurança). Tarcísio ainda no começo do mandato já apresenta bom desempenho na área de infraestrutura, sua agenda tradicional —explica Nunes, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Governadores superam Lula

Os quatro governadores têm em seus estados aprovações superiores à do presidente Lula nessas regiões. Numericamente, o presidente tem desaprovação maior no Paraná (54%) e é mais bem-avaliado em Minas (onde 52% aprovam o governo federal).

Para o cientista político José Álvaro Moisés, professor sênior do Instituto de Estudos Avançados da USP, o fato de que governadores mais à direita no espectro político são mais bem-avaliados que Lula em seus estados é sintoma de um “problema estratégico do governo federal”:

— É evidente que esses governadores estão se apresentando como alternativas ao governo do PT. Eles estão desenhando o modo de administrar as políticas públicas, em particular na área da segurança pública, de modo a confrontar com o governo petista. Se o Planalto não perceber e não ajustar o seu desempenho, o resultado pode ser bem negativo para o Lula.

As avaliações positivas dos goianos em relação ao trabalho de Caiado refletem suas percepções sobre os rumos do estado. São 62% dos eleitores do Goiás os que acham que o estado está “melhorando”, índice que é de 52% entre os paranaenses, e de 36% para mineiros e paulistas — em relação aos seus respectivos estados.

Os maiores trunfos de Caiado, na opinião dos goianos, são nas áreas da segurança pública e da educação, de acordo com a pesquisa. Já os paulistas acham que Tarcísio se sai melhor em relação à infraestrutura e mobilidade. A área mais bem avaliada no governo de Zema em Minas é a educação, também o ponto forte de Ratinho Junior no Paraná, junto à geração de emprego e renda.

Espólio bolsonarista em disputa

Com a inelegibilidade de Bolsonaro determinada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o posto de candidato da direita na próxima eleição à Presidência está em aberto. Dentre os quatro governadores, Tarcísio é o mais próximo ao ex-mandatário, que já fez acenos para tentar levar Tarcísio para o seu partido, o PL.

Já Caiado é filiado ao União Brasil, partido da base de apoio ao governo Lula, mas ainda assim tem se movimentado de olho na eleição presidencial de 2026 e, como mostrou O GLOBO, sondou até marqueteiros e empresas de pesquisa. Nos últimos meses, Caiado intensificou os acenos ao eleitorado de direita, numa tentativa de abocanhar o espólio do ex-presidente, com quem ainda carrega rusgas pelo rompimento durante a pandemia de Covid-19.

Em fevereiro, numa tentativa de reaproximação com o bolsonarismo, Caiado marcou presença no evento pró-Bolsonaro na Avenida Paulista, em São Paulo. Diferentemente de Zema, que teve uma participação mais discreta, Caiado circulou pelo trio elétrico onde Bolsonaro se encontrava, acenando para os apoiadores e compartilhando diversas publicações nas redes sociais, incluindo fotos ao lado do ex-presidente e da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. No mês passado, ele viajou a Israel ao lado de Tarcísio para um encontro com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, numa contraposição a Lula, que comparou os ataques de Israel na Faixa de Gaza ao Holocausto.

— Caiado é a grande surpresa da pesquisa. Mesmo sendo governador em um estado com baixa densidade populacional, ele tem alta aprovação, mas também está construindo uma vitrine nacional da política de segurança, bem-avaliada, que ele poderá apresentar ao país. Viabilizar uma candidatura nacional vai requerer mais que isso. Tem que ser liderança conhecida nacionalmente— avalia o diretor da Quaest.

À frente do estado com o maior colégio eleitoral do país, Tarcísio é considerado o principal herdeiro político de Bolsonaro, apesar de seus interlocutores reiterarem que, no cenário atual, Tarcísio deve buscar a reeleição, e não a Presidência.

Apesar dos números positivos para o governador na pesquisa da Quaest, o levantamento revela desafios significativos em duas áreas: saúde e segurança pública, vistas de forma negativa por 32% e 31% dos paulistas, respectivamente. No caso da saúde, Tarcísio já começou a se movimentar ao enviar, para a Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que permite que parte dos recursos da educação sejam remanejados para a saúde. Na segurança pública, o governador tem uma relação de vaivém em relação às câmeras em uniformes de policiais e passou por desgastes com as operações policiais na Baixada Santista.

Ratinho Junior, assim como Caiado, também integra um partido aliado do Planalto, o PSD. O presidente da legenda, Gilberto Kassab, já ventilou o nome do governador paranaense para a disputa de 2026, mas depois recuou e indicou que o plano deve ser postergado para 2030. Internamente, os resultados da pesquisa foram bem-recebidos no governo de Ratinho Junior, que por ora sinaliza ter o interesse de "só pensar na gestão atual" e manter a performance de sua gestão em áreas como a educação, que é bem-avaliada até aqui.

Zema é quem, desse grupo, mais tem se distanciado do bolsonarismo. Diferentemente de Caiado, o mineiro tem buscado atrair o eleitorado mais ao centro, evitando ser tachado de bolsonarista. De acordo com pessoas próximas, Zema não deve se prender às questões ideológicas e vai trabalhar para atingir o eleitor comum a partir de entregas do governo.

A pesquisa Genial/Quaest foi realizada a partir de entrevistas presenciais feitas entre 4 e 7 de abril. Foram ouvidos 1.656 eleitores em São Paulo, onde a margem de erro é estimada em 2,4 pontos percentuais para mais ou menos. Em Minas, foram entrevistadas 1.506 pessoas com 16 anos ou mais, com margem de erro de 2,5 p.p. para mais ou menos. No Paraná, foram 1.121 entrevistas, com margem de erro de 2,9 p.p. para mais ou menos, mesma margem calculada para Goiás, onde a Quaest ouviu 1.127 eleitores.

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