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O ritmo da opinião pública

Informações da coluna

Vera Magalhães

Jornalista especializada na cobertura de poder desde 1993. É âncora do "Roda Viva", na TV Cultura, e comentarista na CBN.

Pablo Ortellado

Professor de Gestão de Políticas Públicas na USP

Por — São Paulo

A maioria da população (74%) avalia que o Supremo Tribunal Federal (STF) “incentiva a corrupção” ao cancelar punições da Lava-Jato a empresas. É o que aponta a pesquisa Genial/Quaest divulgada neste domingo pelo GLOBO sobre como os brasileiros avaliam a operação iniciada há dez anos. Desde setembro, o ministro Dias Toffoli suspendeu R$ 14 bilhões em multas e abriu caminho para empresas que foram alvo da força-tarefa conseguirem enterrar suas condenações.

A pesquisa Genial/Quaest aponta que só 14% pensam o contrário, e 12% não souberam ou não responderam. Essa avaliação predomina entre os que declaram ter votado no ex-presidente Jair Bolsonaro em 2022, com 85%. Já entre os que afirmam terem apoiado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, são 68%.

Posição dos brasileiros sobre decisões do STF — Foto: O Globo
Posição dos brasileiros sobre decisões do STF — Foto: O Globo

No mês passado, Toffoli decidiu sustar os pagamentos do acordo de leniência de R$ 3,8 bilhões firmado pela antiga Odebrecht e atual Novonor com a Lava-Jato. A empreiteira pegou carona em uma ação do grupo J&F, que já havia sido beneficiado com a suspensão de uma penalidade de R$ 10,3 bilhões.

Em setembro de 2023, em outro processo, Toffoli invalidou as provas do acordo de leniência da Odebrecht, no qual a empresa admitiu crimes e forneceu informações que impulsionaram a Lava-Jato. O ministro apontou que houve conluio entre Ministério Público e a Justiça Federal, a partir das mensagens reveladas na Operação Spoofing. O magistrado chamou a Lava-Jato de “armação” e classificou a condenação e prisão do presidente Lula como “um dos maiores erros judiciários da História”.

A Procuradoria-Geral da República (PGR) recorreu da decisão que suspendeu o pagamento da multa da Odebrecht. No recurso, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, defende que não há provas de que a empresa celebrou o acordo após coação e nem que os valores acordados podem ser vistos como “excessivos” porque contaram com a concordância da própria empresa.

Na semana passada, a Segunda Turma do STF adiou a análise do recurso. Os ministros que integram o colegiado decidiram seguir uma proposta feita pelo ministro André Mendonça e aguardar o desfecho da proposta de conciliação feita por ele às empresas que firmaram acordos com o Ministério Público Federal (MPF).

A percepção de que a Corte, ao cancelar punições da operação incentiva a corrupção é maior entre os homens (79%) do que entre as mulheres (70%), nas faixas etárias entre 16 e 34 anos e entre 25 e 59, ambas com 77%, e entre aqueles que têm ensino superior, mesmo que incompleto (84%), de acordo com a pesquisa Genial/Quaest.

No mês passado, a Transparência Internacional divulgou um ranking relacionado à percepção de corrupção em que o Brasil caiu dez posições. Na ocasião, a ONG apontou medidas do Judiciário, como a determinação de Toffoli de suspender pagamento previsto em acordo de leniência, para justificar a queda.

A Quaest entrevistou presencialmente 2 mil brasileiros de 16 anos ou mais, em 120 municípios, entre 25 e 27 de fevereiro. A margem de erro é estimada em 2,2 pontos percentuais para mais ou menos, para um nível de confiança de 95%.

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